terça-feira, 30 de março de 2010

SEMANA SANTA: SUBIR A JERUSALÉM!

Subir a Jerusalém. Eis o desafio.

Subir a Jerusalém não é resultado de um destino escrito de antemão, mas o desfecho de uma opção de vida. Não uma predeterminação divina, mas conseqüência de escolhas e decisões tomadas ao longo de uma existência.

Subir a Jerusalém representa a situação-limite para qualquer pessoa que descobre que não pode mais voltar atrás. Porque voltar atrás seria trair a si mesmo. Trair as pessoas que se tem amado.

Subir a Jerusalém não é um mero deslocamento geográfico. É encontrar-se com o sentido último da vida: viver ou morrer. Viver, salvando a própria vida, mas perdendo o sentido de tudo o que se fez até então. Morrer, mas encontrando o sentido do sofrer, do lutar, do acreditar, do arriscar-se, do doar-se.

Subir a Jerusalém é acreditar que acolá se faça, enfim, jus ao nome ‘cidade da paz’, embora ao chegar encontre a perseguição, a condenação, a tortura e a cruz.

Subir a Jerusalém é defrontar-se com a cidade que persegue e mata os seus profetas. Os que incomodam os arrogantes, os que sacodem os indiferentes, os que não aceitam as leis escritas nos sinédrios, nas sinagogas e nos templos, em nome do ‘deus nacional’, para escravizar e dominar os filhos e as filhas da terra.

Subir a Jerusalém significa encarar aqueles que nos plenários dos seus Tribunais de Justiça julgam interpretando as leis que eles mesmos fizeram e manipularam. Em suas sentenças hieráticas são vistos como benfeitores da humanidade por livrá-la de impuros, de bandidos e assaltantes. Na realidade, só livram seus pares!

Subir a Jerusalém significa poder olhar fixamente nos olhos os seus próprios crucificadores, sentir compaixão deles, perdoá-los, mas resistindo contra toda cruz que humilha, que subjuga, que arranca espíritos e consciências livres, e faz agonizar toda esperança.

Subir a Jerusalém.....

Subir, enfim, de Jerusalém, e olhá-la de cima, redimida, em paz consigo mesma!

segunda-feira, 29 de março de 2010

PADRES, NEM ANJOS NEM DEMÔNIOS, HUMANOS COMO TODOS

Aqui abaixo transcrevo o artigo que escrevi para o Jornal do Maranhão de fevereiro, da arquidiocese de São Luis. Acredito que diante de tantas denúncias de pedofilia que envergonham a igreja como um todo e que exigem não somente justiça para as vítimas e punição rigorosa para os seus responsáveis é preciso iniciar na igreja mudanças radicais na sua própria estrutura, tais como: fim do celibato obrigatório, formação presbiteral mais inserida na realidade, extinção da Cúria Romana, sacerdócio às mulheres, fim do estado do Vaticano em que o papa volta a ser só pastor 'entre iguais' e não chefe de Estado, entre outras.....
Tradicionalmente, na cultura ocidental de cunho cristão, tem havido uma clara tendência em idealizar sobremaneira a figura do padre. O padre tem sido visto, predominantemente, como uma espécie de santo, mais anjo que homem. Por ser considerado, de forma irreal, ‘um homem de Deus’, raramente o padre tem sido visto na sua plena humanidade, com sentimentos, fragilidades, contradições e imperfeições, como os demais humanos. A própria mídia, ultimamente, está contribuindo para ‘mistificar’ mais ainda os padres, principalmente os que promovem o show do sagrado.
A conseqüência lógica desse modo de encarar o padre tem levado as pessoas a alimentarem expectativas enormes com relação a ele. É bem verdade que quando uma pessoa escolhe de ser padre se compromete formalmente a ser um sinal coerente e fiel do amor respeitoso de Deus, embora isto valha para todo cristão. É também verdade que uma pessoa, antes de ser consagrada padre passa por um longo caminho de formação, discernimento e acompanhamento espiritual até ser considerada definitivamente digna de assumir tal serviço. Em que pese tudo isso, não se pode desconhecer que todo ser humano é um mistério insondável que foge à plena compreensão humana. Também no padre, de fato, se manifestam, irremediavelmente, fragilidades, fortes contradições e até formas inesperadas e desviantes de comportamento. O impacto disso na vida das pessoas é devastador.
O escândalo provocado por padres que agem dessa forma é proporcionalmente mais intenso lá onde existe maior idealização da figura do padre, e onde tem existido uma cultura religiosa fortemente moralista, principalmente com relação à sexualidade. Ao enfatizarmos a fragilidade humana e a situação de pecado a que cada pessoa está sujeita - inclusive o padre, - não quer ser uma forma para justificar aquelas condutas que ofendem ‘o templo de Deus’ que são os filhos e as filhas Dele.
Ao contrário, de um lado se quer reconhecer que padres que cometem tais abusos devem ser punidos como qualquer cidadão, conforme a legislação em vigor; e, do outro lado, reconhecer que o único santo e verdadeiro sacerdote é o Filho Unigênito. Somente Jesus Cristo deverá continuar a ser a nossa autêntica fonte de inspiração, independentemente da santidade ou não de quem O anuncia e O serve.

Papa Bento, a verdade acima de tudo!

