sexta-feira, 10 de abril de 2009

Sexta feira santa: a "morte política" do profeta galileu

Reproponho a postagem integral publicada no ano passado.
Frequentemente, ao tentar compreender o porquê da morte de Jesus apela-se a diferentes e contraditórias argumentações. Elas refletem o lugar social e cultural (interesses, projetos de vida, informações adquiridas, formação religiosa, etc.) de quem as apresenta: Jesus teria morrido pelos nossos pecados; Ele se ofereceu em sacrifício para nos salvar; Deus mesmo quis que o seu Filho morresse na cruz para expiar os pecados; morreu porque incomodou os grandes; morreu porque blasfemou e expulsou demônios.....Tudo isso reflete a formação religiosa recebida fruto de uma teologia sacrifical, expiatória....e pouco evangélica!

Dificilmente, portanto, essas explicações refletem a procura da "verdade histórica" do que de fato ocorreu nos dias que precederam a sexta feira, e o dia mesmo em que teria ocorrido a sentença fatal. Os relatos evangélicos utilizam em sua grande maioria textos teológicos. Os relatos não são reportagens e sim, aulas de teologia catequética. Isto, porém, não exclui que se possam encontrar elementos e informações históricas confiáveis para compreender o que de fato ocorreu...Outros elementos podem e devem ser buscados e deduzidos a partir de dados, informações históricas e estudos realizados por inúmeras pessoas sobre o tratamento reservado aos "presos políticos" da época de Jesus.

Falamos em "presos políticos" porque se aceitamos como verdadeiro o dado - que parece inconteste - de que Jesus morreu numa "cruz", não cabe dúvida, então, que Ele foi sentenciado pelos romanos e executado por eles. Fica, assim, descartada a responsabilidade material última da morte de Jesus pelo sinédrio (judeus) cuja pena, no caso, seria o apedrejamento!Bastaria isso para não continuar com essas polêmicas e aversão mesquinha de caráter anti-semita responsabilizando os judeus pela morte de Jesus. Morte de cruz - com proibição de retirada dos corpos que deviam ser comidos pelos abutres - significa lição exemplar para aqueles que se revoltam, ameaçam, boicotam, e agem contra a estabilidade, a segurança administrativa dos Romanos. Não nos interessa aqui saber qual foi o grau de participação efetiva do sinédrio, na decisão de sentenciar à morte Jesus. Só nos cabe constatar que Jesus foi condenado pelos romanos e por eles executado e, portanto, é uma morte de caráter político reservada àqueles que atentavam à estabilidade e à segurança nacional.

É difícil historicamente aceitar que o Império tenha se sentido ameaçado por um profeta itinerante cuja fama e prestígio se limitavam a umas poucas aldeias do norte de Israel. É difícil compreender historicamente como o império romano tenha se sentido fragilizado perante "possíveis incitações ao não pagamento de impostos", ou porque Jesus teria "bagunçado a entrada do templo, expulsando, numa ação planejada, vendedores e cambistas", algo específico dos judeus e que não interferia na estabilidade da administração..... É difícil, enfim, aceitar historicamente que Jesus tenha sido condenado porque proclamava um Reino de Deus em oposição ao "Reino de César". À época havia dezenas de pregadores populares afirmando a mesma coisa – sem falar nas expectativas populares - e não por isso se constituíam em ameaças políticas! Então, qual poderá ter sido "o motivo formal da condenação"?

Longe de se constituir numa explicação definitiva, avançamos a hipótese de que Jesus foi sentenciado e morto por "medida preventiva". Ou seja, antes que Ele apronte, que se organize, amplie o leque de ação e consiga mais adeptos, é bom eliminá-lo logo e cortar na raiz uma possível futura ameaça. Uma espécie de "guerra preventiva" à moda Bush! Não se encontram, com efeitos, motivos jurídicos, políticos, históricos que justifiquem a condenação à morte de Jesus "pela cruz". Entretanto, os romanos tinham que possuir um pretexto formal e na sua intolerância para com qualquer tipo de dissidência, associada à sua neurose obsessiva de ver inimigos por todo lado, devem ter achado uma razão de estado aceitável ao retirar do seu meio alguém que poderia ameaçar a sua presença político-administrativa na região... mesmo que esse ‘elemento’ não passasse de um "curandeiro e pregador itinerante acompanhado por um punhado de discípulos iletrados..."

Nenhum comentário: