terça-feira, 27 de setembro de 2011

Falando em educação escolar indígena......

Educação escolar indígena, a história de uma farsa!
Desalentador é o mínimo que se pode dizer sobre a questão da educação escolar indígena no Estado. Continua a mesma irresponsabilidade de sempre. Os professores das escolas indígenas não recebem seus vencimentos há mais de quatro meses. E não há nenhuma perspectiva imediata que o problema seja solucionado em tempos curtos. Já virou caso nacional. E pensar que este ano não teve ‘seletivo’ o que teria acarretado mais atrasos e complicações burocráticas! Entra ano e sai ano, entra governo e sai governo, aqui no Maranhão não se muda a tradição. Como em time que ‘ganha’ não se mexe! Educação escolar indígena é um mero e espinhoso detalhe da vida administrativa pública. Os índios, um baita problema!

Merenda escolar para alimentar os cofres...
Como se isso não bastasse continua a novela da distribuição da merenda escolar. Sendo que é o Estado que tem essa incumbência – pelo menos por enquanto, - tenta, naturalmente, evitar a mediação de ‘indígenas espertos’ que poderiam ‘meter a mão’. Só os ingênuos acreditam que utilizando estruturas e pessoas das escolas estaduais próximas das aldeias, como vem acontecendo, evitaria o desvio já consagrado. Nas andanças desses dias só ouvi relatos de merenda que chega pela metade, e sem nenhum respeito pelo ‘cardápio indígena’. Mesmo assim, desejamos sucesso....mas não me perguntem para quem!

Transporte escolar, a verdadeira mamata!
Completando o quadro, lá vem a mamata do transporte escolar indígena. Aqui, Deus nos perdoe, são raros os ‘barra-limpa’! Há um verdadeiro conluio entre setores do Estado e algumas máfias indígenas para multiplicar o transporte escolar sem necessidade e inchar as verbas para tanto. O pior é que todo mundo sabe, e todos afirmam que estão com as mãos atadas. O Estado teme os poderosos indígenas que monopolizam o setor, mas dentro do próprio Estado há uma clara tendência em fazer corpo mole porque há gente pegando mais do que uma ‘pontinha’. Exagero! Estou doído para que haja uma CPI dos transportes escolares! Pelo menos viria à tona algumas sujeiras....pois, afinal, tudo ficaria como está, claro!

sábado, 24 de setembro de 2011

A vontade do Pai só na coerência de vida e não nas formalidades ostensivas (Mt.21,28-32)

Um círculo perfeito, parecido ao astro maior que ilumina e aquece a Gaia/terra. Um círculo que irradia equilíbrio e luz aos numerosos caminhos, verdadeiros raios, que das casas – dispostas em forma circular - convergem ao pátio central. Ao núcleo onde os homens se reúnem. No ‘espaço sagrado’ onde encontram luz e sabedoria para debater, avaliar, planejar, e decidir. Nesse espaço central de convergência e de irradiação ao mesmo tempo, os homens partilham também bens e saberes. Trocam e emprestam. Mediam conflitos e ‘conspiram’ contra quem ameaça a harmonia do povo Kanela. É a aldeia Escalvado dos índios Kanela Ramkokamekrã, municípío de Fernando Falcão, Maranhão. Cerca de 2.000 pessoas vivendo na mesma aldeia. Algo espantoso! Ontem, os visitei com um amigo sacerdote de Barra do Corda. Hoje, pensei neles ao refletir sobre a narração evangélica hodierna.

Eis aqui, pensei, um povo que nunca disse ‘sim’ ao convite a aderir a uma igreja cristã. A adotar os seus preceitos e dogmas. A adentrar em seus espaços sagrados para adorar um deus que, afinal, já estava no templo imenso do seu coração e da natureza que os hospeda e protege. Um povo que jamais disse ‘não’ ao convite de reproduzir em suas relações sociais e religiosas a solidariedade, a partilha e a justa distribuição dos bens, a atenção ao mais frágil, e a capacidade de construir junto ao outro. Para re-construir, no seu cotidiano, mais ‘sóis’ e mais luz solar para combater as espessas trevas que estão a se abater sobre eles. Sol e lua, noite e dia, luz e sombra, sim e não, constituem o conteúdo dos mitos e da prática desses povos macro-jê, a quem os Kanela pertencem. Eles expressam com seus corpos, com suas estruturas físicas, com suas complexas organizações e subdivisões as dinâmicas da vida: vida e morte, essência e aparência, alegria e dor. Um evangelho da vida não escrito, não dito, não falado. Mas manifesto pelos gestos, pelas opções, pelo ser/agir. Tal como a parábola de hoje.
No evangelho de hoje, com efeito, Jesus caracteriza as atitudes de quem compreendeu a essência da vida, e de quem se move condicionado pelas aparências. De quem age por coerência e fidelidade a um projeto de vida, e a um conjunto de valores; e de quem se preocupa com formalidades e aparências, achando que nelas está a sua segurança e realização. Jesus, na prática, desenvolve as mesmas posturas dos ‘arrogantes operários’ da ‘primeira hora’ da narração de domingo passado. Achavam que por ter aderido desde cedo ao convite de Deus tinham mais direitos que os da ‘última hora’. Hoje, Jesus nos diz que essa adesão ‘inicial’ que alguns ostentam pode ser só aparente. Da boca para fora. Não como resultado de uma opção livre e consciente, e sim como formalidade que em nada transforma. Ao passo que outros da ‘última hora, aparentemente parecem negar e rejeitar o convite a construir o reinado de Deus, mas o acolhem e a ele aderem na prática, na essência. Ou seja, nas suas opções éticas, no seu agir real, histórico.

São esses ‘filhos rebeldes’ que parecem ignorar a vontade do Pai que ajudam os ‘filhos aparentemente obedientes’ a compreender a vontade de Pai. Esta, de fato, não está num conjunto de formalidades e de belas profissões públicas de fé, ou na obediência ostensiva a preceitos e normas cultuais. Mas no cumprimento efetivo da vontade do Pai: proteger e zelar a sua vinha/reinado, construir nela mais luz. Abrir novos raios/caminhos para que possa convergir sempre mais gente, e com mais intensidade, ao núcleo/pátio onde se vive e se partilha sabedoria e fraternidade.

 

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Indígena Krepum Kateyê é assassinado em Itaipava do Grajaú

Domingo, 18, por volta das 23h o indígena Solenilson Timbira, da Nação Krepum Kateyê, foi assassinado num bar da cidade de Itaipava do Grajaú. O mesmo envolveu-se numa discussão com um não índio, de nome Valdenir Calixto, de uns 30 anos, residente em Barra do Corda. Solenilson apossou-se de uma faca, contudo, não desferiu nenhum golpe. O não índio, por sua vez, sacou de um revolver e atirou em Solenilson, que teve morte instantânea. O assassino fugiu numa moto. No momento havia apenas um policial na delegacia da cidade e alegou não ter condições de sair à procura do assassino, e sequer elaborou o Boletim de Ocorrência. Solenilson foi enterrado na aldeia Toco Preto, Terra Indígena Geralda Toco Preto, a 30 km de Itaipava do Grajaú. Era casado e pai de quatro crianças. Lamentamos profundamente a morte deste jovem. É mais uma vítima da bebida alcoólica que tem causado grandes sofrimentos entre os povos indígenas. Quanto a justiça, esperamos que o criminoso seja punido. Há menos de um mês uma indígena Canela Ramkokamekrá foi brutalmente violentada e assassinada a pauladas, por dois não índios, num povoado de Barra do Corda. Até o momento os assassinos continuam foragidos. (Nota encaminhada pela Pastoral Indigenista Diocese de Grajaú)

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Polícia investiga morte na Estrada de Ferro de Carajás


A polícia civil de Arari investiga a morte de um homem por atropelamento na Estrada de Ferro de Carajás (EFC) sob concessão da mineradora Vale, ocorrido no domingo, 18. O homem foi encontrado morto na linha férrea, próximo ao povoado de Capim –Açu, a 200 quilômetros de São Luis. De acordo com informações preliminares da polícia civil, a vitima andava pela linha férrea quando foi atropelada pelo trem.Em nota à imprensa, a Vale afirma que a convivência segura com a ferrovia depende de procedimentos simples que devem ser observados por todos, maquinistas e comunidades. No entanto, o advogado da rede Justiça nos Trilhos, Danilo Chammas, explica: "a Estrada de Ferro de Carajás é uma concessão pública, ela não é uma obra particular,uma propriedade privada. A Vale tem obrigações que vem do contrato de concessão estabelecido e das leis". Assim, para o advogado, um dos deveres que a mineradora tem é tomar todas as medidas de segurança necessárias para não acontecer qualquer tipo de acidente ao longo da ferrovia. "Se caso acontecer, a responsabilidade dela tem que ser colocada como ‘objetiva’, o que significa que não importa de quem foi a culpa, cabe a ela ressarcir todos os danos, pois foi a Vale, que detém a concessão da via férrea, que não tomou as medidas cabíveis para que acidentes não ocorressem, pois se houvesse realmente medidas tomadas por parte da empresa, esses danos não ocorreriam", elucida.