A semana santa deste ano vai ter um sabor especial para o papa Bento. Ele se vê sistematicamente crucificado por uma série de insinuações, suposições e ataques diretos à sua atuação com relação às denúncias de pedofilia de um padre que trabalhou na diocese de Mônaco quando ele era bispo. Ele teria aceitado na sua diocese um padre que já havia sido expulso de uma diocese por várias denúncias de pedofilia.
Acusam o então cardeal Ratzinger de não somente ter acolhido o padre, mas de ter-lhe confiado responsabilidades e atividades que o teriam colocado em situações de cometer novamente os crimes pelos quais foi afastado. Como é costume nessas circunstâncias, com o intuito de preservar o papa (então bispo), o vigário geral, colaborador e amigo íntimo do papa até hoje, assumiu sozinho toda a responsabilidade.

Segundo este, o então cardeal Ratzinger não sabia nada do acontecido. Francamente, é muito improvável que isto tenha acontecido. Para quem conhece minimamente as práticas costumeiras que se dão nas cúrias diocesanas, as relações existentes entre bispo/vigário geral/padres, é bem provável que o papa tivesse tido conhecimento desde o início da situação real daquele padre acusado de pedofilia. Foram publicadas, recentemente, em alguns jornais alemães supostas atas de encontros, na época da transferência do padre acusado, em que se faz referência indireta a esse episódio.

Acredito que em lugar de negar peremptoriamente o fato era muito mais compreensível ter afirmado que houve acolhida do padre acusado não para dar-lhe cobertura, mas para tentar oferecer-lhe uma extrema chance de se redimir colocando-o numa comunidade com outros padres que pudessem ajudá-lo. Acredito que muitos pastores agiram dessa forma: tentar ‘salvar’ a qualquer custo um padre, mesmo que isso significasse beirar a cumplicidade. Quero acreditar que esta tenha sido a postura do então cardeal Ratzinger!
Com certeza não joga a favor do papa e da igreja católica uma eventual prova cabal de que ele estava sabendo tudo sobre o caso. Bill Clinton, quando presidente, por uma pequena mentira quase sofria um impeachment, e ele não era nenhum paladino da honestidade e da verdade. Isto não vale para Bento XVI: a verdade acima de tudo, mesmo que tenha que se penitenciar!

sábado, 27 de março de 2010

Mais um assalto a ônibus, mas não em território indígena! Blogueiro também é vítima!

Chegou a hora do meu batismo de fogo. Vinha demorando...
Eram aproximadamente 1,30 da madrugada do dia 26, numa pequena localidade próxima de Santo Antônio dos Lopes, entre Dom Pedro e Peritoró, quando o ônibus da Progresso no qual me encontrava, proveniente de Grajaú, num redutor de velocidade (lombada) foi bruscamente intimado a parar. Um sujeito encapuzado estava com um revólver direcionado para o condutor, enquanto que outros dois comparsas aparecidos de repente, também eles armados e sumariamente encapuzados com uma camiseta, exigiam a abertura da porta do veículo.
Uma vez entrados, os três perguntaram se havia policiais entre os passageiros, e não obtendo resposta positiva iniciaram a esvaziar os bolsos e as bolsas dos mais de 40 passageiros. Alertaram que nada aconteceria se colaborássemos. Todos calados iniciamos a entregar dinheiro, celulares, cordões de ouro, relógios, etc. Enquanto dois passavam por cada poltrona exigindo os abjetos de valor, o terceiro assaltante mantinha sob seu atento e nervoso olhar o motorista intimando-o a entrar numa estrada vicinal distante da localidade aproximadamente um quilômetro.
Não satisfeitos, obrigaram todos os ‘piões’ a descerem do ônibus com as mãos na cabeça porque iriam iniciar uma nova ‘verifica’. Alertaram a todos que se descobrissem alguém com ‘dinheiro escondido nas cuecas’ iriam pagar por isso. Todos os homens enfileirados desceram em silêncio e permaneceram parados. Algumas mulheres iniciaram a chorar, mas os assaltantes as ‘tranqüilizavam’ dizendo que não iriam mexer com elas. Duas irmãs religiosas que vinham no ônibus iniciaram a rezar o terço. Um dos três comparsas pareceu ficar satisfeito: ’Continuem orando, orem por nós também porque precisamos’! Depois, em lugar de revistar todos os homens, os três acabaram subindo novamente no ônibus e começaram a abrir todas as bolsas carregando tudo o que havia de valor. Finalmente, se despediram ordenando de permanecer naquele local por pelo menos meia hora, e foram embora.

Algumas considerações:
1. O trecho da BR entre presidente Dutra e Peritoró foi totalmente recuperado. Antes eram os numerosos buracos que facilitavam a vida dos assaltantes no famigerado trecho. Agora são as numerosas lombadas. Incrivelmente, os assaltos ocorrem sempre nas mesmas localidades com uma freqüência assustadora. Com certeza a ‘inteligência’ da polícia já sabe quem pratica tais ações...Cheira muito a ‘formação de quadrilha mista’!
2. Enquanto não chegam as esperadas mudanças estruturais (justiça social e econômica, segurança, e... blá, blá...) é preciso que pelo menos as empresas se organizem para elas mesmas assegurarem aos seus clientes um mínimo de segurança interna, com escoltas ou outras formas...Infelizmente!
3. Ironia do destino: para aqueles passageiros que respiraram profundamente após ter passado incólumes pelo trecho indígena (Área indígena Canabrava, entre Grajaú e Barra do Corda) sem serem assaltados, encontraram uma desagradável surpresa entre o mundo dos ‘não indígenas’....Desse jeito, ninguém é melhor que ninguém! A ‘igualdade’ está garantida!!!
4. O Pai Nosso final puxado por um dos passageiros, de joelhos, quando tudo acabou, teve o sabor de uma autêntica ação de graças por ninguém ter se machucado. Para muitos ficarão o trauma, o medo e a angústia que, infelizmente, já fazem parte do cotidiano de muitas crianças e adultos, indistintamente.
5. Em época de campanha eleitoral o número de assalto a banco aumenta em média de 30 a 35%. Preparemo-nos! Vai piorar!

