segunda-feira, 30 de maio de 2011

Liderança do quilombo Charco, Vicente Ferrer, sofre atentado

Enquanto o mundo tomava conhecimento do assassinato de Dinho, sobrevivente do massacre de Corumbiara – Rondônia, ocorrido em 1996, no mesmo dia aqui no Maranhão, mas precisamente em São Vicente Ferrer, o sindicalista Almirandi Pereira Costa, 41 anos, casado, pai de 3 filhos e vice-presidente da associação quilombola de Charco sofria uma tentativa de assassinato. lmirandi está na luta pela titulação do território quilombola do Charco em conflito com Gentil Gomes, pai de Manoel de Jesus Martins Gomes e Antônio Martins Gomes, recentemente beneficiados por um salvo-conduto concedido pelo TJ-MA. Os dois estão denunciados pelo Ministério Público Estadual sob a acusação de serem os mandantes do assassinato de Flaviano Pinto Neto, líder do mesmo quilombo, no dia 30 de outubro de 2010. A tentativa ocorreu por volta das 21h30min do dia 27 de maio, depois de ele ter voltado de uma reunião no quilombo Charco. Segundo o próprio Almirandi, ele estava na sala de sua casa com as portas fechadas quando ouviu parar em frente da mesma um carro modelo celta, de cor preta, de onde, depois de alguns minutos, foram feitos 03 disparos. Segundo a polícia civil de São Vicente Ferrer, trata-se de uma pistola calibre 380 – igual à arma utilizada para matar Flaviano. O governo federal DESCUMPRE a Constituição Federal que determina a titulação das terras ocupadas pelas comunidades remanescentes de quilombos ao cortar recursos do Orçamento Público Federal – do Ministério do Desenvolvimento Agrário ao qual está vinculado o INCRA.


(Tirado da CPT/MA, por Inaldo Serejo e re-elaborado pelo blogueiro)

sábado, 28 de maio de 2011

VI domingo de Páscoa - Amar para viver e superar a pulsão da destruição (Jo.14, 15-26)



No ser humano parecem existir duas grandes pulsões: o amor e a morte/destruição. As duas o mantém em permanente estado de alerta. Fazem-no sentir ‘vivo’, construtor ou destruidor que seja. A vivência concreta do amor, - amar e ser amado, - o capacita a enfrentar tudo. Por amor o ser humano agüenta o sofrimento, a dor, a angústia, a morte. Aprende a compreender que tudo isso pode ter sentido se encarado por um coração que ama, ou que é amado. Isso lhe permite resistir e não desanimar ou desesperar diante dos grandes desafios existenciais. Diante de seus aparentes ou reais fracassos. E sente-se suficientemente forte para combater a outra pulsão que está dentro dele: destruir e matar. Esta se apresenta como pulsão contrária à vida. Contrária ao amor criador. As duas dimensões-pulsões convivem, inexoravelmente, dentro do mesmo ser. Poderá prevalecer ora uma ora outra, a depender das escolhas, decisões, nível de consciência, projeto de vida, educação que o ser humano herdar e/ou assumir para si e para os demais.


Os primeiros discípulos/as de Jesus procuram re-iniciar a sua vida sem poder contar com a presença física e amável do mestre. A lembrança dele continua forte, mas, inicialmente, não suficientemente inspiradora e intensa para senti-Lo ainda vivo e atuante dentro e no meio deles/as. Progressivamente, o trauma da morte violenta deixa lugar a sentimentos e expectativas inéditas. Descobrem quase que coletivamente que o amor para com o mestre se intensifica na medida em que reproduzem os seus mesmos gestos de amor e compaixão. Ao amar os não amados descobrem-no vivo novamente e eles também começam a re-viver. A pulsão destruidora é superada e suplantada pela pulsão amorosa. É uma experiência única. Só aqueles que a conhecem e a vivem podem perceber, ver e sentir a sua importância transformadora. Aos que se deixam arrastar ainda pela força da destruição, incapazes de sentir e seguir o amor que recria só lhes resta o vazio interior, o sentimento de orfandade, a não vida. A igreja hoje é chamada a ser testemunha do amor que acolhe e faz viver. Deve deixar de lado atitudes e ameaças que, embora subliminarmente, apontam para a punição, o castigo, a ameaça, o fogo eterno. É chamada a proclamar e a viver radicalmente o amor que acolhe, que recria, e dá sentido à existência humana. Um amor que só pode vir do Pai, o Deus- amor infinito. Ilimitado amor!

sábado, 21 de maio de 2011

A difícil missão de revelar 'deus', o insondável - V domingo -

Quem pode mostrar Deus, o invisível? Tornar conhecido aquele que não se deixa conhecer? Mais ainda, acreditar numa sua determinada existência e anunciá-lo sem incorrer no perigo de distorcer a sua identidade e de manipulá-lo? Deus não se encaixa nas representações que nós humanos fazemos a seu respeito. Não pode ser sequer identificado com um ‘ser humano’, homem ou mulher que seja. Nem com uma vaga e ilimitada expansão de energia, mesmo que eterna ou infinita. Ele é e continuará a ser o ‘totalmente outro’. O insondável. Aquele que não se deixa ‘provar e dissecar’ nos laboratórios da teologia, da filosofia, das religiões, das dissertações sobre espiritualidade e mística. Mas por que, então, em nome de Deus se fizeram guerras santas? Por que pessoas foram conduzidas à fogueira por tentar atribuir a Deus uma determinada dimensão por outras que atribuíam a Deus dimensões diferentes?


Por que líderes políticos, crentes ou não, igrejas de diferentes denominações, homens e mulheres de diferentes culturas continuam a invocá-lo e constroem templos e dogmas para supostamente facilitar o encontro com ele? Sob o nome de Deus sempre se tem escondido projetos de poder e de manipulação de alguns sobre outros. Deus tem sido utilizado como pára-choque e como bandeira para exigir submissão, obediência cega, aniquilação da vontade, da consciência e da autonomia pessoal. Já o segundo mandamento nos alertava sobre a tentação-perigo de ‘não pronunciar em vão o nome de Deus’, ou seja, de não utilizá-lo a torto e a direito para impor ou veicular interesses e projetos pessoais ou de grupo. ‘Para não prejudicar o próprio irmão’, nos diz outra versão, sempre do segundo mandamento.


Jesus adotou uma imagem de Deus. A que lhe foi ensinada, ou que andou construindo progressivamente ao longo da sua vida e com a qual se sentiu bem. Jesus, pelos relatos evangélicos, concebeu deus como pai. Tentou agir e se comportar como um pai, tal como eram educados a se comportarem os verdadeiros pais na cultura em que Jesus foi socializado. Os discípulos/as de Jesus no seu amor para com os pobres, doentes pecadores viram nele uma carga tão intensa de humanidade tão despida de todo poder ‘divino’ que começaram a acreditar que Jesus poderia ser a revelação do próprio Deus invisível, insondável. Jesus de Nazaré revelou a outra face de ‘Deus’. Não o deus do palácio e do templo que era manipulado e usado para impor interesses e poderes pessoais, mas o Deus dos pequenos, dos simples. Enfim, dos órfãos de afeto, de apoio moral, de esperança, da paz. Talvez isso não corresponda à verdadeira essência/identidade objetiva de Deus, - que permanecerá insondável - mas certamente pode dar sentido real e histórico a muitos humanos em sua luta por vida plena, por justiça, e por felicidade.

sábado, 7 de maio de 2011

Os 'muitos discípulos/as de Emaus: retornar a Jerusalém para fazer do lugar da morte o lugar da vida nova! (Lc. 24,13-35)