Vale mencionar, como exemplo, uma ação que tramita na 2 ª Vara Judicial do município Maranhense de Açailândia, contra a Vale, pelo atropelamento de seu trem de carga , ocorrido no km 524 da Estrada de Ferro Carajás, em fevereiro de 2008, que vitimou fatalmente Maria Lucineide Ninácio de Paula, então com 36 anos.Antes mesmo do desfecho da ação, o juiz André B. P. Santos acolheu o pedido de antecipação de tutela, determinando, em caráter liminar, que a Vale pague desde já e até o final do processo, a quantia mensal equivalente a um salário-mínimo a família.Segundo a rede Justiça nos Trilhos, a Vale, é responsável por uma série de atropelamentos ferroviários. Em 2007 foram contabilizados 23 mortos, em 2008, foram registradas nove mortes e nada menos do que 2860 acidentes. (Fonte: Marcio Zonta)

sábado, 17 de setembro de 2011

Jesus rompe com a lógica do senso comum. Inaugura o paradoxo da misericórdia e da gratuidade. (Mt.20,1-16)





Quantas vezes, ao não conseguirmos uma determinada coisa, desejamos que outros também não a tenham? Quantas vezes adotamos, de forma rígida e mesquinha, o conceito de ‘justiça’ para não dar um passo que vá além do senso comum de justiça. Para sermos mais generosos, e romper com a mera prática da ‘justiça distributiva’ em que, supostamente, cada um recebe de acordo com o que fez. Para deixar espaço à prática segundo a qual ‘quem precisa mais tem direito de receber mais’. Quantas vezes nos flagramos naquela ridícula atitude de condenar alguém que doa e perdoa só pelo gosto de doar e perdoar alguém. Achamos uma ‘injustiça’ quando nós também não nos sentimos beneficiados da mesma forma por ele. Movidos pela inveja, atacamos quem perdoa e doa, e também quem foi perdoado e recebeu gratuitamente. É justiça a que nos move ou é inveja e raiva? Por que não agradecer e ficar feliz se uma pessoa foi agraciada por alguém? Nada tirou de nós! Ao contrário, nos mostra como nós também podemos ser ousados. E romper com práticas que só servem para deixar as pessoas sempre na mesma situação. Aprender a dar chances inéditas às pessoas para que vejam um outro lado da vida. Uma dimensão que, talvez, nunca tenham conhecido antes.



As parábolas de Jesus têm uma lógica própria: a de não seguir a lógica comum. A lógica do senso comum. São, em geral, narrações paradoxais e polêmicas. Como paradoxal e polêmica é a vida, e os sentidos que lhe atribuímos! As parábolas de Jesus são, ao mesmo tempo, extremamente provocadoras. Querem suscitar nos ouvintes perguntas fundamentais: o que ele quer dizer com isto? Por que e para quem ele diz isto? A que ele está se referindo? O que está por trás do que ele fala? Ao se perguntar sobre tudo isso, o ouvinte é levado a se questionar e a responder. Ou a entrar num processo de resposta contínua. Na parábola de hoje tudo isso fica muito evidente. Na prática Jesus critica os arrogantes fariseus e escribas, os praticantes, que achavam que, – por terem trabalhado e se ‘comportado bem’ desde o início – deviam ter mais direitos de acolhida e atenção por parte de Jesus, e de Deus, do que os pecadores públicos da ‘última hora’. Os não praticantes, os convertidos da última hora. Os fariseus tinham percebido que Jesus estava introduzindo um novo critério de julgamento. Os ‘bem-comportados’ para Jesus não eram aqueles que jejuavam, celebravam, ofereciam sacrifícios desde cedo - sem, todavia, praticar a verdadeira justiça, - mas aqueles que se abriam ao convite de Jesus a entrar na ‘lógica da realeza de Deus’! Não se importando se de madrugada, ou ao meio dia, ou no entardecer da vida! Esta, que parecia ser uma ofensa à lógica comum, ao sentido comum de justiça, era a única capaz de construir um novo povo, um novo jeito de convivência humana. Ao agir dessa forma Jesus desmascara o poder da ideologia dominante que apresenta como divinas muitas posturas intolerantes, excludentes e competitivas. As posturas hipócritas de quem utiliza um falso conceito/prática de justiça para esconder a sua incapacidade de acolher e perdoar. Mais uma vez Jesus concretiza o que significa ‘os meus pensamentos, não são os vossos pensamentos’. Os pensamentos de Deus, - a lógica divina, - não são projeções humanas, frutos de interesses mesquinhos e interesseiros. De intolerâncias e invejas. Adotar a lógica divina significa assumir a lógica do perdão incondicional, da misericórdia, da generosidade sem limites. Ou seja, sermos verdadeiramente ‘humanos’!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Guarani-Kaiowá, a tragédia!

