domingo, 30 de novembro de 2008

Advento: vigilantes para prevenir e combater as ameaças à vida

A igreja nos convida a iniciar simbolicamente um novo ano-caminho litúrgico. Longe de ser uma perpétua “repetição mecânica”, a intenção é de caráter educativo: viver e reviver com dobrada intensidade e de forma sempre nova-atualizada as “perpétuas-inéditas dimensões” da vida: a espera-esperança, o nascimento e a morte, o amor e a reconciliação, a injustiça-maldade, a fraternidade-comunidade, ódios-guerras, etc...Tudo o que está profundamente inserido no processo existencial é celebrado! Obviamente, dentro de uma lógica e a partir da ótica do Reino anunciado-testemunhado por Jesus de Nazaré. O ano litúrgico começa justamente com o advento. É sobre isso que vamos refletir!

O evangelho de hoje é como uma manchete, uma espécie de proclama, e dá o tom-sentido do advento a ser vivenciado: Vigiai! É esta vigilância que deve ser bem interpretada. Freqüentemente ela é compreendida e explicada como uma atitude a ser assumida perante uma suposta e próxima chegada de um salvador-juiz que com poder viria para separar os bons dos maus ou para trazer salvação plena para quem soube “vigiar” e se manter fiel nessa espera infindável e imprevisível. O sentido da vigilância, contudo, é outro. É um enérgico chamado de Jesus a seus seguidores a assumirem o papel de guardiães e vigias da integridade física e moral de Israel, ou seja, da humanidade e ...da criação, perante as inúmeras e inevitáveis agressões-invasões. Se pensarmos brevemente no papel de um vigilante ou de um guarda nas pequenas cidades-fortaleza ou prédios da época de Jesus podemos compreender melhor o alcance do “vigiai” de Jesus.
O papel de um vigilante/guardião é ocupar um lugar estratégico de destaque para ter uma visão ampla e privilegiada do entorno; ter ouvidos afinados para saber distinguir ruídos estranhos; saber percorrer sistematicamente o espaço que ocupa para verificar se tudo está bem trancado, que não haja pontos vulneráveis que coloquem em risco a segurança das pessoas e do prédio; saber identificar as tentativas de invasão e o poder de eventuais assaltantes e arrombadores que se aproximam. Tudo isso em vista de ter tempo hábil para alertar as pessoas a fim de que tenham condições de organizar a resistência-defesa ou inibir-debelar com ações preventivas as tentativas de agressão. O vigilante, ao mesmo tempo, sabe identificar os instrumentos-mecanismos internos e pessoas aptas a enfrentar a ameaça externa. Se o vigilante, ao contrário, relaxar a guarda, dormir, permanecer avoado, desligado, ou estiver fora da sua visão privilegiada colocará em risco a segurança-vida de todas pessoas e do patrimônio!
“Vigiai” não é outra coisa a não ser o convite de entrarmos definitivamente em um estado de alerta permanente para prevenir, combater, inibir, evitar todas as inúmeras ameaças e agressões à vida, ao direito, à dignidade, à criação. Ao mesmo tempo, sabermos identificar onde estão aqueles sinais-presença de liberdade, de vida plena, de direito conquistado e respeitado, de salvação, que já existem dentre nós. O perigo é achar que só um milagre de um todo-poderoso salvador externo a nós combata as agressões à vida por nós e sem nós! Nós temos que ser os permanentes vigilantes-salvadores de uma humanidade sempre mais agredida e de uma criação sempre mais ameaçada. Jesus assumiu, na sua época, a sua responsabilidade perante Deus e a sociedade para combater agressões e agressores. Cabe a nós dar continuidade a essa missão. O Jesus cidadão histórico se foi. Ele não vai voltar e nem vai chegar, pois o seu legado sempre esteve entre nós.
Vigilância para a vida e para toda vida!

