quinta-feira, 23 de junho de 2011

Festa do CORPUS - No milagre do pão oferecido a presença do corpo e do sangue de quem doa!





‘Debulhar o trigo, recolher cada bago do trigo, forjar do trigo o milagre do pão....’ O pão por si só é um milagre. O milagre começa quando o trigo semeado passa meses debaixo da terra fria e obscura. No isolamento e na solidão ele germina. Ao encher a espiga é recolhido, debulhado e triturado. Parece perder a sua identidade de trigo ao assumir a identidade de farinha, de pó branco. O milagre se torna mais surpreendente quando a farinha misturada com água e fermento e levada ao forno parece multiplicar exageradamente o seu volume, e se torna alimento inigualável.



Espantoso, contudo, é quando o pão repartido se torna presença provocadora daquele que o doa. Quando um humano compreende que outros humanos não têm acesso a ele, e movido pela compaixão e pela justiça, o oferece aos famintos. Dessa forma, aquele que partilha e doa o pão está de algum modo presente naquele pão/gesto que ele mesmo doou. O pão oferecido/doado já não é uma mera mistura de vários ingredientes, mas um sinal/sacramento que aponta para uma presença. Uma presença que incomoda porque de um lado revela/denuncia a existência da fome, da negação do direito à vida, da injusta distribuição dos bens. E do outro sinaliza que a sua superação consiste no oferecimento gratuito, na doação e na partilha radical do pão. Algo que exige transformação de atitudes, de relações sociais e econômicas, de equidade. Ou seja, algo que não é simplesmente fruto da generosidade, da espontaneidade e da sensibilidade de uma ou outra pessoa, mas que exige um novo jeito de estar e de ser no mundo, na sociedade. O milagre se consumirá plenamente quando os próprios famintos ao matarem a sua fome – e movidos pela compaixão – repartirão, por sua vez, o pão com outros famintos. E não permitirão que ninguém lhes seqüestre pão e futuro.


Jesus de Nazaré antes de morrer promoveu e patrocinou um ‘banquete ideal’, mas real. Todos são chamados a participar dele, mas principalmente a construí-lo. A presença de Jesus doador no pão oferecido se mistura harmoniosamente com a daqueles que o recebem. Estes, por sua vez, re-criam a comunhão/presença com aqueles que nunca foram convidados a algum tipo de banquete para ...........'se fartar de pão’ ....e de vida!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Urgentes indígenas




Caos na Educação escolar indígena do Maranhão


Para a Secretaria Estadual de Educação (SEEDUC) do Maranhão a educação escolar indígena no Estado ‘está a funcionar muito bem’. Alvo de críticas procedentes, a Secretaria se limita a defender o indefensável, sem sequer ter o pudor de ensaiar uma leve autocrítica. De fato, faz um ano meio que as escolas indígenas estão literalmente paradas. Salvo excelentes exceções as escolas indígenas permanecem inativas desde o início de 2010. Foi mudado o sistema de contratação de professores, de transporte escolar, mas tudo continua igual. Não há fiscalização, nem formação continuada. Permanece o medo dos funcionários urbanos de ‘descer’ às aldeias... O jeito é se limitar a mandar a grana para o pagamento para maneirar a barra. E ‘cada um por si, e Deus por todos’! Quem acompanha a questão sabe que é algo complexo. Cabe, portanto, a humildade por parte da Secretaria Estadual de Educação de reconhecer a própria incapacidade de encontrar saídas consensuais e convocar MEC, indígenas, Universidades, Entidades Indigenistas e fechar um grande acordo. Só olhando para as próprias contradições, sem omissão, é que se pode encontrar um desfecho para um setor central no futuro dos povos indígenas no Estado.


Madeireiros sempre mais ousados nas terras idígenas do Estado 


Dezenas de madeireiro invadiram as aldeias e ocuparam as TI Araribóia, Cana Brava e Grajaú, localizadas nos municípios de Bom Jesus das Selvas, Grajaú e Barra do Corda. Por conta do desmatamento indiscriminado e de outros crimes ambientais, é de tensão o clima entres madeireiros e os índios guajajaras da aldeia Yporangatu, em Bom Jesus das Selvas, na Região do Vale do Pindaré, distante cerca de 350 km de São Luís. O clima tenso está deixando insatisfeitos os povos indígenas de diversas aldeias. A denúncia foi feita por lideranças indígenas, sob o comando de Itamar de Sousa Guajajaras, que defende a realização de uma audiência pública na região para tentar evitar o agravamento da crise. De acordo com a denúncia, dezenas de madeireiros invadiram as aldeias e ocuparam as terras indígenas Araribóia, Cana Brava e Grajaú, localizadas nos municípios de Bom Jesus das Selvas, Grajaú e Barra do Corda. Durante a ocupação, que se agravou nos últimos dias, centenas de árvores foram e continuam sendo derrubadas pelos ocupantes, de forma indiscriminada e ilegal. Ao mesmo tempo em que as reservas florestais localizadas nas terras indígenas estão sendo destruídas, os madeireiros construíram fornos e carvoarias, estão transportando as toras de madeiras para outras regiões, burlando a fiscalização da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). De acordo com o líder indígena Itamar Guajajaras, a fiscalização dos órgãos federais existe, mas é pífia. Ele considera o número de fiscais insuficiente para combater o número de pessoas que vêm praticando crimes ambientais na região, acrescentando que não está descartado um confronto armado entre índios e brancos. (Fonte: Jornal O Estado do Maranhão)