Reproduzo um artigo de Marina Silva publicado pela Folha de São Paulo no dia 16 de setembro.


Ônibus escolar lotado de crianças e adolescentes é atacado com coquetel molotov. Idoso de 72 anos morre após receber golpes na cabeça e os agressores são absolvidos de homicídio. Criança de 9 anos comete suicídio. Outra, de apenas três, morre em consequência de desnutrição - no país que é um dos celeiros do mundo - e a atenção médica só chega na hora da morte. Homens armados atacam 125 famílias, queimam suas casas feitas de lona e ferem-nos gravemente. Este último caso, longe de ser o primeiro, mas ocorrido no início deste mês, está sendo tratado pelo Ministério Público Federal como um genocídio.


Tudo isso aconteceu num único Estado, Mato Grosso do Sul. E todas as vítimas da violência foram índios da etnia guarani-kaiowá. Eis a terrível rotina de desespero e impotência sofrida por essa população, em total abandono em pleno coração do Brasil. Se fatos como os relatados tivessem acontecido com não índios, provocariam comoção nacional, chegariam ao Congresso e gerariam algum plano governamental de urgência. Mas as vítimas em questão não têm vez nem voz, não geram muitos votos. São só índios, como muitos brasileiros ainda os veem.Suas desgraças chegaram a virar notícia em alguns jornais. Mas logo foram esquecidas. A trágica realidade dos guarani-kaiowá tem piorado, até porque é tratada com incrível distanciamento pelos governos e pela sociedade.


Centenas vivem em verdadeiros campos de refugiados, em reservas pequenas demais para o tamanho de sua população. Outras centenas, entre as cercas das fazendas e à beira das estradas, vistos como resquícios indesejados de um Brasil do passado. São tratados como estrangeiros, num verdadeiro apartheid social. Relatório da Survival Internacional para o Comitê para Eliminação da Discriminação Racial da ONU 2010, com dados de 2005, aponta que 90% deles sobrevivem com cestas básicas. A expectativa de vida é de cerca de 45 anos e o índice de suicídio entre eles é 19 vezes mais alto que o nacional. Os indígenas não estão sendo beneficiados pelo impressionante desenvolvimento do país. A eles deve ser estendido o mesmo empenho que retirou tantos milhões de brasileiros da miséria. E como? Fazendo-os abandonar sua condição de indígenas? Não. Provendo-lhes terras e condições para suprir sua própria cultura e existência. Terras, há. Riqueza, também. Governo suficientemente capaz, também. O que falta? Empenho? Convicção? Falta sentido de urgência, compromisso ético e político para estender a eles os clamores por direitos humanos? Ficará vivo algum dos guarani-kaiowá para testemunhar o Brasil potência que se erguerá sobre o fim do seu mundo?

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Índio Awá-Guajá é espancado por madeireiros na terra indígena Caru, Bom Jardim





Mais uma ação de violência e desfaçatez dos madeireiros que estão a invadir e espoliar a terra indígena Awá-Guajá e Caru contra um indígena da aldeia Tiracambu, município de Bom Jardim, Maranhão. Na sexta feira passada, dia 9 de setembro, o indígena Awá-Guajá Kamayru saiu para caçar com a esposa. No meio da mata ele foi surpreendido por um grupo de madeireiros. Estes o amarraram e vendaram o seu rosto. Seqüestraram a sua arma e com ela começaram a espancá-lo com violência em várias partes do corpo, e tentaram estrangulá-lo. A esposa que estava um pouco mais afastada ao ouvir os gritos dele se aproximou, mas vendo aquela cena de agressão fugiu imediatamente temendo o pior. Alguns madeireiros deram fé da sua presença e começaram a atirar nela sem conseguir feri-la. O indígena Kamayru chegou à aldeia por volta das 19,00 h. da noite, mancando de uma pena, com vários hematomas e inchaços pelo corpo. O fato foi logo comunicado à CTL/Santa Inês e ao coordenador da Frente de Proteção etno-ambiental Awá-Guajá, Sr. Bruno, mas até o momento ninguém havia se deslocado até o local para avaliar as condições do indígena e tomar providências. Perguntamo-nos: onde está a inteligência da Polícia Federal cuja obrigação é defender o patrimônio da União e a incolumidade dos seus habitantes? Como não ter em mãos a lista dos madeireiros que atuam ilegalmente na região? Apostar unicamente em operações repressivas circunstanciais e periódicas sem solucionar na raiz as causas desses conflitos não somente aponta para a má vontade e negligência institucional, mas sinaliza algo mais.... (Fonte: Cimi/MA)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

XI Romaria de Piquiá re-afirma compromisso da igreja católica em favor das vítimas do 'neo-desenvolvimento'



Cerca de 10.000 pessoas se concentraram entre o dia 10 e 11 de setembro em Piquiá para participar e celebrar a XI Romaria da terra e das águas do Maranhão. Todas as dioceses do nosso estado estavam lá, nesse minúsculo, mas representativo povoado de Açailândia. Animação e criatividade na liturgia. Fluidez e dinamicidade nos diferentes depoimentos e apresentações das representações diocesanas ao longo da noite de 10 para 11. Determinação e clareza nas denúncias contra quem, em nome de um fantasmagórico desenvolvimento, vem produzindo novas formas de dependência e escravidão. Comprometimento decidido da igreja católica ao lado das vítimas desse ciclo de novo milagre econômico. Apoio aos indígenas em cujos territórios a espoliação reina inconteste. Solidariedade aos quilombolas cujos territórios não só não são reconhecidos, mas são sistematicamente invadidos ameaçando a vida e o futuro de seus tradicionais ocupantes. Aliança renovada com todas aquelas comunidades rurais que pagam na pele e na dignidade ferida as conseqüências da implantação de grandes projetos e obras. Uma Romaria que veio para confirmar a decisão da igreja católica já tomada e reafirmada em outros momentos, mas que agora assume um significado especial.


De fato, parece existir um certo deslumbre no Estado com tudo o que cheira a projetos, programas federais, industrialização, etc. Principalmente nesse Estado, com índices sociais e econômicos, e de desenvolvimento humano entre os mais baixos. Muitos entendem que é o momento oportuno para que o estado cresça e se firme definitivamente, garantindo a esses habitantes, emprego, segurança, estabilidade, fartura. Poucos dão fé que não há e não haverá espaço para todos nessas empreitadas econômicas e sociais. Que o preço a ser pago por todos para conseguir alguma coisa será alto. Alto demais. @s romeir@s de Piquiá vieram aqui para dizer que não são contra o crescimento, desde que seja integral e para tod@s. Que não são contra a industrialização, desde que seja respeitosa do ambiente e dos direitos trabalhistas. Que não são contra os programas sociais desde que não sejam uma forma para manter manso e dependente um povo que quer ser reconhecido como sujeito ativo, produtivo, criativo, capaz. Outras Romarias virão. São aquelas promovidas todos os dias por comunidades e pessoas inconformadas à procura de justiça e dignidade. E com a bênção do Criador!

sábado, 10 de setembro de 2011

Perdoar sem se omitir. Ser compassivo sem ser cúmplice! (MT.18,21-35)