sábado, 22 de novembro de 2008

Mt. 25,31-46: a prática "administrativa" da realeza cósmica

Se o Jesus histórico voltasse a percorrer os caminhos da Galiléia e os trilhados pelos liturgistas oficiais ficaria profundamente indignado. À sua revelia foi proclamado rei, in memoria, e rei do universo! Justamente Ele que diante das pressões e mobilizações de diferentes grupos que queriam “fazê-lo” rei, fugia com habilidade e se refugiava em lugares desertos, teria que engolir, agora, um título que vai na contramão da sua prática e do seu pensamento.
É evidente que esse título reflete o processo de exaltação e divinização a que o Jesus histórico foi submetido desde cedo por parte dos seus seguidores. Não resgata, contudo, um dos traços predominantes da vida e atuação de Jesus de Nazaré. De fato, o título em si, o de rei, poderia ofuscar, ou até negar, a dimensão profético-pastoral que Jesus exerceu ao longo daqueles poucos anos de vida pública e que, de longe, melhor o define.
Essa festa, como a maioria das festas litúrgicas, deve ser re-interpretada e atualizada à luz da nossa realidade hodierna para que não se perca a intuição original quando da sua criação. A intuição inicial, originária e histórica, reflete um modo de pensar e de interpretar acontecimentos próprios da época e projeta neles as suas expectativas numa dimensão de futuro. Compreender a intuição/justificativa original (fazendo uma adequada hermenêutica) nos permite entrar em sintonia com a história que nos moldou e nos preparou o hoje que vivemos.
Longe de refletir, reproduzir, ou querer projetar/aplicar em Jesus atribuições do sistema de governo (monarquia) que vigorava na época, - e inadequadas para a nossa realidade de hoje - setores da igreja viram nesse título/festa uma forma didática de manifestar o sonho/projeto de administração/comunhão universal e cósmica ao redor dos valores manifestados e vivenciados por Jesus de Nazaré. É como se a igreja dissesse ao mundo/cosmos de hoje: em contraposição a quantos lutam, fazem guerras, exploram, conquistam, dominam, destroem e arrancam para se tornarem senhores/reis do universo, nós proclamamos que esse “habitat cósmico” pertence àqueles que sabem respeitar, defender, proteger e servir como Jesus de Nazaré, o bom pastor/servidor.
Com essa festa a igreja se contrapõe a todos os senhores, mercadores e neo-colonizadores cósmicos, que ameaçam e negam a vida de tantos seres vivos, mediante a afirmação/entronização da prática evangélica (julgamento da história, aqui e agora) da solidariedade e do serviço gratuito. Na igreja de Jesus de Nazaré para preservar o universo/cosmos e fazê-lo reviver, das investidas destruidoras dos aspirantes ambiciosos a autárquicos monarcas, só acolhendo o faminto, o sedento, o desprotegido, o abandonado, o desesperado....e os seres em extinção!
Viva a BIOCRACIA CÓSMICA!

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Batismo entre os indígenas: um novo sentido de pertença

Nas visitas e andanças pela região de Grajaú e Barra do Corda percebo como continuam vivas e insistentes as demandas indígenas por batismo. Sempre olhei com certo temor quaisquer solicitações indígenas que, a meu aviso, significavam “deturpação ou introdução externa indevida” de elementos culturais não próprios. Talvez essa seja a parte mais delicada e polêmica no meu trabalho junto aos povos indígenas principalmente diante da minha convicção e reafirmação do princípio de respeito pela cultura, identidade e religião indígenas.
Entretanto, não há como negar que manifestações e ritos da religião católica foram histórica e estruturalmente incorporadas e re-significadas por vários setores indígenas exigindo, hoje, uma sua explicitação e continuidade. Sua negação seria uma repetição das históricas formas de exclusão e discriminação cometidas pela igreja católica ao longo de vários séculos. O batismo, por exemplo, se inicialmente foi praticado de forma compulsória por jesuítas e capuchinhos da região, hoje ele manifesta a pertença dos indígenas à totalidade da sociedade brasileira, sinal de inclusão, embora com manifestações específicas. Sem falar no poder liberatório e acumulativo que este sacramento possui para a maioria dos indígenas. De um lado libera de tudo o que não presta e, do outro, ao não se contrapor com outras práticas próprias, ajuda a acumular força espiritual, conhecimento e reconhecimento público de uma dignidade humana que era colocada sob suspeita sem o batismo católico. Longe de querer se contrapor às investidas sempre mais agressivas das igrejas evangélicas e pentecostais, uma inserção inteligente, respeitosa e recuperadora de novos e velhos sentidos nesse campo, poderá colocar o dedo numa ferida que ainda continua aberta: a sede de vivenciar o sagrado que com o contato com o colonizador católico ficou fragmentado e ameaçado.
Nesse sentido acho que se torna urgente uma nova presença evangélica junto aos povos indígenas para resgatar e integrar o sagrado difuso que está em cada pessoa e povo, num espírito de diálogo e comunhão que nos enriquece e nos motiva reciprocamente. Não há como se trabalhar as diferentes dimensões da vida junto aos povos indígenas de forma “separada” e assimétrica. No universo indígena tudo está interligado, as partes interferem no todo e, por sua vez, este recria as partes. Da mesma forma, ao debater e enfrentar uma problemática específica não há como não interligá-la com a totalidade. O sentido do sagrado e a sua onipresença no todo são marca indígena registrada. No nosso caso concreto é difícil separar o padre do professor/capacitador, o aliado/amigo do “pa’i”/mediador com o sagrado. Este ano, mais que em outros anos, aceitamos o desafio de assumirmos este perfil “multi-identitário” e trabalharmos de forma explícita, a partir do convite por batismos, a dimensão integradora do sagrado e da prática evangélica da justiça, da gratuidade, da reconciliação, do direito e da paz. Estamos tateando, sem fórmulas e caminhos trilhados. Sem ânsia de conquistar almas e freguesias, sem contraposição ao que já é praticado, mas também sem falsos pudores que podem cheirar a omissão, falta de respeito ás novas sensibilidades indígenas e renúncia prévia a mergulhar no mundo do outro sem medo de se perder e/ou se achar...com ele!