sábado, 13 de março de 2010

Traição ao projeto do Pai, eis o verdadeiro adultério! (Jo.8-11)

A narração hodierna de João parece ser uma complementação e ampliação da parábola do filho pródigo do evangelho de domingo passado. À primeira vista parece ser um simples gesto isolado de confrontação de Jesus com os fariseus e escribas a respeito de uma pecadora anônima pega em flagrante adultério. Mostraria, no caso concreto, de um lado uma extrema liberdade e autonomia de Jesus perante as leis em vigor, do outro, uma tolerância inédita para com aquelas pessoas que as desrespeitam. João, porém, vai muito além daquilo que à primeira vista a narração parece sugerir.
João está fazendo, na realidade, uma crítica estrutural ao sistema religioso judaico, utilizando-se de um personagem, uma adúltera, que representa simbolicamente o sistema religioso alicerçado no templo.

João, de forma perspicaz, nos informa que ‘Jesus, de manhã bem cedo, tornou para o templo....’ É nesse contexto do templo que os fariseus e os escribas aparecem trazendo uma mulher pega em flagrante adultério e interpelam Jesus acerca da sua interpretação das leis sobre aquele caso específico. Jesus não responde diretamente à inquisição dos seus interlocutores, mas retruca com outra pergunta que os deixa desarmados e sem resposta. Na realidade, abre seus olhos sobre a sua própria situação de adúlteros.

João, com efeito, elabora a cena de forma tal que deixa transparecer que os verdadeiros adúlteros, na prática, eram os que acusavam a mulher. Que o verdadeiro adultério se dava naquele templo que agia de forma intolerante, legalista e implacável para com os pecadores comuns. Jesus, para João, estava dizendo para os fariseus e escribas que o sistema religioso que eles alimentavam era uma verdadeira traição, uma infidelidade continua ao Deus da vida e do amor. Ao passo que para ‘o adultério da mulher’ só cabia misericórdia e compreensão, e não julgamento.

O adultério religioso, ou seja, a traição/infidelidade ao projeto do Deus da misericórdia e da justiça, esse sim, é o verdadeiro pecado que destrói consciências e quebra a relação com Deus e o seu povo. Os fariseus e os escribas, em lugar de julgar os demais ‘pelos ciscos que viam nos olhos alheios, deviam tirar a trave que estava fincada em seus próprios olhos’ que era bem maior! Que eles também aprendessem o que significa ’misericórdia eu quero, e não sacrifícios’!

O PERDÃO QUE LIBERTA! A PARÁBOLA DO 'IRMÃO MAIS VELHO'! (Lc.15,11-32)

As parábolas, em geral, narram quase sempre histórias um tanto paradoxais. Parecem ferir a lógica e o senso comum. É, claramente, um recurso didático que Jesus utilizava para chamar e segurar a atenção das pessoas. Ao fazer isto, obrigava os seus ouvintes a se perguntarem sobre o sentido de tais comparações/narrações, e sentiam-se obrigados a compreender a mensagem central, embora nem sempre conseguindo.

Mediante a parábola hodierna, Jesus procura justificar a sua relação para com os pobres, os pecadores e os religiosamente impuros, representados simbolicamente pelo filho pródigo. Isso ocorre num contexto polêmico, ou seja, perante as crescentes críticas e hostilidade dos fariseus encarnadas na figura do ‘irmão mais velho’.Os fariseus não aceitavam que Jesus, mestre e douto das sagradas escrituras, acolhesse e se misturasse com pessoas social e religiosamente indignas.

A parábola do filho pródigo que poderia ser definida, na realidade, como a parábola do ‘amor do Pai’, - por ser este o grande protagonista – tem, porém, algo mais. O que efetivamente soou paradoxal - e que deve ter suscitado uma enorme indignação nos ouvintes fariseus - foi o fato que Jesus, com aquela prática tolerante para com os pobres e ‘impuros’, estava dizendo em alto e bom som que o próprio Deus faria o mesmo que Ele. Jesus assume o papel de ‘representar’ aquele ‘Pai’ que acolhe, perdoa, compreende o filho extraviado, sem julgá-lo ou condená-lo. Isso era inconcebível para um fariseu ortodoxo!

A raiva, a indignação e a inveja que os fariseus sentiam eram direcionadas, no fundo, contra o atrevimento escandaloso de Jesus em manifestar com atitudes concretas não um Deus vingador e punitivo (justo, para eles!) e sim, um Deus misericordioso e cheio de compaixão e ternura. Dessa forma, Jesus elimina a componente do medo e do terror na relação com Deus. Anula a presença da vingança e da punição no coração/essência de Deus. Isto provocava um esvaziamento e um não sentido das práticas ritualísticas, purificatórias, penitenciais, sacrificais da religiosidade judaica.

A parábola, porém, num nível mais existencial, é um retrato das atitudes e reações humanas diante de supostas injustiças divinas que, na realidade, são expressão de misericórdia gratuita e ilimitada de Deus. Freqüentemente, na nossa soberba e arrogância, imaginamos que diante de uma nossa presumida fidelidade a Deus merecemos mais do que outras que nós julgamos indignos.