Cotidianamente assistimos a inúmeros casos de violência e injustiças. Violência gratuita, brutal, inconcebível. Revoltante e injustificável. Injustiças que machucam a alma, a dignidade. O que temos de mais profundo e motivador. Que produzem outras injustiças. E criam a anti-cultura de que o mundo é dos espertinhos, dos ‘sem escrúpulos’. Que, afinal, nada pega para eles. Que a justiça e o respeito pelo outro são meras ilusões de alguns ‘trouxas’ que ainda não sabem compreender a realidade em que vivemos. Falar em perdão nesse contexto de acirramento de ânimos, de posturas, de concepções e práticas de vida parece algo deslocado. Fora de lugar e inadequado. Haveria que se perguntar: perdoar quem de que? Perdoar alguém que não exige perdão? Perdão ativo e passivo (receber perdão) implica reconhecimento de ter cometido alguma injustiça contra alguém. E quando isso não se verifica, o que fazer? Perdoar alguém que cometeu uma injustiça ou uma violência grave, não seria uma forma de cumplicidade para com ele? Por tudo isso nos deparamos com a atualidade do trecho evangélico hodierno. Ele vem a enfrentar questões centrais da nossa existência: o sentido da justiça, a tentação da vingança, o perigo da intolerância, a perseguição dos complexos de culpa, a incapacidade de saber perdoar e....de se perdoar!
Jesus inicia o seu discurso com uma afirmação contundente, quase dogmática: perdoar sempre e em todas as circunstâncias. Isto parece não deixar margem a nenhuma outra compreensão e aplicação. Mas a narração da parábola, a seguir, explicita qual o verdadeiro sentido da sua afirmação inicial. O perdão, a compaixão e a misericórdia - que são atitudes profundamente humanas e evangélicas, do novo modo de governar de Deus, - não podem ser instrumentalizadas. Não se pode invocar o perdão para justificar uma atitude que nega a prática do perdão. O perdão não pode ser utilizado para mascarar injustiças e falta de compaixão para com os outros. A prática do perdão que Jesus quer introduzir é uma prática carregada de sentido crítico. Jesus conhece os meandros do coração humano e não desconhece as formas de manipulação praticadas pelos humanos. O perdão não entra como uma forma de cancelar as responsabilidades pessoais e coletivas diante dos outros. Ao contrário, quem assume a pedagogia do perdão deve saber que terá que tomar a iniciativa de correr atrás de quem cometeu injustiças para ajudá-lo a restaurar a justiça que ele interrompeu ou ameaçou. O perdão entendido como ‘mero esquecimento do mal cometido’ só serve para perpetuar o mal e não ajuda o seu autor a voltar a produzir o bem. O perdão ‘fácil’ e a mera vingança são duas atitudes extremas detestáveis, incompatíveis para os humanos e para quem quer construir o novo reinado de Deus.


A todos os participantes da XI Romaria da terra e das águas em Piquiá/Açailândia, MA, o nosso bem-vindos, o nosso apoio, a nossa solidariedade. A todos os que não puderem participar pedimos comunhão e oração!

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Ó pátria amada, salve-se, salve-se......!



Como não bastasse a festa da raça, de hitleriana memória, lá vamos nós celebrando o dia da independência. Numa sociedade planetária em que se torna sempre mais necessária a inter-dependência de todos para com todos – todos precisamos de todos – mantém-se vivo no imaginário ‘nacional’ de que somos ‘independentes’! De que um dia o nosso País foi dependente de alguém, mas que se libertou. Claro, há dependência e dependência. Dependência entendida como submissão física, violenta e política, - porque um país é invadido e subjugado por outro - tem um sentido bem diferente de um país que, por exemplo, depende de um outro para possuir determinadas matérias primas, bens, etc. Dependência ou independência, porém, não podem ser lidas só com relação a um ‘outro país’, a alguém externo a nós. Fala-se também de dependência interna, de alguns cidadãos com relação a outros, membros de um mesmo país...Se, de alguma forma, a inter-dependência é sadia, pois evitaria que alguém se sinta tão poderoso para subjugar, humilhar e comprar um outro, e, do outro lado, que alguém seja tão fraco e sem autonomia para ter que se ‘vender’ ao poderoso – é um fato que o ‘gigante que está a despertar’ vem conseguindo manter numa situação de ‘subjugação’ muitos dos seus filhos e filhas. Ou pior, de extrema indiferença para com a existência do outro. Ou seja, alguém está dizendo a alguém que não precisa dele, nem sequer para usá-lo como escravo dependente. Que se construa justiça e equidade no berço da pátria idolatrada, para que ninguém dos seus filhos e filhas tenha que vender a sua alma e a sua dignidade a outros supostos irmãos e irmãs, filhos e filhas....do mesmo pai e da mesma mãe!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

CNBB Norte II denuncia abusos contra os povos do Xingu, Pará


"Salva o teu povo, abençoa a tua herança!"