sábado, 18 de junho de 2011

santissima trindade, Santíssima Humanidade!

Falar em Trindade é falar da vocação e do destino do ser vivo humano. Contemplar um Deus-Pai invisível que se torna visível na prática compassiva de um humano Jesus. Reconhecer neste a mesma substância do Deus Pai invisível significa cultuar a humanidade daqueles que reproduzem compaixão e justiça tal como o ‘filho’ - irmão nosso fez. Invocar o Espírito Santo de Deus significa crer que essa relação amorosa, recíproca e inconfundível entre Pai e filho/irmão é extensiva a todos os humanos que se pautam pela humanidade testemunhada por Jesus, e por outros humanos cheios de compaixão.


A questão ‘Deus’ sempre tem rendido muito ao longo dos séculos. Se existe ou não. E se existe, qual seria a sua identidade. Seria a multiforme identidade que aparece na bíblia, ou seria bem maior das imagens identitárias que são apresentadas pelos ‘textos sagrados’ e na pessoa de Jesus Cristo? Afinal, isto seria uma mera produção e projeção cultural específica ou algo mais? Ou uma espécie de ‘revelação’ direta do próprio divino ....que não se deixa ver? Deus seria um conceito que sintetiza a ‘energia vital, cósmica’ que envolve o que existe ou algo mais ‘pessoal’? E se Deus não existe, como explicar a existência da ‘matéria’ que existe. De um início criador pelo qual a matéria surge do ‘nada’. Falsos problemas. Questionamentos inadequados.


A questão Deus terá algum tipo de encaminhamento quando enfrentarmos a questão ‘ser humano’, ou a questão ‘seres vivos’ históricos. Ou seja, quando os humanos conseguirem descobrir a sua ‘vocação divina’ no universo. Quando souberem perceber as potencialidades da plena humanidade que possuem dentro de si. Quando colocarem essa humanidade a serviço da vida de seus pares, dos demais seres vivos e do habitat em que vivem. Quando movidos por fortes valores, atitudes e mecanismos de justiça – elaborados com humanidade – os humanos eliminarem tantas desigualdades e formas de exclusão que eles mesmos geraram. Quando perceberem que a sua humanidade não seria tal se dependesse exclusivamente da sua livre opção de vida. Que se os humanos, afinal, são humanos é porque o divino se apossou deles.


É graças a esse divino-humano que os humanos possuem com o ‘todo’ uma relação imbuída de criatividade, de ousadia, de consciência nova. A que extrapola os limites da matéria palpável e decifrável. Dos dogmas frios e cristalizados que não motivam e nem inspiram práticas e opções inéditas. Descobrir, enfim, que nós humanos somos sim os que revelam o mutável rosto de um Deus que não tem medo de ser confundido com um humano carente de compaixão, de reconhecimento, de estima e de afeto.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Pentecostes - Criatividade, ousadia, profetismo,...e muito mais!



As representações simbólicas e plásticas que herdamos a respeito de pentecostes continuam condicionando e alimentando a nossa concepção e vivência do Espírito. Buscamos definições satisfatórias sobre Ele. Conceitos e interpretações que matem a nossa sede e desejo de compreender a Sua ação. Damos fé que frequentemente reproduzimos na catequese o ‘senso comum’ imperante sobre o Espírito. Falamos, enfim, obviedades sobre ‘Ele’. Esforçamo-nos para encontrar critérios comuns para discernir o que vem Dele e o que poderia ser produto humano. Pois bem, o Espírito foge de tudo isso. Seria mais fácil dizer o que Ele não é, onde Ele não pode ser achado, do que dizer quem efetivamente Ele é! Não vem ao caso. Nem esse esforço compensaria.


O Espírito existe para ser somente ‘sentido’ e interiorizado. Para motivar ações e escolhas corajosas e escancarar portas fechadas e corações endurecidos. Para derrubar dogmas oprimentes e ritualismos vazios. Ora Ele age na pessoa compreendida como individualidade única, e o molda de forma inédita. Ora age dentro de uma comunidade, ajudando as pessoas a tomar consciência simultaneamente de forma que podem agir como se fossem um ‘ser só’! Tudo isso com tempos e ritmos próprios, dificilmente identificáveis. E sem que um agente externo, supostamente legitimado, confirme ou não a Sua presença numa determinada ação. Na maioria das vezes, vislumbramos e sentimos a sua presença depois que tudo passou. Depois que agimos de modo singular, inovador e criativo. Às vezes intuímos que foi o Espírito à distância de anos, quando relemos com outros olhos a nossa vida, o nosso passado.


Pentecostes não representa um acontecimento diferente da tomada de consciência coletiva dos seguidores de Jesus pela qual o Mestre continuava vivo (ressurreição), mesmo que morto. Que Ele estava agindo com e por eles/as pelos caminhos das ‘Galiléias’ da vida, mesmo que sentado à direita do Pai (Ascensão). Pentecostes é a tomada de consciência histórica e o reconhecimento por parte dos seguidores de Jesus da legitimidade que cada um/a deles/as tinha em anunciá-lo e testemunhá-lo de forma autônoma, criativa, atualizada. Percebendo que na multiplicidade dos seus testemunhos há um único Jesus que os congrega, os envia, e descentraliza carismas e ministérios na permanente construção do reino da vida. Que Pentecostes seja liberdade ilimitada para anunciar, celebrar e testemunhar o Jesus Vivo que é patrimônio de todos os seres vivos e não somente de algumas igrejas ou de algumas religiões.




segunda-feira, 6 de junho de 2011

Dia do meio-ambiente - promover a biodiversidade ou....morrer!

Ou a espécie humana protege e promove a diversidade das formas de vida ou ela risca desaparecer. Em outras palavras: ou o ser humano aprende a raciocinar e a agir de forma biocêntrica, - em detrimento da sua visão-prática antropocêntrica – ou proximamente não estaremos aqui para narrar como acabará a aventura hominídea no planeta Gaia! Já passou a época em que defender o meio ambiente era defender espécies animais ou vegetais raras e/ou em extinção. Já passou a época em que se achava que a natureza produz bens infinitos, inesgotáveis. Já passou a época em que zelar pelo ambiente significava somente coletar seletivamente o lixo e destiná-lo a um lugar que não contamine o subsolo ou a atmosfera. Já passou a época em que era necessário emitir na biosfera menos poluentes de carbono e outros produtos afins. Já foi superada a expressão ‘preservar o meio ambiente’, pois significaria congelar um ambiente que já está profundamente degradado. No caso, valeria só para ambientes ainda não contaminados pela ação humana, que não existem mais! Hoje a espécie hominídea é o dinossauro de antigamente. Destrói, agride, domina, queima, descarta, consome e extrai bens naturais de forma irracional e compulsiva. Parece um ser tresloucado, sem rumo e sem controle sobre si. Uma máquina mortífera. Essa espécie, - uma dentre os 10 milhões existentes no planeta, - modificou tanto as condições de vida do ambiente em que ela mesma vive que vem colocando em xeque a sua própria sobrevivência. No Dia Internacional do Meio Ambiente o que está em jogo não são as ações específicas desse ou daquele ser vivo, nem o mero esforço para melhorar a qualidade do ar, ou inibir a pulsão consumista dos humanos, mas fazer uma ampla e radical opção em favor da vida na sua globalidade. Em favor da vida dos micro-organismos, das espécies vegetais e animais, etc. porque, afinal, de forma antropocêntrica e egoísta, são as que lhe garante sobrevivência e sobrevivência digna. Parar é preciso!

sábado, 4 de junho de 2011

Ascensão: um novo envio a partir da Galiléia das nações!

Às vezes é preciso voltar ao ponto de partida. No começo de tudo. Mergulhar naquelas experiências que marcaram positivamente a nossa vida. Não tanto para repetir algo impossível a ser repetido. Mas para regressar aos lugares recônditos do coração, da revelação, da manifestação original. De tudo aquilo que começou a dar sentido à nossa vida. Não para matar antiquadas saudades de um romantismo espiritual ou existencial. Mas para nos deixar batizar novamente nas fontes que nos mudaram. Que transformaram pensamentos e práticas concretas. Esta foi a experiência de um bom grupo de discípulos/as de Jesus de Nazaré após a sua morte. Regressar à Galiléia das nações. A Galiléia dos impuros e dos pagãos. Dos rebeldes e inconformados. A Galiléia que conheceu um jovem da sua terra espalhar misericórdia e compaixão aos esquecidos da terra. Aquela Galiléia que num determinado momento havia sido preterida por Jesus. Talvez por achar que em Jerusalém teria tido mais chances para fazer deslanchar a ‘realeza de Deus’. Ou, talvez, por achar que ninguém é profeta mesmo em sua própria pátria. E não valia mais a pena insistir.