RITO DO BATISMO PARA O POVO GUAJAJARA

Boas vinda e sentido do batismo
A comunidade assume o compromisso de educar a criança segundo os valores que Tupã nos transmitiu e nos valores da cultura do povo Tentehar. Mostrar que o batismo-rito de nomeação sempre esteve presente na cultura Tupi só que mudou com o tempo. O batismo é o momento em que toda a comunidade se compromete a defender a vida e os direitos das crianças segundo o jeito que Deus-Tupã quer.

Canto...................

1. Ato de libertação de tudo o que nos impede sermos uma verdadeira família e um povo unido (reconciliação).
Perguntar o que é que impede e atrapalha o nosso desejo de sermos uma verdadeira família e um povo unido... Deixar falar os presentes......

ORAÇÃO- Ó Deus Pai cheio de amor e misericórdia, nós pedimos a tua força para tirar do nosso meio todas as nossas maldades: a falta de respeito para com as pessoas e a natureza, o medo de defender os nossos direitos, a pouca vontade de assumir o compromisso de produzir fartura e de defendermos a nossa terra e a nossa cultura. Pedimos perdão aos nossos filhos e filhas e te pedimos de nos dar a coragem de estarmos sempre ao lado deles para garantir-lhes saúde, educação, amor, respeito e vida plena.

Passar entre as pessoas com fumaça em uma taça com incenso ou folhas verdes.....como faziam os pajés para afastar o mal.....

2. Apresentação dos afilhados à comunidade e ato de consagração a Deus e ao povo Guajajara.

Perguntar à comunidade o que desejam para a vida e o futuro dos seus filhos e afilhados. Deixar falar as pessoas....

ORAÇÃO – Ó Deus pai de todos os povos da terra, pai de todas as culturas, afastai dessas crianças todo perigo físico e espiritual, toda ameaça à sua felicidade e à sua vida plena. Livrai essas crianças de toda violência, de toda doença, de todo vício e de todo karuara. Fazei que protegidas por Vós e por seus pais e padrinhos possam crescer e se fortalecer no amor ao seu povo, ás suas tradições e língua.
Todos juntos: ASSIM SEJA! Repetir 3 vezes

Com tinta de jenipapo faz-se o sinal da cruz na testa e no peito: Com esse sinal Deus te consagre e te proteja, afaste de ti todo mal, te torne um homem-mulher forte e digno, acolhido e amado pelo seu povo.

Canto indígena

3. Narração do evangelho (batismo que João Batista realizava)

4. Momento do compromisso dos pais e padrinhos.

Motivação breve.............

Pais e padrinhos hoje vocês são convidados a assumir solenemente perante Deus-Tupã, na presença dos vossos afilhados - as e de toda a comunidade indígena o compromisso de proteger, amar, cuidar, defender e educar essas crianças no amor e no respeito. Portanto eu vos pergunto:
(Convidar todos a levantar a mão direita)

  • Pais e padrinhos se comprometem a combater todos os preconceitos raciais que existem na sociedade garantindo para seus filhos e afilhados a defesa de todos os seus direitos?
  • Vocês pais e padrinhos se comprometem a zelar pela saúde e a educação de seus filhos e afilhados?
  • Pais e padrinhos se comprometem perante Deus e a comunidade a educar seus filhos e afilhados a serem pessoas honestas, sinceras, responsáveis e justas?
  • Vocês pais e padrinhos se comprometem em preservar, defender e zelar pela terra mãe do povo Tentehar, sem destruir, sem arrendar, sem desmatar garantindo um futuro digno para seus filhos e afilhados?
  • Pais e padrinhos se comprometem a educar seus filhos e afilhados a não se envergonharem de suas origens e de sua cultura, mas mantendo viva a sua identidade e pertença ao povo Tentehar?
  • Pais e padrinhos se comprometem a oferecer amor e carinho aos seus filhos e afilhados para que nos momentos de provação e angustia possam sentir a vossa presença amiga?

    Oração - Deus, a comunidade e vossos afilhados são testemunhas de tudo o que acabam de prometer. Deus vos ajude nessa missão. Ele vos dará a força e a luz para cumprir com seus compromissos e responsabilidades.

    5. Bênção da água (bacia com cuia, ou se houver um pequeno igarapé próximo... a comunidade se desloca para lá cantando....)