Experimentamos raiva e resistimos à idéia de um Deus misericordioso com aqueles que não agiram ‘correta e fielmente’ como nós. Que não obedeceram a normas e práticas religiosas que, nos nossos delírios e devaneios, imaginamos ser o passaporte para o paraíso, a premiação, a bênção divina....

Não nos damos conta de que ao agir assim acabamos reproduzindo as corriqueiras práticas sociais dos seres humanos que são movidos por sentimentos e atitudes de punição e castigo para os maus e prêmio e reconhecimento para os bons. Não damos fé que reproduzimos modelos culturais meramente humanos. Que somos nós mesmos, afinal, com a nossa parcialidade, e dominados pela nossa sede de vingança, de cumplicidade ou de interesses particulares, que julgamos quem é bom e quem é mau. E emitimos nossas sentenças de parte!

Chegamos a ser tão atrevidos que atribuímos esse mesmo modo mesquinho de agir também Àquele que ‘não olha as aparências, e sim o coração’. Afinal, ‘os pensamentos Dele não são os nossos pensamentos, e os caminhos Dele não são os nossos’! Sorte nossa que temos um Deus amoroso e misericordioso que nos conhece em profundidade, que não se escandaliza das nossas fragilidades. Ele nos chama pacientemente à permanente comunhão e à liberdade.

Que não tenhamos medo de nos deixar abraçar por esse Pai! Que não sintamos indignação quando Ele abraça também aqueles irmãos e irmãs que nós condenamos! Que não tenhamos receio em sentar junto com o nosso 'irmão mais novo' ao mesmo banquete, e festejar com alegria o seu retorno à casa do mesmo Pai!

O celibato dos suspeitos. Vamos fazer limpeza na igreja, mas também na sociedade!

Aqui abaixo um interessante artigo do Pe. Filippo di Giacomo publicado pelo jornal 'LÚnitá' e tirado por mim do site do Instituto Humanitas Unisinos sobre as numerosas denúncias de pedofilia na igreja.
Nestes dias, já se leem argumentações inclinadas a demonstrar como os atos de pedofilia clerical estariam relacionados ao celibato dos padres, a uma regressão sexual induzida, referente à formação oferecida nos seminários menores (praticamente desaparecidos há 40 anos), segundo um modelo imposto pelo Concílio de Trento, na segunda metade do século XV. Na realidade, o celibato existe desde 306, desde o Concílio de Elvira (nome de Granada na Hispânia romana), na Igreja do Ocidente tornou-se regra indiscutível ainda no século IV, quando Agostinho sugeriu a adoção da disciplina monástica a todos os seus padres.
O celibato deu prova de poder garantir uma estrutura psíquica que favorece a independência e a disponibilidade existencial e continua representando um dos carismas que a Igreja Católica testemunha no cristianismo global.E também no sacerdócio célibe, os homens sadios nunca conheceram o desenvolvimento de atrações eróticas com relação a crianças como resultado da abstinência.
Nos mais de 80 casos de abusos denunciados na diocese de Boston, a primeira circunscrição católica a ter chegado à mídia por causa da pedofilia difundida, só quatro foram reconhecidos culpados. Na Irlanda, as duas comissões governamentais que investigaram os cerca de 2.800 casos denunciados, só 10% foram considerados com fundamento. Isso quer dizer que 90% das acusações, mesmo que fortemente midiatizadas, eram falsas.
Existe uma latente e obscura veia fascista nessa persistente tentativa de querer exorcizar no mundo clerical um problema, o do uso e do abuso de crianças, que, em nível global, está vulgarmente estruturado em toda categoria profissional e abraça a pedofilia assim como a pornografia, o turismo sexual, a prostituição, a exploração do trabalho infantil, a mendicância escravista.
Não é por nada que, nesta terça-feira, o padre Federico Lombardi lembrou que: "Na Áustria, em um mesmo período de tempo, os casos confirmados em instituições ligadas à Igreja foram 17, enquanto houve 510 em outros ambientes. Também é bom se preocupar com esses". Pode-se notar como a onda europeia de midiatização de massa dos abusos católicos ocorra em um contexto ambíguo.
De um lado, é quase certo que Bento XVI manifestou sobre o assunto uma firmeza disciplinar que não deixa dúvidas nem dentro, nem fora da Igreja. De outro, a virulência dos ataques anticatólicos são enfatizados pela imagem de isolamento do Pontífice, devida verdadeiramente a uma máquina curial e administrativa que não lhe parece fiel e que é descrita à opinião pública como não controlada por ele.
No jornalismo eclesiológico e canonístico fora da Itália, desde o final dos anos 60, se questiona (é famoso o artigo que significativamente tinha o título "L'Eglise à l'heure du management", A Igreja na época do 'management') se o catolicismo ainda precisa de uma Cúria que ocupa cerca de 2.800 pessoas, impermeável às voluntariosas tentativas de Paulo VI e João Paulo II para torná-la eclesialmente compatível com a Igreja real, capaz (como demonstram os casos de certos "cavalheiros" do Papa) só de internacionalizar os atávicos privilégios e vícios.
No editorial de setembro de 1997, o então diretor de Jesus (revista mensal dos padres paulinos italianos), fez ricochetear na Itália uma proposta muito séria, levada adiante por alguns bispos norte-americanos: abolir a Cúria sem mais demora. Então, o diretor perdeu seu posto. Agora, se o seu sonho se tornasse realidade, quem bateria palmas seria, provavelmente, a Igreja inteira.

quinta-feira, 11 de março de 2010

EM SESSÃO ESPECIAL ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DEBATE ECONOMIA E VIDA (CF 2010)

Aqui abaixo o pronunciamento feito por mim em ocasião da sessão especial na Assembléia legislativa do estado do Maranhão a convite da deputada Helena Huley (PT), contando com a presença de Dom Belisário arcebispo de São Luis, o pastor anglicano Fabiano G.Caldas, a pastora luterana Franciene e o Pe. Flavio Lazzarin coordenador da CNBB.

