sábado, 27 de agosto de 2011

Um outro 'messias' é possível (Mt.16,21-28)



Vivemos numa sociedade que nos ‘educa e nos força’ a sermos/aparecermos vencedores. Sempre, e em tudo. Competição, rivalidades, confrontos abertos ou disfarçados são os elementos emergentes de quem tem que ganhar sempre. De quem tem que prevalecer sobre pessoas e realidades. Não importa se pisando em valores, sensibilidades, e princípios. Sentimos que estamos numa espiral em que aquele que não é, – ou não aparece, - ‘super-homem/super-mulher’ é um fracassado. Esses ‘super-homens, ou super-mulheres’ se apresentam, e são apresentados, como os únicos verdadeiros modelos a serem imitados. Exemplos visíveis de que todos podemos ser como eles/as: sempre vencedores! Afinal, esses super-humanos sabem como superar desafios e como evitar a dor, os sofrimentos, as angústias da vida. Realidades ‘típicas’ dos frágeis, dos humanos. O evangelho de hoje - que dá continuidade ao de domingo passado, - nos ilumina sobre esses aspectos que são inevitáveis para os humanos, mas que nem sempre eles sabem lidar de forma equilibrada e aberta. Jesus foi visto pelos seus discípulos como um possível futuro ‘vencedor’.


O Mestre, de fato, oferecia muitos sinais que induziam a pensar isso. Talvez o próprio Jesus tenha se sentido levado a pensar que algo novo estava para acontecer. E que ele era um instrumento para tanto. Tinha a consciência de que Deus estava com ele. Mais que isso: que o próprio Deus faria o que ele vinha fazendo. Que jamais iria fracassar. Jesus, porém, num determinado momento da sua missão começa a experimentar a rejeição e a desistência de vários discípulos. Sente que havia gerado expectativas que nem ele próprio conseguia mais controlar. Jesus se descobre homem frágil, inseguro, um ‘humano normal’, e não um super-homem. Ao mesmo tempo, porém, profundamente convicto da justeza da sua missão, que tinha que continuar firme no seu propósito, mas tem que tomar uma decisão clara e inequívoca. Uma decisão que iria decepcionar e criar mais rejeição à sua pessoa e missão. De um lado tinha que combater as falsas expectativas messiânicas. De um messias encarado unicamente como vencedor e todo-poderoso. Do outro, encarar a fragilidade, o sofrimento e a angústia humana -algo desconhecido para um messias, - não como impedimentos à construção e à realização plena do reino, mas como caminho natural, ordinário, normal. Dessa forma Jesus esvazia o conceito de ‘messias’ vencedor e plenipotenciário. Algo que só um ‘super-homem’ podia incorporar e realizar. E expande o conceito/prática de ‘messias’ ao apontar todos os ‘humanos frágeis, sofredores, provados’ como únicos executores de um ‘outro reino’, de uma outra prática missionária.


A cruz que é vista como desmoralização para quantos deificam a postura do ‘potente vencedor’ como único artífice de mudanças, se torna com Jesus a ‘conditio sine qua non’ – a condição sem a qual ninguém construirá algo novo e sólido sem possuir a capacidade de encarar e carregar as próprias e alheias fragilidades. O ‘novo messias’, para Jesus, não é mais uma pessoa individual, mas um povo. Um grupo capaz de alimentar e reaquecer novos sonhos, sem desistir, sem se deixar vencer pelas atitudes prepotentes dos aparentes ‘vencedores’. Um grupo, geralmente minoritário, capaz de carregar a própria cruz, e generoso em carregar a cruz alheia. Porque, ao fazer isso, estará aliviando o peso da sua própria cruz. E estará indicando para si e para o mundo que o sofrimento e o fracasso não são o fim dos sonhos de transformação, mas que são caminhos inevitáveis –infelizmente ou não - dos ‘humanos’ que querem construir mais ‘ressurreições’!



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