    Ó Deus-Tupã que nos abençoaste com a vida e com numerosos bens como a terra-mãe que produz os frutos e os alimentos para a nossa vida, as chuvas, os rios, as lagoas que matam a nossa sede e fertilizam o solo da terra mãe, as plantas, os pássaros e os animais da floresta que nos garantem o sustento nós te pedimos: abençoai esta água. Fazei que todas essas crianças batizadas por esta água sejam protegidas de todo perigo e de toda maldade, e renasçam para uma vida digna, animadas, corajosas, lutadoras e defensoras de sua família e do seu povo.
    ASSIM SEJA (3 vezes)

    Canto indígena que fala de flores ou animais (fazer comunhão-família com a natureza)

    5. Batismo e rito de nomeação (nome-missão)

    Antes do batismo da cada criança a comunidade é convidada a pronunciar-gritar em alta voz o nome da criança que vai ser batizada. No nome deveria estar manifesta a missão daquela criança, o seu projeto de vida, ou seja, aquilo que deverá ser futuramente. Se tiver o nome indígena pode-se pronunciar os dois.

    Canto...............................

    6. Ato de acolhida e pertença defintiva ao povo Guajajara e à grande família de Deus

    Preparar alguns alimentos da terra (beijou, batatas, farinha, frutas ...) bem cortadinhos que serão abençoados e distribuídos pelos recém batizados, (se tiver condições) ou por seus padrinhos aos membros da sua família e demais convidados. A grande família de Deus da qual essas crianças fazem parte fazem comunhão entre si e se comprometem a partilhar os bens na verdadeira solidariedade e ajuda recíproca.

    ORAÇÃO- Abençoai ó pai esses alimentos, frutos da vossa bondade, da generosidade da mãe terra e do nosso trabalho. Ajudai a cada um de nós a sabermos partilhar tudo o que temos, principalmente com aqueles que precisam mais. Ajudai-nos a não desperdiçar e destruir os vossos bens, mas fazei que saibamos administrá-los com responsabilidade e justiça. Assim seja....(3 vezes)

    7. Rito da luz e bênção final

    Providenciar uma vela grande. Convidar os pais e padrinhos a estender as mãos sobre seus filhos e afilhados....

    ORAÇÃOPais e padrinhos recebam em seus corações a luz que vem de Deus-Tupã nosso Pai. Ela representa a nossa fé no seu amor que nunca abandona os seus filhos. Nos momentos de trevas e escuridão que vocês sejam luz que brilha, aquece e anima. Nos momentos de tristeza e dor que vocês sejam conforto e esperança. Nos momentos de abandono e solidão que vocês sejam fortaleza, apoio. Fazei que seus filhos e afilhados sejam educados como verdadeiros filhos-as da luz. Assim seja.....

    Bênção para os pais e padrinhos
    Bênção para as crianças

domingo, 16 de novembro de 2008

Mt. 25,14-30: Administrando de forma criativa e ousada os bens de todos

A parábola hodierna dominical deve ser lida na ótica do “gerenciamento” do Reino de Deus, ou seja, a forma-modo de Deus governar. A tentação é a de interpretá-la em clave intimista e pessoal: a utilização responsável ou não de qualidades e dons pessoais. Dessa forma estaríamos desvirtuando o sentido e o alcance da parábola que é altamente atual e questionadora. Diante do pouco tempo disponível que possuo tentarei colocar por tópicos a riqueza dessa pérola evangélica.
a) Deus dá um voto de confiança na humanidade para que ela seja a que administre os bens que Ele colocou a disposição de todos. Deus sabe que não pode governar sozinho de forma absolutista. A princípio, ninguém é excluído nesse mutirão administrativo. Todos são chamados a assumir responsabilidades e riscos.
b) Esta distribuição de responsabilidades não ocorre de forma uniforme, homogênea e “igual”. Tão pouco é aleatória. Depende de uma série de critérios e circunstâncias que nem sempre são claros e definidos. Não há, também, dicas claras de como administrar e cuidar desses bens colocados nas mãos da humanidade. Simplesmente, são bens a serem administrados na “ausência-afastamento” do senhor...
c) Só com o retorno do senhor é que se pode compreender o seu conceito-prática de administração. A partir da solicitação da prestação de conta é que podemos compreender o modo de agir do senhor, a saber: 1.Todos os co-administradores são chamados a não deixar parado o patrimônio que é de todos, mas ao contrário aumentá-lo, multiplicá-lo. 2. Todos são chamados a sermos criativos, a assumirmos riscos, a nos expor para que o conjunto de bens seja ampliado e possa atender e beneficiar a um número sempre maior de pessoas. 3. Não há espaço na administração do Reino para aqueles que “conservam” de forma estática bens e funções, que não sabem criar, transformar, ousar, mexer.
d) A parábola é um forte convite a intervir de forma ativa, criativa e ousada na realidade, sem medo de errar, de se expor e transformar de forma afirmativa e produtiva. O conservadorismo administrativo, engessado em normas, leis, cânones, dogmas frequentemente utilizado para manter o “status quo” e a ordem não faz parte da lógica de um Deus que, afinal, sabe que Ele tem as nossas mãos, as nossas cabeças, as nossas capacidades e responsabilidades e consciências para administrar de forma sempre atualizada o reino da vida plena para todos os seres vivos.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Assembléia diocesana de Grajaú: as pastorais sociais, missão de Jesus, prática da igreja. PARTE III