Algumas reflexões gerais iniciais

1. A CF não quer atacar a economia em si. Ela faz parte da vida, e é essencial para a sobrevivência dos seres vivos. No caso, se quer analisar e denunciar as contradições e as desumanizações que um determinado modelo de economia pratica. Quer ‘denunciar a perversidade de todo modelo econômico que visa, em primeiro lugar, ao lucro, a acumulação, o desperdício, sem se importar com a desigualdade, a miséria, a fome e a morte’(texto-base CF); positivamente, quer educar para a prática de uma economia de solidariedade, a sobriedade, a reciprocidade, a honestidade.

2. Tampouco é objetivo da CF apresentar tecnicamente um modelo alternativo ao que vigora, e sim fazer um julgamento ético e humano, propondo horizontes novos e reafirmar valores éticos para superar as atuais contradições do modelo econômico.

3. Nada mais conveniente como hoje abordar essa temática, diante das numerosas crises econômicas e financeiras que colocam em xeque a validade desse modelo e a competência de os humanos se administrarem e administrarem os bens da natureza. E principalmente, agora, numa hora em que parece consolidada a idéia de que - apesar da crise mundial - nós aqui, no Brasil, estaríamos inaugurando uma inédita etapa histórica de autêntico desenvolvimento, e este, entendido unicamente como crescimento econômico e não como crescimento humano, crescimento de uma verdadeira consciência ambiental, de responsabilidade social e de consumo, de novas formas de sociabilidades pautadas pela sobriedade, a reciprocidade, a solidariedade, etc.

4. O atual modelo econômico não tem a ver só com modos de produção, comprar e vender, com transações comerciais, investimentos financeiros, etc. mas tem a ver com a totalidade da vida. Ele mexe com o todo e interfere no todo. É totalizante. Ele é portador de uma espiritualidade/mística e de um modo de ser cidadão hoje. O importante para o atual modelo é conseguir que os seus adeptos incorporem sua lógica e moldem seus comportamentos a partir dela e se tornem seus dependentes...(os novos consumidores-dependentes)

5. Segundo esse modelo, genericamente chamado de ‘livre mercado’ para ser reconhecido como cidadão é preciso entrar na lógica do mercado, ou seja, aceitar que tudo pode ser comprado e vendido. Que tudo: sonhos, sentimentos, emoções, bens imateriais, etc. podem e devem ter valor pecuniário. Quem não consome não é plenamente cidadão!

6. A própria palavra inclusão tão utilizada nessa década é na prática sempre mais identificada como um movimento para incluir no mercado e não necessariamente na vida social, política, cultural o maior número de gastadores e consumidores....pois isso iria manter o sistema funcionando e, de conseqüência, manter os empregos, os salários, a estabilidade, ou seja, aquilo que nos é vendido como ‘bem-estar’

Muitas coisas foram ditas, muitos dados foram oferecidos, e talvez não seja o caso de repetir e tampouco falar obviedades, algo que já é notório para quem acompanha a vida social e econômica do país e do Estado.
Dizer, por exemplo, que:
  • em 2007 existiam no Brasil 10,7 milhões de indigentes (ou seja, famintos), e 46,3 milhões de pobres (ou seja, sem acesso às necessidades básicas: alimentação, habitação, vestuário, higiene, saúde...
  • Que no Maranhão temos 3,5 milhões de pobres segundo a FGV, ou seja, 63,7% da população,
  • que o mesmo Estado está ocupando nos índices de exclusão social, de pobreza e de desigualdade social e de emprego formal o 27º lugar...
  • que nesse Estado e no Brasil há uma concentração de terras e renda que revelam submissão ao ídolo da ganância... é algo mais que sabido.

Tenho plena convicção, também, de que não são os dados por si só, - que na maioria das vezes aparecem frios - que nos ajudam a perceber que por trás deles há relações humanas assimétricas, desiguais, injustas, trágicas. Ao mesmo tempo, esses dados estatísticos pouco contribuem para nos convencer da necessidade de intervir estruturalmente... Entretanto, eles revelam opções pessoais e coletivas, tendências, escolhas, decisões, interesses e comportamentos sócio-econômicos individuais e sistêmicos.

Nesse sentido queria apresentar somente alguns dados que possam servir como exemplos paradigmáticos do que significa cultuar o lucro, a acumulação/concentração de renda, a pulsão e a dependência do consumo..... que afeta não somente a macro economia, a gestão do ambiente, etc, mas o estilo de vida pessoal de determinados setores da sociedade.

A. O primeiro dado/exemplo paradigmático é a nível nacional. O Brasil é a grande estrela da atual safra de balanços das multinacionais - referente ao ano de 2009. Com a estagnação ou a retração das economias da Europa e dos Estados Unidos, a força do mercado interno brasileiro, sobretudo a partir do segundo semestre, contribuiu para melhorar o desempenho das companhias nos mais diversos setores...graças ao desempenho de suas filiais no Brasil.

