segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Uma voz que grita no deserto que somos nós...(Mc. 1,1-8)

“Início do feliz anúncio (de) que é Jesus o ungido, filho de Deus”(Mc.1,1). Com essa rápida, mas densa pincelada teológica Marcos nos oferece, de imediato, a identidade e a missão de Jesus de Nazaré. Antes mesmo de nos dizer o que Jesus irá dizer e fazer ao longo da sua narração teológica afirma que o próprio Jesus, a sua pessoa/ser, é por si só, um alegre anúncio. A simples presença dele, o fato de ele ser/existir é motivo de alegria e esperança renovada para quantos o conheceram, e irão conhecê-lo através do seu escritos. Início genial desse evangelista!
O segundo passo é mostrar as raízes históricas e inspiradoras da prática evangelizadora do profeta Jesus: a pregação de João o Batista. Não há como negar que João deve ter exercido uma influência determinante sobre Jesus no seu processo de compreensão e aceitação da sua missão profética. Desde um ponto de vista histórico, Jesus deve ter tido contatos, embora esporádicos, com o grupo de João o Batista e deve ter ficado muito impressionado com a leitura que ele fazia da realidade de Israel. O seu estilo de profeta penitente e apocalíptico (proximidade da revelação definitiva de Javé), a sua pregação enfatizando a urgência de uma mudança social ("dar uma túnica a quem não tem e repartir comida, bem como cobrar somente o justo, sem praticar a extorsão e a violência e, finalmente, não prender ilegalmente as pessoas" - Lc.3, 9-14 -) encontram eco e aprovação em Jesus de Nazaré. A aceitação do batismo “de água” por meio de João mostra que Jesus também partilhava da sua mesma visão.
O terceiro passo é mostrar o contexto, o lugar social e teológico em que se dá a identificação com a mensagem de João e a compreensão da missão por parte de Jesus: o deserto. O deserto, antes mesmo de ser um lugar geográfico é um lugar teológico e social. De um lado é o lugar da provação (pôr á prova, testar, tentação) e do outro é o lugar em que Deus se revela na...ausência de vida, de água, de vegetação, de gente! É como se João dissesse a Israel que está vivendo num enorme e extenso deserto sócio-existencial. Um país socialmente árido, politicamente estéril, incapaz de produzir frutos de vida e de justiça, devido ás suas desigualdades e à sua incapacidade de dividir os bens com equidade. Entretanto, esse deserto pode se transformar em terra fértil e cheia de esperança se houver uma mudança de mentalidade e de postura (endireitar os caminhos). João desconfia que Israel saiba fazer isso e declara que o julgamento de Deus já foi emitido. O machado o cortará em suas bases!
Quarto passo, o evangelista Marcos, nos diz que há um profeta, maior do que João, que tem a capacidade de “batizar mediante o sopro divino (Mc.1,8)”. Jesus é o profeta escolhido/ungido por Deus e que movido pelo seu sopro está apto a mostrar que Javé (Aquele-que-está-com) nunca se afastou da humanidade, sempre esteve com ela, mesmo quando esta fazia a experiência do deserto, da impotência e da esterilidade de vida. Jesus é aquele que vai provar uma nova criação é possível, que vida pode brotar do pedregulho e da areia do deserto.
Jesus se distanciará de João. Tornar-se-á o profeta-em-ação das cidades habitadas, de quantos acreditam que o deserto está sendo vencido, motivando e mobilizando pessoas, anunciando e provando que o Reino da graça e da vida nova já iniciou. Que a salvação não vem desde fora, mas se constrói desde dentro. Que é construída por aqueles que acolhem o “feliz anúncio que é a pessoa/presença de Jesus de Nazaré, o ungido, filho de Deus!” (Mc.1,1)

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