quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

FSM em Belém: ousar sonhar!

Acabou o nono Fórum Social Mundial. Eu estava lá! Gosto de acreditar que uma nova página da história do planeta foi escrita. Gosto de acreditar que ela está sendo escrita por sonhadores que não aceitam adotar as ambições e os vícios dos que estavam em Davos (Suiça) nos mesmos dias....

Como nas edições anteriores não houve propostas de soluções e receitas milagrosas votadas em conjunto para tornar mais habitável o planeta. Não houve juramento individual para assumir determinados compromissos coletivos para salvar o planeta de um previsível colapso. Houve, entretanto, um princípio inspirador comum que permeou o FSM do começo ao fim: a consciência de que é urgente intervir agora, antes que seja tarde, e isto é possível! O FSM de Belém, em que pesem suas fragilidades organizativas e de conteúdos, reafirmou que é possível continuar a sonhar com um planeta habitado por milhões de seres vivos, assumindo a prática da tolerância positiva e do respeito para com as condições de vida de cada um.
Os inúmeros debates nas tendas temáticas e atividades nas salas da universidade rural (UFRA) e federal do Pará (UFPA) encontravam seu ponto de partida na atual crise financeira, mas não como expressão conjuntural de um sistema econômico contraditório, e sim como manifestação concreta de que estamos numa crise civilizatória planetária. De verdadeira mutação, e não de simples mudança. Isto ocorre em todas as dimensões da vida dos seres vivos: mudanças/mutações climáticas, genéticas, tecnológicas, de pensamento e práticas. As formas irracionais de consumo e arranque de bens socioambientais operadas pelos humanos colocam em risco vários biomas e podem tornar inviável a vida no planeta. Não se trata de mais um modismo conjuntural de alguns grupos ambientalistas, mas de viabilidade biológico-genética, inclusive para a espécie hominídea.
A VALE como exemplo paradigmático de que “tudo vale” para lucrar! No FSM os Missionários Combonianos do Nordeste - de quem faço parte, - em conjunto com outras organizações promovemos um seminário internacional e várias oficinas sobre as ações da Vale, a primeira mineradora mundial de ferro, e segunda no níquel e manganês. Segunda em absoluto, mundialmente. Um gigante na extração de minério que se situa na crosta terrestre, desfigurando o rosto da mãe terra. Analisamos a sua estrutura, as suas atividades, os seus projetos, as suas práticas e abusos. A empresa brasileira, hoje privatizada, é um exemplo palpável do que significa arrancar, transformar, vender, explorar sem ter um mínimo de preocupação com as conseqüências para os seres vivos. Havia pessoas de vários lugares onde a Vale atua: de Moçambique ao Canadá, do Chile ao Rio de Janeiro, de Minas Gerais ao Maranhão-Pará. Não se trata de boicotar as atividades mineradoras, nem tão pouco de inviabilizar qualquer tipo de exploração. Trata-se de planejar uma nova forma de coexistência social em que a centralidade seja dada aos seres vivos e ao seu “bem viver”, e não à sede doentia de produzir, arrancar e lucrar a qualquer custo.
O FSM, enfim, torna-se espaço de aliança sócio-operativa onde não se eliminam as diferenças – ao contrário, valoriza-as – mas busca-se coadunar formas de luta e organização a nível regional e mundial, sincronicamente. Uma nova terra ainda é possível ser gestada! Acreditemos e operemos!
Para saber mais: www.justicanostrilhos.org

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