  • Com vendas de R$ 11,5 bilhões no ano passado, a Unilever Brasil subiu no ranking da multinacional e alcançou a segunda posição, atrás apenas dos Estados Unidos.
  • Nestlé Brasil, em 2009 se transformou no segundo principal mercado para a multinacional suíça, com vendas de R$ 15,5 bilhões. O país galgou duas posições no ranking de faturamento, superando Alemanha e França e ficando atrás apenas dos EUA.
  • Na AB Inbev (Skol e Brahma) maior cervejaria do mundo, a contribuição do Brasil foi ainda mais crucial. Enquanto no mundo todo as vendas de cerveja caíram 0,8% no ano passado, no Brasil a empresa vendeu 9,9% a mais.
  • E, pela primeira vez na história, as vendas da Fiat no Brasil superaram a da matriz. Foram 737 mil unidades, contra 722 mil na Itália. (FSP – março 2010)

Esses dados podem ser analisados de diferentes formas, a depender do ângulo, do lugar social e interesses de cada um, entretanto, podem significar que no nosso País - em que pesem as explicações oficiais - temos setores sociais (não o Brasil como um todo) que possuem um poder aquisitivo significativo e que não inibem sua pulsão ao consumo também em época de crise.

B. O segundo dado/ exemplo ilustrativo de concentração e de maximização de lucros em detrimento do desenvolvimento social e humano e ambiental nos é oferecido pela segunda maior empresa mineradora do mundo: a VALE. 'O lucro líquido da empresa, desde a privatização em 1997, cresceu a uma média anual de 40%! Os compradores da Vale retiraram todo o lucro líquido, praticamente não investindo na empresa, até 2002. A partir de 2003, o volume dos lucros foi tão alto, que compensou uma diminuição porcentual do lucro entregue como dividendos aos donos da Vale.

A Vale dispunha de caixa no valor de U$ 13 bilhões, em setembro de 2009. Levando em conta que a folha de pagamento em 2008 foi de U$ 2,1 bilhões de dólares, este caixa seria suficiente para pagar os funcionários de todo o mundo por mais de seis anos. Somente os gastos com aquisições de novas minas, usinas e fábricas somaram US$ 2,9 bilhões nos nove primeiros meses de 2009, quantia suficiente para pagar todos seus funcionários por um ano, em todo o mundo. A empresa quer se tornar a primeira mineradora do mundo em detrimento dos seus funcionários e do meio ambiente. A Vale demitiu 15 mil pais de família sem nenhuma necessidade, inclusive atuando de forma discriminatória, onde o grosso dos demitidos se concentrou nos trabalhadores terceirizados, que sofrem uma dupla exploração e discriminação'. (art. N.D.G. -2009)


A cada ano a Vale S.A. exporta, por seu porto instalado na cidade de São Luís, 100 milhões de toneladas de minério de ferro, 7 milhões de toneladas de pelotas de minério de ferro, 2,3 milhões de toneladas de manganês e 130 mil de toneladas de cobre, além de prestar, em volumes expressivos, serviços de transporte ferroviário e embarque portuário para exportadores de ferro-gusa e soja, contribuindo para a balança comercial brasileira. Aproximadamente 1/3 das lucrativas exportações brasileiras da Vale ocorrem pelo Porto de São Luís. O que não é conhecido pela sociedade é que em conseqüência dessas operações, a Vale era responsável pela emissão de 15.549 toneladas anuais de poluentes diversos em São Luís em 2005,’ (art.G.Z.-2009)Ela é responsável por um terço da emissão de todos os poluentes emitidos na nossa atmosfera.

A Vale tem uma média de oito acidentes por dia, quase um morto por mês (a sua grande maioria vitimados pelo trem), isto sem contar as mortes ocasionadas por doenças adquiridas no trabalho ou as mortes no caminho para o trabalho. A Vara do Trabalho de Parauapebas, no Pará, condenou ontem (10) a Vale a pagar R$ 100 milhões por danos morais coletivos e mais R$ 200 milhões por dumping social, ou seja, o juiz considerou que a gigante da mineração estava lucrando indevidamente sobre a exploração indevida de seus empregados e prestadores de serviço na região da província mineral de Carajás.

Não se trata de fazer guerras pessoais ou de grupo a uma ou a outra empresa, tampouco se quer condenar atividades econômicas em geral. Trata-se de encontrar alguns denominadores éticos comuns quais o respeito pelos direitos dos trabalhadores, para com o ambiente, com a população em geral (que o digam as cidades e povoados maranhense situados ao longo da ferrovia) que sofrem as conseqüências de pulsões irrefreáveis por lucros sempre maiores e justificando-os como mal necessário na guerra planetária da competitividade econômica!


C. Terceiro exemplo paradigmático: o DETRAN cerca de 4 ou 5 anos atrás publicou alguns dados extremamente significativos que me chamaram a atenção: informou que a primeira cidade no Brasil, em termos proporcionais, que mais trocava a sua frota de carros era Curitiba. A segunda era São Luis do Maranhão! Mas não é tudo. Lá vem o outro dado associado a isso: a primeira cidade em absoluto que não conseguia resgatar o carro, pagando-o integralmente e, portanto, exigindo a intervenção da justiça, era São Luis do Maranhão. Isto não deve ter mudado muito nesses anos, ao contrário, observamos um aumento excessivo de carros na cidade ocupados por uma só pessoa – o que aumenta o desperdício – e ameaçando a cidade de entrar em completo colapso nos próximos anos.