5. Qual a pastoral social que Jesus realizava com essas pessoas e qual a sua metodologia específica para elas?
1. Aproximava-se, tocava e se misturava sem medo de se contaminar, ou seja, sem preconceito, com liberdade interior. Nisso ele rompe com o código religioso de pureza legal e questiona a estrutura social e suas divisões sociais. Ou seja, o lugar desse excluído não é a exclusão. Ele pode estar num outro lugar e isso é possível!
2. Procurava trabalhar a cabeça-psiqué, mostrando que não eram malditas e nem castigadas por Deus por se encontrarem naquela situação, aliás, a sua situação seria uma oportunidade/meio para que a glória de Deus (poder transformador) se manifeste em plenitude. Libertava essas pessoas do complexo de culpa e inferioridade que havia sido produzido mediante a cultura e educação da época.
3. As intervenções de Jesus junto aos marginalizados eram sempre uma forma de provocação/denúncia de alguma omissão ou negligência por parte de algumas categorias religiosas ou políticas dirigentes (curas em lugares proibidos, em dias de sábado, apresentar-se aos sacerdotes, parábolas paradoxais polêmicas colocando em maus lençóis as autoridades...) Era come se Jesus as quisesse responsabilizar social e politicamente.
4. Procurava ir às causas geradoras da exclusão. A viagem e chegada a Jerusalém representa a vontade de Jesus em minar e atacar o centro causador e gerador de toda exclusão e suas as raízes culturais, sociais, religiosas, políticas, jurídicas que justificavam a exclusão social e religiosa. A mudança que Jesus propõe não é só de pessoas ou cargos, mas de estruturas e consciências. Não somente novos modelos/sistemas econômicos e políticos ou jurídicos, mas formas novas de pensar e se relacionar com a realidade e com Deus.
1. Para tanto, Jesus ataca definitivamente o templo porque a verdadeira adoração se dá em espírito e verdade e não numa casa sufocada pelo clientelismo e a corrupção das famílias sacerdotais. 2. Fim do sacrifício/altar, pois o verdadeiro amor a Deus se dá na partilha/mesa com os famintos, pecadores, na comunhão com os sofredores e não nas tentativas de cooptar e manipular Deus. 3. Fim de uma espiritualidade/mística alicerçada num deus juiz/senhor/cobrador, pois Deus é pai misericordioso que faz chover sobre os bons e maus, que não exclui e que convida todos os povos a sentar ao grande banquete onde não precisa ter dinheiro para comer. É, enfim, a inversão radical do sistema de valores e prioridades....Não as normas litúrgicas, os cânones cristalizados e fórmulas petrificadas, mas uma ética de vida, a da integridade física e moral de todos os seres vivos!

Assembléia diocesana de Grajaú: as pastorais sociais, missão de Jesus, prática da igreja.PARTE II

As pastorais sociais-igreja viva procuram seguir e reproduzir, de forma criativa e atualizada o itinerário ético-missionário do guardião-sentinela Jesus de Nazaré. Para provar isso procuro sinteticamente recuperar esse itinerário destacando a sua metodologia e as suas escolhas sociais e humanas e, por isso mesmo, religiosas.

1. A descoberta vocacional de Jesus. Foi a dura realidade social e política em que se encontrava Israel que abriu os olhos a Jesus. Quem o ajudou nessa leitura-análise foi João Batista mediante a sua pregação vigorosa. Israel, segundo João, estava fracassando como nação. As suas contradições o estão levando à falência social, religiosa e política. Era preciso uma rápida e radical transformação de atitudes e relações (conversão-mutação), pois Deus-juiz estava prestes a promulgar a sua sentença definitiva que era de castigo, de condenação. Era preciso, portanto, produzir frutos (de justiça), ou seja, dar de vestir a quem estava nu, repartir comida com quem não tinha, exigir justiça, não utilizar a força e a extorsão... Jesus se identifica com essa visão e aceita o batismo de João. Entretanto, após uma breve convivência com ele, Jesus amadurece uma outra visão e inicia uma nova prática social e religiosa. Rompe com João Batista e volta a Nazaré.

2. Jesus se entende como o profeta da graça, e não da des-graça. Diferentemente de João Batista, em lugar do machado (destruição) e fogo, Jesus proclama o Reino de Deus e não o dos homens poderosos. Jesus muda de lugar social: não o deserto e sim as cidades onde tem gente. Não uma espera estática em que as pessoas correm até ele, mas uma profecia em ação, onde o próprio Jesus corre atrás das pessoas. Não qualquer pessoa, mas, prioritariamente, os impuros, os rejeitados social e religiosamente, os “mikroi” (invisíveis, os microscópicos) que ninguém enxerga e valoriza. Não genericamente as ovelhas, mas “as ovelhas perdidas de Israel”. A proclamação do programa de governo de Jesus na sinagoga de Nazaré sintetiza a totalidade da missão-prática de Jesus...