Os discípulos/as galileus de Jesus não voltam somente para reencontrar os seus familiares, e regressar ao cotidiano anterior à morte de Jesus. Voltam para sentir novamente as emoções de re-percorrer povoados, aldeias, veredas, e caminhos conhecidos. Neles haviam conhecido um outro jeito de viver e lutar. Voltam às experiências fundacionais. Ao que os havia transformados de pescadores, lavradores, impuros sociais em parceiros de um mestre que muito haviam admirado, mas do qual pouco haviam entendido. Precisaram fazer a experiência traumática da perda do amigo mestre para compreender que tudo havia começado não nas capitais e nas cidades opulentas e influentes, mas lá na sua própria terra discriminada e anônima. Com um co-nacional idealista e sonhador. Compreendem que mesmo na recordação carregada de afeto, devoção verdadeira e amor, ele se foi. Cabia a eles/as, agora, aqui, na mesma terra, dar continuidade ao que todos eles haviam iniciado alguns anos antes. No ‘monte do encontro e da revelação’ fazem novamente a experiência de se sentirem chamados e enviados. Não mais às ovelhas perdidas de Israel, mas a todas, indistintamente.


Sentem ecoar dentro deles/as a mesma voz do itinerante Jesus que ‘inconformado’ os impele a saírem. A irem à procura das ovelhas feridas, desgarradas, perdidas. Para batizá-las na esperança, na vida plena, na comunhão com Pai. Não mais para serem objeto de compaixão, mas para serem discípulos/as de um novo Jesus. O Jesus que age, se move, e anuncia mediante eles e elas. A mesma nuvem que havia envolvido Jesus no Jordão abrindo os seus olhos e o seu coração agora envolve os próprios discípulos/as. Chama-os e envia-os como se fossem outros/as ‘Jesus’. Já não há mais separação entre céu e terra. Entre vida e morte. Entre espiritual e material. Todos estão no Todo. Num universo de luz e comunhão.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Belo Monte: a farsa do Comitê Gestor


O circo para instituir o Comitê Gestor do Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável (PDRS) do Xingu, hoje, dia 3 de junho, em Altamira (PA), não aconteceu da forma que o Governo Federal, o consórcio Norte Energia e latifundiários queriam. Em ato político conduzido pelo Movimento Xingu Vivo Para Sempre, povos indígenas tomaram a mesa da primeira reunião e denunciaram manipulação na indicação de indígenas ao comitê. Integrantes da Casa Civil e da Secretaria Especial da Presidência da República conduziam a farsa. Antônia Melo, líder do Xingu Vivo, leu nota de repúdio a licença concedida pelo Ibama à construção da usina hidrelétrica de Belo Monte e ao final todos se retiraram em flagrante sinal de que não reconhecem o Comitê Gestor - composto por representantes dos governos federal, estadual e municipais, entidades patronais e supostamente por comunidades indígenas, movimentos sociais, organizações ambientais, entidades sindicais dos trabalhadores rurais, urbanos e de pescadores.Conforme relatos de quem estava no ato, enquanto representantes do governo tentavam dar início à reunião e diziam que Belo Monte não seria como Tucuruí (usina hidrelétrica instalada também no Pará), nas palavras do deputado federal Zé Geraldo (PT/PA), fazendeiros e madeireiros bradavam xingamentos racistas contra os indígenas e demais integrantes do Movimento Xingu Vivo. Aos cochichos, ameaçavam de morte e outras violências quem estava ali contra a farsa do Comitê Gestor e o crime de Belo Monte. A presença do governo não os intimidou. Ao contrário, parece ter incentivado.Conversamos com alguns indígenas Arara que estavam listados como membros do Comitê e não sabiam de nada. Sequer foram consultados", disse Éden Magalhães, secretário do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) presente no ato do Movimento Xingu Vivo. A indígena Sheila Juruna, importante liderança dos povos originários, ressaltou que os indígenas não foram consultados sobre o grande empreendimento e tampouco sobre a composição do Comitê. Disse que a resistência a Belo Monte não vai cessar. Ontem, 2 de junho, a presidente Dilma Roussef determinou ao ministro da Justiça José Eduardo Cardozo o envio da Força Nacional ao Pará. A justificativa foi o quinto assassinato, em menos de duas semanas, de uma liderança camponesa. No entanto, a primeira tarefa da Força Nacional foi cumprida nesta reunião do Comitê Gestor como forma de intimidar ações de protesto da militância contrária a construção da usina de Belo Monte. (Fonte: Renata Santana)