sexta-feira, 4 de abril de 2008

Voltando de Balsas e Grajaú

Estive em Balsas. Participei da consagração episcopal do novo bispo da cidade-diocese, Dom Enemésio. A solenidade foi bem preparada, a acolhida e a hospedagem reservadas aos visitantes foram um verdadeiro primor de eficiência e fraternidade. O medo de todos os presentes era a ameaça da chuva que não se fez de rogada e justamente meia hora antes da celebração caiu copiosamente do céu quase que a "ungir" o novo servo-pastor. Chuva sempre é bênção. Deixa de sê-lo quando se torna enchente e calamidade! A participação maciça das comunidades locais e do interior fez com que a ampla catedral ficasse pequena. Também muitos padres e bispos do Maranhão marcaram presença. À parte alguns normais deslizes a celebração foi chamativa e significativa. Há, contudo, nessas solenidades algo que não me convence. Em determinados momentos aflorava em mim uma estranha sensação de passado, de reminiscências de um antigo e atual triunfalismo eclesiástico, embora contido. Perguntava-me se Jesus teria aceitado vestir aqueles suntuosos paramentos sagrados episcopais...Davam a impressão que se estava assistindo mais a uma investidura de um príncipe do que à disponibilidade pública de "servir" e ser "o último de todos". A igreja católica ainda mantém um ranço principesco e ostentoso, o que é pouco evangélico!
De Balsas fui a Grajaú. Visitei algumas aldeias dos Guajajara. Controlei os trabalhos de ampliação de uma escola que a minha Associação Carlo Ubbiali está promovendo na aldeia Ipu. Faz parte de um acordo-compromisso entre nós e a comunidade indígena local: crair um espaço físico adequado para que a educação escolar indígena seja fonte de renovada identidade, de criatividade, de re-motivação diante dos inúmeros desafios presentes na aldeia-cidade-sociedade. À construção física, embora parcial, se quer ladear a construção intelectual-cultural-humana: projetar o fim da dependência de modelos sócio-culturais alicerçados na ganância, na competição-rivalidade, na esperteza, na falta de ética, visando construir-implementar um projeto político pedagógico específico alicerçado nos valores que moldaram e deram consistência e vida à estrutura social e simbólica dos grupos étnicos-sociais da região: a solidariedade, a comunhão com o todo, a reciprocidade. Um desafio maior do que os seus próprios autores, mas possível de ser SONHADO!

2 comentários:

DEUZAAA disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
DEUZAAA disse...

Amei este texto.Que colocações oportunas e que me fizeram refletir mais alem...que bom que parece que este ranço esta sendo visto e sutilmente criticado...e que maravilha que incomoda no cerne...na raiz...PARABENS