sexta-feira, 20 de agosto de 2010

'Afastai-vos de mim vós que praticais a injustiça'! (Lc.13,22-30)



A preocupação com a salvação parece ser algo que acompanha o ser humano, independentemente de sua opção religiosa. Mas de qual salvação estamos a falar? Analisando o trecho evangélico desse domingo não é certamente a salvação que será dada como premiação divina, após a morte biológica, àqueles que tiveram uma vida íntegra e fiel. Jesus deixa claro que o ‘dono da casa’ (v.25) pode fechar a porta a qualquer momento, aqui e agora. Ou seja, as pessoas têm que se esforçarem permanentemente, agora, para ‘praticarem a justiça’(v.27) que é a única condição de aceder à casa. Fala-se, portanto, de uma salvação histórica que é construída cotidianamente e que pode ser experimentada em qualquer momento. Jesus deixa claro que de um lado é preciso ‘entrar pela porta estreita praticando a justiça’ e, do outro, não apelar ao fato ‘de ter bebido e comido diante do dono da casa’(v.26), ou seja, de ter tido uma convivência profunda com ele. O simples fato de ter conhecido, ouvido ou comido com o ‘dono da casa’ não será utilizado como critério para ser ‘beneficiado’ por ele. A prática das injustiças é a única coisa que pode ameaçar o conseguimento da verdadeira salvação para si e para os demais.


Isto é extremamente inovador na compreensão e na prática religiosa de Israel. Os filhos de ‘Abraão, Isaac e Jacó’ (v.28) imaginavam que era suficiente pertencer a essa mesma família para poder merecer a salvação. Entretanto, qualquer pessoa/povo, não importa a sua proveniência, se ‘do oriente/ocidente, do Norte/Sul’ - desde que ‘pratique a justiça’ - poderá ‘sentar à mesa do Reino’, ou seja, fazer a experiência real da plenitude da vida. De fato, conclui Jesus, há pessoas/povos que se consideram historicamente protagonistas e ‘primeiros’ na construção da nova humanidade, mas de fato são ‘os últimos, os rejeitadas’(v.30) que constroem salvação para todos através de sua coerência e da sua luta pela justiça. Dessa forma, Jesus constrói a sua nova ‘casa/humanidade/reino’ com a colaboração e a solidariedade de todos os povos, sem discriminação, tendo como base a prática da ‘justiça’, e desprezando a arrogância dos que se acham ‘eleitos e já salvos’!

Nenhum comentário: