terça-feira, 3 de agosto de 2010

Assembléia regional de Pastoral lança carta aberta em apoio aos povos indígenas


Nesses dias de assembléia regional de pastoral ao fazermos a experiência de verdadeira fraternidade fomos levados a reviver idealmente o sonho que tem acompanhando o povo de Deus ao longo da sua história. Nesse sonho/projeto todos os povos da terra, sem distinção alguma, se reúnem sobre uma grande montanha e lá todos se alimentam gratuitamente com comidas suculentas e vinhos finos, e toda lágrima é definitivamente enxugada. Ao contemplarmos esse ícone denso de significado experimentamos uma ponta de tristeza no nosso íntimo, pois confessamos que nós irmãos e irmãs da igreja católica, testemunhas e anunciadores dos ‘novos céus e da nova terra’ iniciados por Jesus de Nazaré, não temos conseguido manifestar com coerência e firmeza a nossa proximidade e solidariedade aos povos indígenas do nosso estado nesses momentos de grande tribulação. Ao olharmos para a sua situação nos sentimos dominados por sentimentos contrastantes.


Sentimentos contrastantes


De um lado experimentamos sentimentos de admiração e comoção ao constatarmos a resistência admirável que eles opõem a instituições públicas negligentes e a grupos econômicos sempre mais agressivos que atentam às suas culturas e desejam varrer os seus valores milenares. Por outro lado, não podemos esconder nossa crescente indignação e decepção ao percebermos que depois de muitos anos de mobilizações sociais, de alianças, de introdução de novos mecanismos de defesa dos direitos indígenas, os povos indígenas do nosso estado continuam enfrentando os mesmos históricos desafios: a insegurança alimentar, a morte prematura, o preconceito racial que humilha, a ameaça constante à sua integridade física e a agressão à mãe terra.


Terra-mãe continua sendo ferida!


É justamente essa mãe terra que continua sendo alvo de ferozes ataques por parte de madeireiros, empresas pecuárias, garimpeiros, e poderes públicos que em nome de uma falsa idéia de desenvolvimento a transformam em nicho de morte e em mercadoria a ser sugada. Experimentamos sentimentos de revolta ao constatar que a terra mãe dos Awá-Guajá já demarcada e legalmente homologada continua invadida e repetidamente violada não só por grupos econômicos, mas também por Tribunais de Justiça e poderes municipais que fazem de tudo para abortar a vontade de justiça e de viver desse povo tão provado. eixam-nos perplexos as intervenções do governo federal que em nome do progresso regional financiam hidrelétricas e outros projetos de grande impacto social e ambiental sobre as comunidades indígenas e seus territórios sem a devida consulta prevista inclusive pelo artigo 169 da Organização Internacional do Trabalho.Ficamos estarrecidos cotidianamente ao ouvir pela mídia inúmeras denúncias de casos de negligência e displicência para com a saúde indígena onde a falta de água potável, de remédios, de transporte e de assistência médica adequada, se mistura com uma crescente corrupção que envergonha a todos.


Igreja missionária a serviço da comunhão e da vida


Flagramo-nos freqüentemente a julgar e a condenar atitudes e posturas de indígenas que reproduzem as nossas mesmas contradições, - mas que, na nossa idealização de seus comportamentos - as encaramos como aberrações sociais. Dessa forma, contribuímos a aumentar o abismo social e afetivo que ainda nos separa deles. Não podemos, enfim, ignorar a avassaladora presença e interferência de igrejas evangélicas e pentecostais que em nome de um Deus milagreiro, legalista e punitivo provocam divisões internas e criam falsas expectativas nas comunidades indígenas do nosso estado. Elas cresceram junto às comunidades indígenas graças também à nossa omissão e à nossa pouca coragem em testemunhar um Deus que é Pai, que acolhe, respeita, e ama a todos, sem acepção de pessoas e culturas. Como igreja do mesmo Pai queremos reafirmar a nossa vontade de reproduzir uma nova e perene Pentecostes onde nem as línguas, nem as culturas, nem as pertenças religiosas são obstáculos para criar comunhão e fraternidade com os povos indígenas. Nisso poderemos nos compreender e descobrir como irmãos e irmãs do mesmo Tupã!

Imperatriz, 19 de julho de 2010

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