(Sl 27, 9)


Há grupos e pessoas que costumam gritar "a Amazônia é nossa", não para defender a incontestável soberania do Brasil sobre esta macroregião, mas para explorar até a exaustão as riquezas naturais e transformar a terra, as águas e as florestas em mercadoria, objetos de negócio. A família humana perde o direito de viver no lar que Deus criou. É expulsa da terra herdada dos antepassados.Na região do Xingu, o projeto Belo Monte coloca em risco a vida de milhares de pessoas. Em 1º de junho de 2011, o IBAMA concedeu à empresa Norte Energia S.A. a Licença de Instalação (LI) para construção desta hidrelétrica e declarou que "concluída a análise técnica e elaborado o relatório, todas as quarenta condicionantes estão cumpridas". Essa afirmação é uma afronta aos povos do Xingu, pois simplesmente não corresponde à verdade. As prometidas ações antecipatórias de saneamento básico em Altamira e Vitória do Xingu não foram realizadas. Providências de infra-estrutura absolutamente necessárias no campo da saúde, educação, habitação e segurança pública não foram tomadas. Trinta mil pessoas vivem o pesadelo de serem arrancadas de suas casas sem saberem para onde ir. Enormes áreas e plantações são desapropriadas em troca de indenizações irrisórias. Quem resiste é processado judicialmente. Anuncia-se pelos meios de comunicação que a barragem não afetará os indígenas, porque nenhuma aldeia será inundada. Acontecerá o contrário: aos povos da Volta Grande do Xingu será cortada a água. Em Altamira, os aluguéis chegam a preços exorbitantes, provocando invasões de áreas urbanas e acampamentos em frente à Prefeitura. É o caos que se instala. A segurança pública é incapaz de debelar a crescente onda de violência. Os acidentes de trânsito se multiplicam de maneira assustadora. Os hospitais estão superlotados. As escolas nem de longe conseguem atender à nova demanda de vagas. O Governo Federal nega o diálogo, oculta informações, aposta na política do "fato consumado" e passa, qual rolo compressor, por cima da população. Manifestamos nossa solidariedade com os povos do Xingu e denunciamos a falta de sensibilidade das autoridades governamentais que não se deixam comover pelo grito de milhares de pessoas angustiadas. Ainda nutrimos a esperança de que o bom senso vença a insanidade de um projeto tão pernicioso para a população e o meio-ambiente e suplicamos ao bom Deus: "Salva o teu povo, abençoa a tua herança!" (Sl 27, 9). Que Nossa Senhora de Nazaré, padroeira da Amazônia, interceda pelos irmãos e irmãs do Xingu!


Belém, 2 de setembro de 2011


D. Jesus Maria Cizaurre Berdonces - Presidente


D. Frei Bernardo Johannes Bahlmann -Vice Presidente


D. Flávio Giovenale - Secretário

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Serraria fechada pelo Ibama já havia sido flagrada em 2010. O vantajoso negócio das 'operações'!




Não há como deixar de se alegrar com notícias como a do outro dia, 03 se setembro, em que uma operação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) desmontou uma serraria ilegal em Buriticupu, Maranhão, que processava madeira extraída ilegalmente da Reserva Biológica do Gurupi e das terras indígenas Awá, Carú, Arariboia e Alto Turiaçu. Mas por que somente agora apreendem as máquinas sendo que já no ano passado, em agosto de 2010 a mesma serraria, a RN Santos Moraes Madeiras, já tinha sido embargada? A empresa foi multada em R$ 120 mil por armazenar produto florestal sem licença e desrespeitar o embargo. O Ibama apreendeu 70 metros cúbicos de madeira e equipamentos da serraria. Sabemos que há mais seis madeireiras na região que agem irregularmente e que estão entre os alvos da operação. Todas elas com o mesmo histórico de desrespeito ao embargo ambiental. Nos três primeiros dias da operação, o Ibama aplicou R$ 687,5 mil em multas, apreendeu 805 metros cúbicos de madeira, além de armas, equipamentos e um caminhão, flagrado transportando madeira ilegal.


Pergunta: alguém desses ladrões pegos em flagrante sofreram um dia de cadeia? Algum desses madeireiros pagou alguma multa nesse Estado? Quem vai ser o fiel depositário das máquinas apreendidas? Quem irá arrematar a madeira apreendida e leiloada daqui a alguns meses?....Sempre que à noite os mesmos madeireiros não carreguem tudo, como de costume, com a cumplicidade dos ‘fiéis depositários’. Para quem disser que a madeira que não for leiloada vai ser doada para entidades sem fins lucrativos gostaria que me citasse algumas dessas ‘beneficiadas’...