3. A saída/rompimento com Nazaré/família e ida a Cafarnaum na terra dos impuros (Galiléia). A intuição e explicitação do projeto de Jesus encontra oposição frontal nos seus patrícios e dentre seus próprios familiares. Jesus rompe com o contexto da sua família de sangue/sinagoga/grupo social para se transferir “ao mar dos gentios, na Galiléia das nações”, ou seja, mergulhar no mundo dos pescadores cultualmente impuros e "ser família" com eles!. É nessa Galiléia de impuros, insubmissos e revoltosos, de enormes desigualdades que Jesus começa a identificar e a conviver com os “ novos rostos” de rejeitados e pobres (Aparecida 402)

4. Jesus cria o seu grupo e prova que o período em que Deus vem para governar de forma nova, já iniciou. Os cegos enxergam porque vêem que a esperança não morreu, os coxos e paralíticos se levantam e andam porque recobraram novo vigor e se mobilizam, os escravos são libertados porque não aceitam mais obedecer a leis injustas.... Essa opção-prática de Jesus foi tão clara que as bem-aventuranças e as parábolas manifestam/listam as categorias sociais que Jesus assistiu, serviu e chamou ao longo da sua vida. Mas, por que será que Jesus, que não era um rejeitado social, escolheu os “pequeninos-mikroi”? 1. Eram a maioria em Israel 2. Supunha-se que eles deviam ser os mais interessados numa mudança social e numa libertação integral 3. Eram tradicionalmente os preferidos de Deus 4. por compaixão/amor gratuito, sem maiores explicações. 5. Por que o reino de Deus viria seguramente mediante a prática da justiça e da misericórdia, “na defesa do direito do órfão e da viúva”.

Assembléia diocesana de Grajaú: as pastorais sociais, missão de Jesus, prática da igreja.PARTE I

Em Barra do Corda, Maranhão, no centro de pastoral diocesano foi realizada a assembléia diocesana anual da igreja de Grajaú. Cerca de 100 pessoas entre leigos, padres e religiosas representando 12 paróquias, durante 3 dias (7-9 de novembro) se concentraram e debruçaram sobre o tema-urgência “Pastorais Sociais” na vida e missão da igreja. Foi um privilégio ter podido participar diretamente nos debates e no oferecimento de algumas reflexões sobre um tema que não raramente faz surgir polêmicas e incompreensões dentro e fora da igreja. Vi uma igreja à procura, aberta e disponível a encontrar novos e inéditos caminhos para ser “referência moral” nessa região do sertão maranhense. A convivência com aqueles homens e mulheres dispostos a não abrirem mão da sua esperança me deu a oportunidade de tecer algumas considerações sobre...as pastorais sociais da igreja católica!

A pastoral social é a resposta programática alternativa que Caim deveria ter dado a Deus no jardim do Édem ao ser inquirido por Deus:”Onde está teu irmão-ã”? Na resposta alternativa, em lugar de responder “eu sou por acaso o guardião de meu irmão”, Caim poderia ter respondido:” Eu sou sim, o guardião protetor, o vigia, o zelador, do meu irmão-ã!” Com efeito, as pastorais sociais da igreja católica são a expressão viva e concreta de uma igreja que carrega sobre si a responsabilidade de ser sentinela permanente da sociedade para que nenhuma ameaça, agressão, invasão ao sacrário que é a vida possa atingi-la. Elas são as que “dão o alarme” quando algo ou alguém está querendo atentar à vida em plenitude que cada ser vivo possui como direito inalienável!

É inegável que há setores dentro da própria igreja que acusam essas pastorais de não possuírem uma espiritualidade autêntica e de serem a ponta-de-lança da “teologia da libertação”. Uma teologia que, segundo eles, mais se parece a um conjunto de ensaios sociológicos de cunho marxista do que a uma verdadeira reflexão teológica sobre os fundamentos da fé cristã. Esquecem porque desconhecem a prática do agente missionário Jesus de Nazaré!
As pastorais sociais fincam suas raízes nas entranhas dos anseios e dramas humanos, nos clamores dos pequenos e socialmente invisíveis (os pobres) e da própria criação tão deturpada e ameaçada. Ao mesmo tempo, as pastorais sociais estão alicerçadas na concretude da palavra-testemunho, no Reino-governo novo, em ação concreta, iluminada, planejada e executada pelos profetas, por Jesus de Nazaré e por inúmeros cristãos que acreditam ser possível amenizar a dor humana e devolver a esperança sufocada.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Erexim: o desejo de comunhão para além da morte. Uma história verdadeira



Lembro-me que fiquei muito impressionado quando os índios Ka’apor me contaram, no longínquo 1986, a reação que teve Erexim, ancião Ka’apor da terra indígena Alto Turiaçu, quando da morte da sua esposa. Ao regressar da mata, na primeira parte da tarde, e encontrando já sem vida a esposa, Erexim entrou em um profundo estado de desespero e incontrolada depressão.
Os Ka’apor definem esse estado como sendo “ka’u” (estado de quase loucura). Como é de costume na tradição Ka’apor, a finada foi imediatamente envolvida na sua rede com alguns objetos pessoais e levada a um lugar bastante afastado da aldeia e enterrada numa cova não muito profunda.

Existe ainda hoje a convicção entre aquela etnia de que imediatamente após a morte de uma pessoa a sua primeira alma-espírito – aquela interior que co-existia com o seu corpo – ao se descolar e separar poderia invadir o corpo de uma outra pessoa viva próxima e produzir-lhe a morte. Isso explica a pressa dos Ka’apor em enterrar seus defuntos! Uma vez sepultada, são colocados ao longo dos caminhos da mata galhos de espinhos e outros tipos de arbustos para não permitir que a alma ainda vagante do falecido reencontre o caminho da aldeia e venha a se apoderar de alguém.
Erexim que não havia derramado uma lágrima sequer em ocasião da morte da esposa, embora visivelmente inconsolável, tomado por uma forte dor interior fez um gesto que nenhum índio Ka’apor havia feito até então. Ao entardecer, poucas horas após o sepultamento da esposa, Erexim recolheu a sua rede, algumas cordinhas de buriti, arco e flecha como se preparando para uma grande viagem. O filho Ingua’i logo compreendeu a intenção do velho pai: ele queria ir até o lugar do sepultamento da esposa e lá encontrá-la para comungar o mesmo destino. Erexim havia decidido de morrer como a esposa. Chorando, Ingua'i o suplicava para que desistisse daquele insano pensamento. Erexim, todavia, de forma resoluta, sem falar uma palavra e sem se importar com as súplicas do filho, com o rosto endurecido se dirigiu ao lugar da cova. Ingua’i, mesmo inconformado com tal decisão do pai, desistiu de segui-lo para evitar incorrer no seu mesmo destino. Deixou o pai sair com a certeza de que não o teria nunca mais encontrado vivo.
Erexim ao chegar ao lugar onde estava enterrada a esposa, com o facão que havia trazido consigo cortou duas pequenas plantas, cortou os galhos, afunilou as extremidades e as fincou de um lado e outro da cova. Com as cordas fixou a rede bem acima da cova e deitou nela. Com os olhos entreabertos ficou a esperar a morte. Ela teria chegado sem falta através da segunda alma-espírito da esposa. Aquela alma que com o passar do tempo já se encontrava no universo azul onde mora Ma’ira (o herói cultural dos Ka’apor) mas que, agora, teria tomado posse do corpo de Erexim para que também ele tivesse o mesmo destino que a esposa.
Passados três dias da saída do pai, Ingua’i tomou coragem e decidiu ir até o lugar onde sua mãe havia sido sepultada e onde certamente teria encontrado sem vida o seu velho pai. Ao chegar ao lugar com bastante cautela e titubeante se manteve a uma certa distância da cova. Ficou parado alguns instantes tentando captar algum movimento ou ruídos provindos do lugar da cova. Nada. Aproximou um pouco mais. Agora, ele já podia enxergar seu pai deitado na rede armada bem acima da cova. Ingua’i não alimentava esperança alguma de encontrá-lo ainda vivo. Tentou chamá-lo, timidamente. Nada. Improvisamente ouviu uma tosse seca que provinha de lá. Seu pai continuava vivo! Com mais coragem o chamou novamente. Nada, ele não respondia. Ingua’i permanecendo no mesmo lugar, parado, insistiu em chamá-lo pela terceira vez. Desta vez Erexim, ao reconhecer a voz do filho, respondeu: ”A alma de sua mãe não me quer com ela. Ela quer que eu fique ainda com vocês, talvez para que eu continue sendo pai e mãe para vocês. Vem para cá e me ajude a desfazer os nós das cordinhas da rede. Voltarei contigo para viver e para realizar os sonhos interrompidos e os trabalhos incompletos de sua mãe”. Os dois, em silêncio, retornaram à aldeia. Ao chegarem ninguém disse nada. Todos sabiam que quando uma pessoa querida morre entre os Ka’apor, o desejo de conviver com ela, para além da morte, era algo natural.

