sábado, 11 de dezembro de 2010

Sinais! Quais sinais? (Mt. 11,2-11)

Jesus inicia uma nova época. Um tempo longamente esperado pelos ‘pequeninos’ de Israel. Para Jesus, Deus já começou a governar em favor das ‘ovelhas perdidas da ‘casa de Israel’. Para Ele, o próprio Deus está desbancando e desautorizando os falsos pastores e os incompetentes administradores ‘desse mundo’. Eles não vinham demonstrando compaixão e estavam sendo incapazes de garantir paz e justiça aos pequenos de Israel. Jesus, porém, não somente proclama a nova era, mas oferece sinais concretos de que uma nova prática havia iniciado. Ele prova com gestos tangíveis que a nova soberania de Deus havia iniciado, definitivamente, com Ele.....

Com efeito, depois de séculos em que os pequenos não eram enxergados, Deus, através de Jesus, abre os olhos da humanidade para que tome consciência da sua existência. Os próprios pequenos, através dos gestos de compaixão de Jesus, começam a enxergar o seu próprio valor, a sacralidade da sua dignidade. Os que viviam paralisados pelo trauma de tantos complexos de culpa, imobilizados pela humilhação e pela discriminação social e religiosa, com a acolhida misericordiosa oferecida por Jesus começam a caminhar. Ousam avançar. Superam medos e traumas do passado. Os rejeitados, os impuros de ‘pele e de rito’ começam a se sentir incluídos no reino onde os preconceitos são definitivamente banidos. Os que nunca foram educados a ouvir a palavra da vida, a estar atentos ao grito dos sofredores e ao clamor da mãe terra, afinam, enfim, os seus ouvidos Escutam o Deus que fala a nova linguagem da misericórdia. Em Jesus de Nazaré, os desesperados, os que haviam perdido todo o sentido de sua existência, os ‘mortos ambulantes’ recuperam a vontade de viver, de lutar, de amar e sorrir. E, finalmente, os pobres, os despossuídos da história recebem a ‘boa nova’ de que eles, na nova realeza de Deus, são maiores do que todos os profetas. Inclusive, maiores do que João Batista.

Há uma evidente polêmica subjacente ao texto evangélico hodierno. Uma espécie de rivalidade entre o grupo de Jesus e o grupo de João. Jesus, ex-discípulo de João, reconhece de um lado a grandeza da profecia de João. Do outro Jesus percebe que a profecia, agora, exigia escolhas mais ousadas, práticas mais corajosas. Não era suficiente denunciar. Nem permanecer num templo frio e sem vida. Havia acabado a época dos sacrifícios e holocaustos que cooptavam a benevolência divina. Era preciso construir e reinventar formas alternativas de coexistência humana. Práticas sociais e religiosas novas. A mera ameaça de um Deus purificador e vingador feita por João não encontra eco na sensibilidade e visão de Jesus. É justamente na crise profunda em que Israel estava mergulhado que para Jesus despontava uma oportunidade única de ‘refundação’.
Esse processo de reconstrução nacional e moral passava necessariamente pelo reconhecimento do protagonismo/existência dos ‘menores’. Na realeza de Deus inaugurada por Jesus ‘os menores’ são reconhecidos formalmente como os ‘maiores’ competentes para governar da forma que Deus quer. Na igreja de Jesus de Nazaré, eles ainda não ocupam o espaço que lhe foi reservado pelo Mestre da Galileia. Os sinais oferecidos estão longe de provar que aos pequenos/pobres pertence o ‘reino de Deus’!

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