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

No individualismo crescente Jesus re-propõe a beleza de viver em comunidade (Mt.18,15-20)



Vivemos uma época atípica. Contraditória e paradoxal. É verdade: pode-se afirmar que, afinal, toda época tem suas contradições e paradoxos. Todavia, parece que o momento histórico que vivemos está levando ao extremo esses elementos. Na atualidade procuramos resgatar de um lado a subjetividade que, talvez, tenha sido deixada à margem por práticas exageradamente ‘socializantes’, e do outro, sentimos o peso da deformação humana advinda de um ‘individualismo’ prático, exacerbado, que parece ter sua origem em uma supervalorização da subjetividade. O individualismo crescente de hoje seria uma reação desmedida a práticas históricas em que a pessoa-sujeito era um anônimo, um mero meio-instrumento dependente do estado ou de alguma instituição hegemônica. A afirmação exagerada da subjetividade, porém, vem produzindo o mesmo resultado: pessoas-números, pessoas-código de barra, pessoas solitárias e anônimas, pessoas-cartão de crédito, pessoa-documento... Pessoas incompletas e interrompidas. Algum sábio romano da antiguidade diria que ‘ a virtude está no meio’. Nós diríamos: sem apagar a originalidade e a autonomia sagrada de cada pessoa, deveríamos garantir uma autêntica educação da pessoa-sujeito ao que é ‘comum, ao estarmos juntos. Não pelo simples fato de ‘estar junto’ – embora sem negar que isso também é um valor em si – mas em vista de algo favorável a todos, e não somente a si mesmo. É interessante observar como no evangelho de domingo passado Jesus deixava claro que não existe um messias super-homem, individual, que age acima e sem os outros, mas um messias humano, coletivo, que constrói salvação com os humanos em favor de todos os humanos.


Na narração hodierna Mateus parece desenvolver mais ainda essa dimensão. E de forma quase implacável. O ‘eu’ sem o ‘nós’ não constrói subjetividade e nem sociabilidade. Não há plenitude humana. A comunidade de Mateus ao resgatar e atualizar o modo de agir-ser de Jesus não pôde ignorar o que era preponderante na sua prática relacional: a sua capacidade de interagir com todas as pessoas, e com cada uma. Pessoas entendidas não como massa amorfa, e nem tampouco como meros seres individuais, descolados entre si. Colocadas em rede-conexão entre si, e com Jesus, as pessoas procuravam descobrir e construir projetos pessoais de vida, mas tendo como base a construção de um reino de plena realização para todos os seres humanos como membros de uma única e mesma família. Acima de toda particularidade.


No evangelho de hoje, especificamente, Jesus dá um poder inédito á comunidade. Tudo passa por ela. Ela tem o poder de desligar e amarrar. De aprovar e de rejeitar. De acolher e censurar. Enfim, o poder de discernir. É a comunidade que torna manifesta a presença atuante do próprio Jesus. O que Jesus propõe não é uma espécie de ditadura comunitária. Ao contrário, aponta a comunidade como espaço de realização pessoal para evitar os personalismos, os individualismos que desembocam frequentemente em ditaduras e em absolutismos. De forma clarividente Jesus enxergava no coração humano a necessidade de superar o sentimento de solidão e abandono que residem no coração humano. Apela para a necessidade de educar mentes e sentimentos a sentir a alegria de estar juntos. De se sentir amado e acolhido pelos outros. De ser corrigido e incentivado, perdoado e compreendido pelos que vivem conosco. De mesma forma, nós podemos ser um instrumento para ajudar outras pessoas a se reencontrarem consigo mesmas quando experimentam o que nós mesmos experimentamos: solidão, falta de apoio e de valorização, necessidade de proteção e afetos. É nessas experiências cotidianas de convivência fraterna que Deus se manifesta. Afinal ‘Deus não tem mãos, tem as nossas para segurar e socorrer pessoas caídas. Ele não tem coração, tem o nosso para amar e compreender. Deus não tem voz, tem a nossa para confortar e anunciar. Deus não tem ouvidos, usa os nossos para escutar o grito e o louvor de quantos O invocam’.