Erexim o havia expressado da forma mais radical. Ele jamais se esqueceu da sua querida esposa. Nos seus gestos, nos seus horários fixos, no lugar de se colocar durante as refeições, na hora de sair para caçar ou para apanhar mandioca na roça, tudo fazia como se ainda ao seu lado estivesse a sua inesquecível esposa. O filho e as pessoas da aldeia ao vê-lo agir daquele jeito diziam: “A finada voltou a viver entre nós no corpo do velho Erexim!”

sábado, 1 de novembro de 2008

Erexim: il desiderio di comunione anche oltre la morte.Una storia vera.

Ricordo la forte impressione che aveva destato in me quando mi raccontarono nel lontano 1986, la reazione di Erexin, indio Ka’apor della terra indigena Alto Turiaçu, Maranhão, quando morí la sua sposa. Erexin al ritornare dalla foresta, nel primo pomeriggio, al suo villaggio e trovando la sposa morta entró in un profondo stato di disperazione e depressione incontrollata. I Ka’apor la definiscono come “ka’u” (stato di quasi pazzia). Come vuole la cultura tradizionale Ka’apor, la defunta fu immediatamente portata ad un luogo abbastanza lontano dal villaggio, avvolta nella sua amaca, con alcuni oggetti personali e sepellita. Esiste tutt'oggi la convinzione tra quegli indios che immediatamente dopo la morte la prima anima della persona - quella interiore che co-esisteva con il suo corpo – allo scollarsi e staccarsi da lui potrebbe invadere il corpo di una persona viva vicina e produrgli la morte. Cosí si spiega la fretta dei Ka’apor nel sepellire i loro morti! Una volta sepellito il defunto, lungo i sentieri che portano al villaggio si pongono rovi e spini per non permettere che l´anima ancora vagante del defunto ritrovi il cammino del villaggio e si impossessi di qualcuno. Erexim, che non aveva versato nessuna lacrima, ma inconsolabile e preso da un forte dolore interiore fece un gesto che nessun indio aveva fatto fino a quel momento. All’imbrunire, raccolse la sua amaca, alcune cordicelle e prese la direzione del luogo della sepultura della sua sposa.

Il figlio Ingua’i al capire le intenzioni dell’ anziano padre che andava incontro alla morte in quella maniera decisa, piangendo, insisteva perché desistisse da quell´insano progetto. Erexim, risoluto, senza aprir bocca incurante delle suppliche del figlio, con il volto scovolto si diresse verso il cammino della sepoltura della sposa. Arrivato sul luogo, con il coltellaccio che portava appresso taglió due piccoli alberi, fece due pali e li infiló da un lato e dall´altro della tomba. Con le cordicelle fissó la sua amaca e si stese dentro. Con gli occhi socchiusi aspettó la morte. Sarebbe venuta sicuramente attraverso la seconda anima della sposa. Quell'anima che con il passare del tempo ormai giá si trovava nell’universo azzurro dove abita Ma’ira (l’eroe culturale immortale dei Ka’apor) ma che, ora, si sarebbe apossata di Erexim affinché pure lui avesse lo stesso destino. Il figlio Ingua’i non poteva seguirlo per non incorrere nella stessa sorte. Rassegnato, lasció il padre partire con la certezza che non l´avrebbe piú visto.

Tre giorni dopo Ingua’i si fece forza e decise di recarsi sul luogo dove sua mamma era stata sepolta e dove avrebbe trovato, con certezza, senza vita, l’anziano padre. Arrivando con cautela e temeroso vicino al luogo si fermó. Rimase in ascolto per verificare se giungevano alcuni rumori o movimenti. Niente. Si avvicinó ancor di piú. Senti un colpo di tosse. Suo padre continuava vivo. Prese coraggio e lo chiamó. Niente, egli non rispose. Lo chiamó nuovamente. Questa volta Erexim al riconoscere la voce del figlio gli rispose:” L´anima di sua mamma non mi vuole con lei. Lei vuole che rimanga ancora qui con voi, forse perché continui ad essere padre e madre per voi. Vieni qui ad aiutarmi a sciogliere i nodi delle cordicelle dell’amaca. Ritorneró con te per vivere e per portare a termine i sogni interrotti e i lavori incompiuti di tua mamma”.
I due, in silenzio, ritornarono al villaggio. Nessuno disse nulla. Tutti sapevano che quando muore una persona cara e amata tra i Ka’apor il desiderio di convivere con lei anche oltre la morte era qualcosa di naturale. Erexim lo espressó nella maniera piú radicale e giammai si dimenticó della sua sposa. Nei suoi gesti, nei suoi orari fissi, nel posizionarsi all’ora dei pasti, nel uscire per cacciare o raccogliere la manioca, tutto faceva come se al suo lato ci fosse ancora la sua indimenticabile sposa. Il figlio e le persone del villaggio al vederlo agire da quella maniera dicevano:”La defunta é ritornata a vivere tra noi nei gesti del vecchio Erexim”!
Un omaggio ai nostri cari che vivono in noi e tra di noi, grazie a coloro che continuano ad amarli anche oltre la morte!