O volume de representações que transitam pelas várias varas da justiça continua tendo em sua maioria pedidos de revendedoras e armazéns para ter de volta a mercadoria que não foi devidamente paga. Observa-se a partir desse dado que o que as igrejas vêm alertando sobre a dependência ao ídolo dinheiro, mercadoria, status social - e o carro representa simbolicamente tudo isso – é extremamente pertinente para vários setores da nossa cidade em que ganância e a fome de possuir parece poder mais do que a real capacidade de adquirir.


Conclusão. Algumas propostas para essa casa


1. Propor e favorecer tudo o que vem a fortalecer a agricultura familiar no Estado, seja ampliando e fortalecendo as casas familiares rurais, cooperativas e outras associações produtivas, bem como garantir mediante mecanismos governamentais a divulgação, comercialização e a qualidade de seus produtos. Afinal, nem o ferro da Vale, e nem o ferro-gusa e os eucaliptos das siderúrgicas de Açailândia e tampouco a soja e o papel da Suzano nos garantem alimentação e desenvolvimento social e humano.

2. Exigir da vigilância sanitária e/ou secretaria estadual da saúde e outros órgãos um monitoramento sistemático dos impactos produzidos por todas essas grandes empresas sobre a saúde da população do Maranhão. Sabemos que elas matam através dos poluentes que despejam nos nossos pulmões (Piquiá e São Luis que o digam) Vemos que não suficiente a atuação do Ministério Público. É preciso que essa casa marque posição firme e elabore leis que venham a pôr limites à irresponsabilidade social e ambiental dessas grandes empresas. Não se trata de boicotá-las, e sim exigir a instalação de filtros industriais, por exemplo, e executar outros procedimentos já contemplados em lei, mas que não são respeitados.
Obrigado!

terça-feira, 9 de março de 2010

Vita sempre presente anche con il passar degli anni!



Compierebbe oggi, 9 di marzo, 82 anni di vita, il signor Francesco, mio padre. Una presenza costante che prova che la vita e l' amore sono piú forti della morte. Ai figli e ai nipoti Mattia, Marco e Nikolaj il dovere morale di portare avanti gli ideali di vita del 'Checco' come era chiamato affettuosamente. Nella foto qui accanto la signora Gina, mia mamma attorniata dai nipoti figli di mio fratello Ennio e Laura e di mia sorella Graziella e Giorgio. Approffitto per mettere nella rete mondiali gli auguri di Buon Compleanno anche a mia sorella che dopodomani, 11 di marzo, compirá la bellezza di 52. L´etá avanza per tutti cara sorellina ma mantieni sempre la saggezza, l´entusiasmo e lo spirito di servizio che hai sempre avuto! Questo tesoro morale non sará mais attaccato dalle termiti! Abbraccione.

40 homens invadem a aldeia Rubiácea (MA) para roubar madeira apreendida pela PF

Cerca de quarenta homens armados são acusados de invadir a aldeia indígena Rubiácea, a dezessete quilômetros de Amarante, na Região Tocantina, para resgatar três caminhões carregados de madeira. Os veículos foram apreendidos durante uma operação do Ibama para combater a extração ilegal de madeira em reservas indígenas da região. Duas pessoas acusadas de participar da invasão estão presas na Polícia Federal, em Imperatriz. O técnico indigenista José Pedro dos Santos, que trabalha há vários anos na região, estava presente na hora da invasão. Ele conta que foram momentos difíceis e que o caso só não teve um desfecho trágico porque os índios adultos haviam saído para fazer compras.
O coordenador regional da Funai José Piancó afirma que a invasão foi liderada por madeireiros da cidade de Amarante.- Eles nos desafiam. Precisamos ter uma força maior para coibir essasações - disse o coordenador. A invasão aconteceu nesta segunda-feira. Os caminhões com a madeirahaviam sido apreendidos durante a operação Arco de Fogo, que é realizada em conjunto pela Polícia Federal, Funai, Força Nacionaldesde agosto do ano passado. Os índios foram ameaçados pelo bando. Mas dois homens da quadrilha acabaram sendo dominados por eles.
A dupla foi presa pela PolíciaFederal. Eles foram identificados como Antonio José Ribeiro da Silva,de 20 anos, e Maíldo de Araújo, de 39 anos. A Funai informou que a prefeitura de Amarante também está envolvida naextração ilegal de madeira de aldeias indígenas. Um dos caminhões apreendidos tinha o adesivo da Prefeitura colado na porta.A Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Amarante informou que ocaminhão que estava na aldeia com o adesivo prestava serviço para omunicípio até o dia 31 de dezembro do ano passado, data em que o contrato com o dono do veículo foi encerrado. (Fonte O GLOBO)

sábado, 6 de março de 2010

O viticultor Jesus dá sempre uma nova chance à figueira estéril (Lc.13, 1-9)


Os paladinos da relação custo-benefício, - segundo a qual o custo jamais deve ser maior do que o benefício (entre outras possíveis combinações) - ficariam horrorizados com a conclusão do evangelho hodierno. Se, inicialmente, poderiam se animar com as atitudes rígidas e ‘racionais’ do senhor da figueira – por ele ameaçar de cortar a figueira estéril e exigir dela os ‘legítimos frutos’ – num segundo momento, poderiam ficar frustrados diante da atitude misericordiosa do viticultor que suplica mais um ano de cuidados e de paciente trabalho com a figueira para lhe dar novas chances produtivas. Dificilmente iriam compreender e aceitar o custo tão alto de manter uma figueira que não está produzindo frutos (benefícios)

Se os mesmos defensores dessa relação custo-benefício analisassem com oportuno distanciamento e imparcialidade o modelo econômico predominante hoje na sociedade global (genericamente definido de economia de livre mercado) deveriam arrancar do meio da sociedade todos aqueles ‘administradores, teóricos, presidentes, políticos, bancos e instituições’ que continuam insistindo na bondade de tal sistema. Os custos que a sociedade está pagando hoje, não somente para manter esse sistema, mas para tentar sobreviver apesar dele, é infinitamente superior aos benefícios que supostamente ele vem apregoando. Haveríamos que debater sobre o que entendemos por benefícios e custos no atual modelo econômico. Levar-nos-ia muito longe. Todavia, não podemos encarar a relação única e exclusivamente na sua acepção economicista.
O tal modelo econômico que supostamente cria novas oportunidades, desenvolvimento e bem-estar generalizado, ou seja, benefícios incalculáveis, vem produzindo de um lado situações de desigualdades abismais, desespero, fome, escravidão, insegurança existencial permanente e fracasso humano, e do outro lado, vem parindo uma nova cultura/mística mundial que lhe dá suporte, o alimenta e o perpetua. O modelo do livre mercado não criou somente paradigmas operativos, mas uma sua própria espiritualidade para que possa ser incorporado no ‘eu’ mais profundo de cada pessoa/consumidor.
É a partir de práticas consumistas e acumulativas que o novo fiel/cidadão cumpre as suas obrigações divino/idolátricas. Nisso se sente bem, se sente pacificado consigo mesmo e com o mundo. E, sobretudo, se sente reconhecido como gente, pois agora ao comprar e vender...pode quantificar e dar um preço monetário a tudo o que vê e toca! Podemos entender, com isso, por que apesar dos custos que o sistema econômico hegemônico produz – que são evidentes – ele continua seduzindo novos fieis. Ele vem inoculando o seu vírus espiritual de forma tão habilidosa e sutil que penetra no profundo da alma e não somente em comportamentos temporários. Ao chegar às profundezas da alma só uma conversão/mudança radical para reverter a nova situação de quem se entregou definitivamente ao novo ídolo.

Hoje, nós estamos contemplando e ‘colhendo’ a esterilidade de uma figueira que não vem cumprindo a sua missão de garantir bem estar para todos no ‘campo’ do senhor. Nós hoje podemos compreender as causas da esterilidade e da improdutividade da figueira. Podemos planejar ações de atenção paciente e carinhosa para com ela intervindo para que ela retome a produzir frutos de igualdade e solidariedade e dar sentido à sua existência no ‘oikos/habitat’ global.
O viticultor da comparação de Jesus ainda não se cansou de olhar com amor e afeto para a figueira estéril. Não cansou ainda de acreditar nela. Diferentemente do seu senhor, ainda não adotou a lógica do custo-benefício. Ele teima em apostar nela. Quem sabe, a sua fé e o seu amor desmedido para com aquela figueira poderá reverter a lógica e a relação custo/benefício adotada pelo seu senhor e desencadear na figueira uma nova e inédita capacidade de produzir frutos de equidade e justiça para todos os seres vivos.
BREVES DE AÇAILÂNDIA

Toda vez que visito esta cidade me deparo com verdadeiras situações-limite que atentam à nossa capacidade de compreender e aceitar.

A primeira.
Realizou-se ontem, dia 5, na Câmara dos vereadores de Açailândia, com a presença de representantes do Ministério Público, Assembléia Legislativa, Estado, instituições da sociedade civil uma audiência pública para tratar casos de violência e morte exercida por setores do Estado contra crianças e adolescentes desse município. A estratégia adotada foi a de colocar um elevado número de representantes dos órgãos competentes para falar com o intuito de ouvir suas versões, omissões e responsabilidades.
Dois adolescentes dessa cidade haviam sido executados sumariamente por policiais, no ano passado, ao fugirem das ‘masmorras’ reservadas aos adolescentes infratores, em São Luis. Sob custódia do Estado perderam a vida. Sem falar do caso de um outro menor morto dentro das dependências dessas unidades por um outro menor que tinha uma rixa antiga conhecida pelos próprios responsáveis. Nenhuma medida havia sido tomada até agora. Nem investigação, nem punição para os policiais pistoleiros do Estado. Na Comarca de Açailândia não há até hoje uma Vara específica que possa reunir as diferentes denúncias/processos contra menores infratores e dar seqüência com conhecimento de causa. Tudo é esfacelado e fracionado entre diferentes promotores que tomam medidas subjetivas, muitas vezes contraditórias, e sem que haja comunicação entre eles, inclusive quando há casos de reincidência. Está na hora de a Justiça começar a racionalizar e repensar sua atuação numa cidade que apresenta altos índices de violência praticada por menores e contra eles.

A segunda.

O sistema de saúde desse município está um verdadeiro caos há mais de dois anos. O secretário de Saúde é irmão do prefeito local. Um dos muitos parentes que ocupam cargos na atual administração. No CESP, hospital municipal faltam seringas, gazes, remédios básicos. As ambulâncias, somente duas para o município todo, estão sempre ocupadas e raras vezes livres para atender às solicitações. Há mais de ano setores da a sociedade vem denunciando o descaso com a saúde municipal mas o prefeito ignora e nem se justifica. Recentemente o promotor responsável determinou a abertura de um inquérito para verificar a aplicação das verbas específicas para a saúde, mas parece que o fez com bastante alarde para dar tempo, talvez, aos responsáveis de tamanha farra de ocultarem ou maquiarem provas. O município merece uma investigação federal!