sábado, 10 de julho de 2010

Igreja samaritana: ajudar o caído e abatido a se levantar, para que volte a viver! (Lc. 10, 25-37)


No nosso cotidiano somos permanentemente bombardeados por informações e propaganda de toda espécie. Temos dificuldade de filtrar e compreender o sentido de tudo o que vemos e ouvimos. Uma coisa, porém, que salta aos nossos olhos é a tentativa da mídia em geral em determinar às nossas consciências o que temos que valorizar e o que devemos rejeitar. O que deve ser objeto da nossa compaixão e misericórdia e o que devemos condenar. Sem nos aperceber, de forma acrítica, incorporamos atitudes excludentes e formas de julgamento ético-moral que em nada tem a ver com a prática compassiva de Jesus de Nazaré!


O doutor da lei de que nos fala Lucas, provocou Jesus com o claro intuito de verificar se Jesus reproduziria como todos os seus co-nacionais o que a moral nacional e a lei oficial haviam consagrado, ou seja, amar Deus acima de tudo, e amar o seu ‘próximo’ como a si mesmo. Caso Jesus não repetisse integralmente o mandamento maior ficaria desmoralizado como rabi perante todos. Ao mesmo tempo, provaria que Jesus não se diferenciaria em nada daquilo que todos já sabiam e aderiam. O desejo irrefreável do doutor da lei em encontrar formas de se distanciar de Jesus e da sua prática - considerada indiretamente ‘contra a lei oficial’ - o leva a fazer a pergunta central: ’Quem é o meu próximo’? (v.29) A resposta/parábola a essa pergunta por parte de Jesus se constitui num verdadeiro divisor de águas entre a sua prática evangelizadora e a sua concepção de Deus, e a que os doutores da lei e os fariseus haviam adotado formal e nacionalmente.


Jesus deixa claro que amar o ‘próximo’ não pode ser um preceito abstrato, uma mera obrigação cultual, relegada ao moralismo religioso que vigorava no templo, mas que devia ser algo concreto e transformador das relações humanas. Ou seja, é imprescindível compreender que ‘ser próximo’ de alguém significa saber ‘ir ao encontro/aproximar-se’ dele, sentir compaixão e ternura precisamente quando o outro não pertence à sua mesma nação/religião, e quando está na pior, caído, ferido, desesperado e desassistido.


Jesus, dessa forma, reafirma que ‘o ser próximo de alguém’ não é um preceito/valor exclusivo de uma casta religiosa, de sacerdotes e de doutores, ou de uma nação ou de uma determinada classe social. Ao contrário, para Jesus, foi um samaritano, estrangeiro e herege, que não freqüentava o templo de Jerusalém e não conhecia seus preceitos que paradoxalmente soube ‘ser próximo’ de um seu inimigo religioso ao socorrê-lo na sua desgraça! O samaritano não conhecia o preceito, mas o viveu em plenitude, concretamente. Com isso Jesus re-inventa o ‘próximo’. Se para os hebreus o ’próximo’ é aquele que está perto, que pertence à sua mesma nação e família, - e com ele se estabelecem relações de solidariedade e de recíproca proteção, - para Jesus o ‘próximo’ é a pessoa que se coloca a serviço do abatido e caído, o ajuda a ‘levantar-se’ para ser uma pessoa nova, restabelecida.


Jesus nos ensina a irmos além dos critérios de solidariedade familiar, nacional ou grupal, pois o que realmente conta é a nossa capacidade de sentir indignação para com todas as vítimas da violência, da indiferença humana, da hipocrisia religiosa, do abandono, independentemente de quem quer que seja. É isso que nos permite re-construir a grande família comum para além dos limites geográficos, das opções políticas, religiosas e sexuais. O ‘missionário’ Jesus de Nazaré continua a nos repetir: ’Se vocês amam somente os que vos amam, que mérito vocês têm? Em que vocês se diferenciam dos ‘pagãos’....doutores da lei, levitas e homens do templo.....?’

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