Desilusões e decepções fazem parte da vida. Mas nem sempre conseguimos compreendê-las e aceitá-las. Às vezes, nos sentimos como se tivéssemos sido traídos! Elas nos parecem vinganças e punições da vida por termos acreditado demais. Por termos sonhado de forma exagerada. Por termos idealizado sobremaneira pessoas, princípios, promessas, ideais de vida. Parece até que quanto maior foi o nosso grau de idealização e expectativa na vida, maior foi a decepção quando não plenamente realizada. Embora as decepções sejam pontuais, e tenham uma duração limitada, deixam uma marca indelével no nosso modo de encarar a vida. Fazem surgir dentro de nós sentimentos generalizados de desconfiança. Até os momentos bonitos da vida são vivenciados com suspeita, pois imaginamos que vão durar pouco. Que algo grave vai acontecer para fazer ruir a magia daquele momento. É preciso uma radical conversão de mentalidade para poder enfrentar as contrariedades da vida com mais equilíbrio e serenidade. Isto poderá ocorrer se fatos inesperados, novos, nos quais não havíamos posto fé e confiança, nos surpreenderem positivamente. Se tivermos, ao mesmo tempo, capacidade de fazer memória de fatos positivos que marcaram a nossa história pessoal. Isto poderá nos ajudar e recuperar confiança em nós mesmos e na vida. Recomeçar e olhar o futuro com outros e renovados olhos....


Parece ter sido esta também a experiência dos dois discípulos de Emaus! Os dois haviam alimentado uma enorme e, talvez, irreal expectativa com relação ao futuro de Israel, a partir da ‘passagem’ de Jesus de Nazaré! Jesus havia sinalizado algo novo nas relações humanas, sociais e políticas dos seus contemporâneos. Algo que foi interpretado pelos dois e por muitos outros admiradores como uma possível e positiva ruptura com o passado e o presente de Israel. A morte violenta e humilhante do líder Jesus parece haver trazido todos os sonhos e as idealizações de mudança de muita gente à crua realidade. Sentimentos de decepção, de desnorteamento, de frustração. De dor e, talvez, de raiva por ter ‘se deixado iludir’....Os discípulos precisavam se afastar imediatamente de Jerusalém. Ela só lhes fazia recordar morte e frustração. Era o lugar da crucifixão e da eliminação dos seus sonhos e esperanças. Tornava-se urgente regressar ou, talvez, fugir aos lugares originais, aos afazeres do dia-a-dia, ‘à realidade crua’ que haviam momentaneamente abandonado.


É interessante observar no texto evangélico que na medida em que os dois discípulos se afastam de Jerusalém, mais lucidez adquirem sobre o que lhes aconteceu. Inicialmente de forma confusa, estranha, incompreensível. Na medida em que avançam pelo ‘caminho’, - que já não é estrada, mas processo de recordação e compreensão dos acontecimentos da sua vida – avança também o grau da sua consciência e da sua capacidade de ler o sentido daqueles acontecimentos. Já não é um exercício de mera recordação. É um reviver, um re-sentir, um reproduzir de forma intensa aqueles gestos, palavras, relações de afetos, paz, vontade de transformar que os haviam tocado em sua breve convivência com Jesus de Nazaré. Essa nova e progressiva consciência alcança o seu ápice quando começam a reproduzir o mesmo gesto/experiência de partir e partilhar o pão da fraternidade, do serviço gratuito, da misericórdia ampla que haviam visto e aprendido de Jesus de Nazaré.


Somente nessa hora os dois discípulos compreendem que também Jerusalém podia se transformar de um lugar de morte e de humilhação, em um lugar de vida nova. Não precisavam mais se afastar dela para esquecer o próprio passado. Ou para recomeçar num outro lugar que não recordasse o próprio passado. Ao contrário, precisavam encarar o lugar da morte com outros olhos. Descobrir que no lugar da humilhação podia surgir vida, esperança renovada. E fazer memória das ‘ilusões/expectativas’ de ontem e de hoje que vinham dando sentido à sua vida. Só nesses momentos os dois, ‘os muitos’ discípulos/as de Emaus-Jerusalém e do mundo descobrem que o ‘peregrino’ Jesus sempre havia estado com eles ao longo do seu caminhar.



Homenagem - A todas as mães que caminham ao lado dos seus filhos/as de forma delicada, permanente, amorosa, sem largá-los/as em seus momentos mais difíceis, um grande e terno abraço filial! FELIZ DIA DAS MÃES!