sábado, 16 de outubro de 2010

A justiça não é dom de juiz, é fruto de persistência e luta constante (Lc.18,1-8)


Quantas vezes suplicamos a Deus, e Ele permanece mudo. Surdo está aos nossos gritos. Imploramos, mas obtemos sofrimento, abandono e solidão. Tentamos de mil formas cooptar a sua benevolência. Ele permanece incorruptível. Temos fé na sua bondade sem limites, mas não ignoramos o seu poder de nos punir com a sua omissão e indiferença. Sentimo-nos culpados e indignos. Afinal, concluímos que Deus permanece surdo aos nossos gritos porque não temos fé verdadeira. Porque Ele tem outros projetos sobre nós e nós os ignoramos. Conformamo-nos.

A parábola da viúva que clama e luta por justiça, e do juiz que não tinha escrúpulos, reflete o nosso cotidiano. A viúva simboliza o que existe de mais frágil na sociedade. Sem defesa e proteção. Vítima de violência e aproveitamentos. Ela, porém, não se conforma. Não aceita a sua realidade social porque tem consciência que é expressão da injustiça humana, e não uma disposição divina. Ou fruto de um cruel destino. Ela não fica imobilizada ou desesperada diante da sua desgraça. Tampouco reza por justiça horas a fio na sinagoga ou no templo. Ela corre atrás do prejuízo. Corre, na escuridão da sua existência, de noite, até à casa daquele que pode lhe fazer justiça. O juiz sem escrúpulos, que não temia a Deus, é vencido pela persistência da viúva. Do mesmo jeito que Jacó que lutou insistentemente com Deus, corpo a corpo e, afinal, venceu. Conquistou justiça. A justiça não lhe foi dada de presente. Esse era o resultado que a viúva queria para si! Com essa parábola Jesus nos mostra que a oração é um meio e não fim. O fim é a conquista da justiça para com os injustiçados que clamam e lutam por ela. E a justiça se alcança mediante uma luta insistente e persistente. No corpo a corpo.

A oração, afinal, é o estado de consciência e lucidez que ‘os que têm fome e sede de justiça’ alcançam para arrancar e construir uma ‘outra justiça’. Deus, que não é juiz, fará justiça aos seus ‘escolhidos’ que clamam insistentemente e não desistem em procurá-la. O problema principal, no entanto, é saber se o peso da arrogância, da perseguição e da brutalidade deixará espaço no coração humano para a fé. Fé para continuar a construir justiça mesmo quando somos esmagados pela injustiça.

Um comentário:

Glacy disse...

E muitos persistem e lutam constantemente pela justiça, tal como, esses que nos presenteiam com seus textos expressivos e que abstraem sabiamente, sempre, o melhor do evangelho.