segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Funai: licenciamentos em terras indígenas. Mais conflitos estão por vir!

Na semana passada, um grupo de índios Kayabi e Munduruku sequestrou sete funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Os reféns foram levados na quarta-feira até uma das aldeias da Terra Kayabi, na fronteira do Mato Grosso com o Pará, e lá ficaram até o domingo, quando foram libertados. A atitude extrema foi um protesto contra a construção da hidrelétrica de São Manoel, no rio Teles Pires, que divide os dois Estados.
"Os índios estão sendo atropelados pela obra. O desconhecimento sobre o impacto da usina nas suas vidas e suas terras é total", diz o promotor do Ministério Público Federal no Mato Grosso, Marcelo Vacchiano. Por decisão da Justiça, as audiências públicas de São Manoel foram suspensas. O fato de os índios do Norte do Mato Grosso terem recorrido a um sequestro de servidores da própria Funai - instituição criada para proteger seus direitos - dá uma ideia da situação que envolve o licenciamento ambiental no país quando a tarefa inclui o componente indígena. Em 2010, a fundação vinculada ao Ministério da Justiça recebeu 260 processos de licenciamento para serem analisados. Neste ano, 170 pedidos de análise foram apresentados até agora. Atualmente, 17 profissionais são responsáveis pela área de licenciamento, dos quais somente seis fazem parte do quadro permanente. O PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] trouxe uma agenda de obras com uma velocidade grande e muitas prioridades ao mesmo tempo. Temos mais de 400 processos em andamento dentro da fundação, das quais um terço está ligadas ao PAC. (Fonte: Valor econômico)

sábado, 29 de outubro de 2011

Eles continuam matando. No Pará mais um assassinato de líder de comunidade

Sábado, dia 22 por volta das 14 horas, foi assassinado com um tiro na cabeça João Chupel Primo, com 55 anos. Ele trabalhava numa oficina mecânica onde o crime ocorreu, ao lado de seu escritório. João denunciava a grilagem de terras e extração ilegal de madeira, feitas por um consorcio criminoso. Ele tem vários Boletins de ocorrências de ameaças de morte na Policia local. E fez várias denuncias ao ICMBIO e a Policia Federal, que iniciaram uma operação na região. A madeira é retirada da Flona Trairão, e da Reserva do Riozinho do Anfrizio. Onde as portas de entrada para essa região, que faz parte do mosaico da Terra do Meio, se dá pela BR 163 Vicinal do Brabo cortada até o Areia; entrando pelo Areia (Trairão) cortada até Uruará. Pela BR 230: vicinal do Km 80. Vicinal do km 95. Vicinal do 115. A operação do ICMBIO, que recebeu apoio da Policia Federal, Guarda Nacional e Exercito não teve muito êxito, pois toda noite ainda saem 15 a 20 caminhões de madeira. Dizem que não foi dado continuidade na operação por medida de segurança. Um soldado do Exército trocou tiro com pessoas que cuidavam da picada quilômetros adentro da mata e ficou perdido 5 dias no mato. O Exercito retirou o apoio. A Policia Militar também não quis dar apoio. A responsabilidade de mais uma vida ceifada na Amazonia, recai sobre o atual governo, o IBAMA/ICMBIO, Policia Federal, que não deram continuidade a operação iniciada para coibir essa prática de morte, tanto da vida da Floresta como de pessoas humanas. Desde 2005 até os dias atuais, já foram assassinadas mais de 20 pessoas nessa região. Quantas vidas humanas e lideranças ainda tombarão???
(Fonte: CPT)

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Comissão de indios Guajajara do Pindaré reivindica reconhecimento de direitos na Procuradoria da República


Prova de maturidade e seriedade foi a que exibiu uma comissão de cinco indígenas Guajajara da Terra Pindaré dia 25 deste, na Procurador da República, em São Luis. Convidados pelo Procurador Dr. Alexandre Soares, o grupo indígena expôs com lucidez e equilíbrio os principais problemas que afetam a educação escolar indígena e a situação fundiária da área. Com a presença também de duas funcionárias da SEEDUC/MA e do presidente da Associação Carlo Ubbiali, o presidente da Associação de pais e mestres da Escola Indígenas do Pindaré, Flauberth Guajajara, pediu explicações sobre as contradições legais e administrativas que amarram ainda a estruturação e o pleno reconhecimento (de direito) da sua escola indígena. O engodo começou quando o CEE (Conselho Estadual de Educação) - após investigação documental e visitas in loco - reconheceu formalmente a escola indígena do Pindaré como Escola Indígena do Estado. Com isso, os indígenas de lá imaginavam que poderiam ter autonomia para exercer todas as funções que cabe a uma escola legalmente reconhecida. Mas não! Descobriram, recentemente, que não podem ter um Gestor Escolar e nem Secretário próprios, porque uma lei estadual determina que só um funcionário público estadual poderia exercer tais funções. E como nenhum professor indígena é funcionário concursado, e sim contratado, a escola indígena - mesmo sendo legal - não tem poderes para assinar transferências de alunos, elaborar histórico escolar, administrar o caixa escolar, etc. Um verdadeiro absurdo em que se dá poderes de fato, mas não de direito! O Sr. Procurador da República garantiu que pedirá ao Sr. Secretário estadual da Educação que articule a elaboração de um projeto de lei que corrija essas distorções.

Os atrasos de sempre. Um absurdo!

Relacionado a isso, os indígenas confirmaram o que todo mundo está farto de saber: atrasos de mais de 4 meses no pagamento dos professores, descontos de INSS da sua folha, em que o próprio órgão federal nega que haja havido repasse desses descontos por parte do estado, merenda escolar atrasada, e sendo distribuída por diretores de escolas estaduais de Bom Jardim e Santa Inês. Sem alar na ausência de formação continuada para professores, falta de material escolar, carteiras, etc. Isto é um verdadeiro absurdo conhecendo o histórico administrativo daquela escola indígena. De fato, quando os recursos chegavam diretamente a eles nunca atrasaram a distribuição da merenda, nunca deixaram de apresentar a prestação de conta em dia, nunca deixaram de dar aula um dia, etc. Não é à toa que hoje a própria SEEDUC reconhece que aqueles professores indígenas do Pindaré sempre agiram de forma correta e responsável. Lamentavelmente, por causa de alguns abusos e arbitrariedades cometidas por outras escolas indígenas no Estado, todos pagam as conseqüências. Para a escola indígena do Pindaré isso representou um retrocesso vergonhoso, pois acabaram sendo igualados àqueles que não agem conforme a lei. A comissão propôs que como na educação indígenas são garantidos os princípios da especificidade, pluralidade e diferenciação, que também nas questões administrativas e gerenciais haja uma diferenciação. Que não haja uma arcaica homogeneização que não ajuda a consolidar os avanços conquistados às duras penas pelas comunidades do Pindaré.

O serviço gratuito anônimo para combater as ambições e a hipocrisia (Mt.23, 1-13)



Vivemos numa cultura comportamental alicerçada nas aparências. Escolhemos e julgamos pelas aparências. E induzimos as pessoas a cuidarem das aparências. Afinal, parecem ser elas a fazer a diferença. É graças às ‘boas aparências’ que encontramos o caminho aberto numa repartição pública, um atendimento vip nas butiques, nos tribunais, nas secretarias paroquiais. Graças às ‘boas aparências’ conseguimos uma indicação para um emprego, ou uma nomeação de prestígio. Não faltam elogios e promessas de carreiras brilhantes. É também verdade que é por causa das aparências que desconfiamos de pessoas vestidas de forma ‘extravagante’, e que têm um sotaque ‘esquisito’. Excluímos ‘tesouros humanos’ por viverem num bairro de periferia ‘da pesada’. Ou por serem simplesmente negros, indígenas, camponeses, homossexuais, prostitutas. Ou os condenamos nos nossos fóruns e tribunais porque são eternamente suspeitos e réus ‘pouco vistosos’. Aliás, vistos em companhia dessas pessoas a nossa ‘reputação’ poderia ficar arranhada. E colocar em xeque a nossa imagem/máscara meticulosamente produzida. Às vezes até com a ajuda de um marqueteiro. Ela poderia sofrer desgastes irreparáveis. Poderíamos perder, com isso, chances e oportunidades inéditas!Sentimo-nos, no fundo, causadores e vítimas de um arcabouço cultural, comportamental, diabolicamente hipócrita. Que aprisiona a todos. E do qual não conseguimos ou não queremos nos desvencilhar. Como resgatar, - se algum dia já a tivemos, - a nossa autenticidade interior? Como tirar a nossa e alheia máscara? E agir movidos por aquilo que sentimos e somos? Talvez tenhamos medo de descobrir que, infelizmente, na nossa essência, nós somos ‘verdadeiras’ máscaras ambulantes. Atores e atrizes condenados a desempenharem o perene papel da duplicidade, da hipocrisia contagiosa. Mesmo atormentados e dilacerados interiormente sentimo-nos constitutivamente impotentes para viver a transparência, a coerência e a honestidade interior!


Jesus tinha compreendido tudo isso ao longo da sua própria existência. Ele mesmo sentia essa dúplice tendência. Teve que se policiar e rebelar permanentemente para não cair naquilo que ele detestava nos outros. É por isso que no seu alerta evangélico hodierno ele se dirige ‘aos seus discípulos e às multidões’ e não simplesmente àqueles que tinham fama de serem hipócritas públicos, os fariseus e os doutores da lei. Jesus se dirige a todos, indistintamente, porque sabe que todos podemos entrar nessa armadilha. Jesus não condena a fragilidade humana em si. Afinal, Jesus sabia que as contradições fazem parte de todo ser humano. Jesus é duro justamente com aqueles que se arvoram a justos, perfeitos, honestos, mesmo não o sendo. E não adotam a compreensão e a misericórdia para com outros frágeis e contraditórios.


Há, porém, uma outra atitude que Jesus detestava. Os fariseus e doutores da lei utilizavam em seus repúdios e anátemas contra ‘o povinho’ leis e normas mesmo sabendo que eles eram os primeiros a ignorá-las e pisá-las. Jesus profundo conhecedor da alma humana havia percebido os mecanismos da camuflagem humana. Quando uma pessoa sabe que o que diz não corresponde ao que faz, ou que diz aos outros coisas em que não acredita, tem a necessidade de ostentar, de forma quase doentia, o seu contrário. Sente um impulso interior em aparecer pública e privadamente como o melhor cumpridor de leis e normas. Comportamentos que só servem para desmascará-lo. De fato, muitas pessoas são legalistas e moralistas como forma de camuflar e esconder suas próprias contradições internas. Para ocultar fantasmas interiores que elas não aceitam, e não conseguem eliminar. Não podendo ou não querendo se condenar tornam-se rígidos e intolerantes com os outros. Mas a máscara cairá!


Jesus finaliza o seu alerta ‘aos discípulos e às multidões’ de forma sublime. Jesus aponta a única e verdadeira saída para evitar a hipocrisia e duplicidade de vida. Um claro incentivo para conquistar a verdadeira felicidade. Para se sentir bem consigo mesmo e com os outros: servir. Na gratuidade sincera e autêntica. No anonimato do serviço-amor. Na rejeição firme em não procurar prestígio, títulos altissonantes e reconhecimentos públicos efêmeros. No cuidado e na atenção ao outro se encontra a verdadeira felicidade. Aquela perene, não a aparente.


Bom final de semana para todos!




sábado, 22 de outubro de 2011

Amar o Deus- Próximo: eis o principal mandamento! (Mt.22, 34-40)

Alguns anos atrás o papa editou uma encíclica sobre a caridade/amor. Faz uma série de distinções e explicações sobre as várias acepções do conceito. Ora fala em amor entendido como ‘filantropia’, ora como ‘agape/fraternidade’, e, enfim como ‘eros/amor carnal’. Um verdadeiro exercício de hermenêutica. As sociedades assim denominadas ‘tribais’ não possuem palavras que expressem conceitos, abstrações. Não existe, por exemplo, a palavra/conceito ‘amor’ no seu dicionário. Menos ainda para explicitar suas nuanças. Existe, isso sim, nesse caso concreto, expressões em que a pessoa ‘protege o outro, ajuda o outro, acolhe o outro, está próximo do outro’. Ou seja, exemplificações, não conceitos abstratos. Nós, não indígenas, tornamo-nos ‘filósofos e malabaristas da palavra’. No intuito de colher as matizes, os detalhes, a pluralidade conceitual criamos muitas palavras/sinônimos. Muitas vezes para ‘traduzir’ algo que na realidade é ‘intraduzível’. Paradoxalmente, podemos correr o perigo de ‘reduzir’, quando não distorcer, o sentido profundo de uma ‘prática’, - não de um conceito’.
Seja como for, Jesus afirmou que o principal mandamento é ‘amar’ a Deus com todo o nosso ser (coração, alma, entendimento) e ‘amar’ nosso próximo como a nós mesmos. Se Jesus não explicita a qualidade desse amor, deixa claro ‘como’ ele deve se dar. Ou seja, o seu grau de intensidade. Deixa evidente, também, que um está vinculado ao outro. E de forma tão profunda que ‘um não tem sentido sem o outro’. Mais do que isso: o amor a Deus (não especifica que tipo de amor) só se revela tal no ‘amor ao próximo’. É este que revela se existe o primeiro. O amor a Deus, embora tomado isoladamente, não pode ser medido/quantificado, e nem manifestado mediante gestos cultuais. Já o amor ao próximo, embora também esse seja de alguma forma insondável, torna-se visível em gestos concretos de acolhida, e de proximidade afetiva e efetiva. Jesus nos diz que os mesmos cuidados que temos que ter para conosco deveríamos tê-los para com o nosso próximo. Jesus supõe que nós cuidamos de nós mesmos com amor e respeito profundos! O amor ao próximo é fruto do amor inspirador que ‘vem’ e que ‘se deve’ a Deus. Ao mesmo tempo, amando o próximo alimentamos o ‘amor a Deus’, e manifestamos o ‘amor de Deus’ para conosco. Ou seja, ao termos compaixão/afeto pelo próximo manifestamos ‘como é’ (a essência) o amor de Deus para conosco, e não somente o ‘amor que devemos a ele’. É um amor de mão dupla. Não uma mera atitude unidirecional. Alienada e alienante. Desencarnada. Pensando que amamos Deus na medida em que O invocamos e obedecemos a normas cultuais.
Ao contrário, somos chamados a provar e a comprovar que efetivamente ‘Deus nos ama’ mediante o amor que expressamos/manifestamos ao nosso próximo. Daí podemos entender as palavras de João: ’Como podem dizer que amam a Deus que não vêem, se não sabem amar o seu irmão que vêem?’ Tudo isso porque Jesus compreendeu que Deus não é um ser abstrato que está na estratosfera. Dissociado dos seres que O manifestam. Jesus nos ensina Deus que está ‘dentre nós’ e ‘dentro de nós’. O verdadeiro culto e amor a Ele se dá mediante gestos concretos para amenizar toda dor e libertar de toda escravidão os seus filhos e filhas em que Ele reside. O amor a ele se torna explícito e histórico no serviço gratuito e apaixonado. Na compaixão intensa e inconformada. No olhar meigo e firme. No abraço forte e caloroso, sem preconceitos e sem falsos pudores. Só assim o amor, ‘faísca de Deus’ poderá re-acender o fogo brando que ainda temos. E vencer a indiferença que está dentro de nós. E que consome o nosso anseio de felicidade.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Secretaria Estadual do Meio Ambiente colhe amostras para averiguar poluição em Piquiá!


Piquiá que é famosa por ser um dos pólos industriais mais poluídos do Maranhão ainda não conta com índices oficiais do grau de poluição atmosférica. Apesar das insistentes e numerosas denúncias da população e de organizações populares da região, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente apareceu ‘in loco’ somente nessa semana. Intimada pelo Promotor de Açailândia há cerca de dois meses atrás, a Secretaria enviou dois peritos químicos e um fiscal na terça feira 18. Num só dia colheram amostras de água, poeira industrial, e quem sabe mais lá o que’.... do assentamento Califórnia e de Piquiá. Não podiam fazer o teste da poluição atmosférica que exige mais tempo e mais material. E mais vontade política. Coisa que a Secretaria Estadual não tem no seu ‘almoxarifado’!Deu para perceber que não foi algo sério. Os próprios funcionários disseram que no dia seguinte já deviam estar em São Luis, e que tinham que aproveitar o máximo de tempo disponível para verificar eventuais outras denúncias ao longo do caminho para a capital. Interessante: em Piquiá ficaram quase uma hora conversando com um diretor da Gusa Nordeste, supostamente verificando a ‘papelada formal’ da siderúrgica. Só eles, ninguém mais! Na saída, a confirmação que ‘estava tudo bem’! Agora é só aguardar o resultado oficial das análises e compará-las com outras que a Rede Justiça nos Trilhos irá encomendar a um Instituto que não seja ‘tão apressado’ como a Secretaria do Meio Ambiente. Coincidência fatal: naqueles dias foi enterrada uma senhora de Piquiá vítima de um tumor aos pulmões. Ela morava bem ao lado do britador da Gusa Nordeste!

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Desembargadora pede anulação do licenceamento ambiental de Belo Monte. Motivo: índios e ribeirinhos têm direito ao uso tradicional de suas terras!

Uma juíza do Tribunal Regional Federal de Brasília colocou o governo na berlinda nesta segunda-feira ao pedir a anulação do licenciamento ambiental da mega-usina de Belo Monte, no rio Xingu. O julgamento no TRF foi suspenso por um pedido de vista do desembargador Fagundes de Deus. Mas o voto da desembargadora Selene Almeida, relatora da matéria, representa uma derrota para a Eletrobras, o Ibama e o governo federal, defensores da construção da usina. Almeida acolheu a argumentação do Ministério Público do Pará de que o decreto legislativo de 2005 que autorizou a construção de Belo Monte é nulo, por ter sido modificado no Senado sem voltar à Câmara. Ela também argumentou que os índios das terras Paquiçamba e Arara da Volta Grande do Xingu, que ficam no trecho do rio que terá vazão reduzida, precisam ser ouvidos pelo Congresso antes de que o licenciamento seja feito. "Estamos em choque", comentou o advogado da Eletrobras Marcelo Thompson após a leitura do voto, que durou quase duas horas. Caso um dos outros dois desembargadores vote com a relatora, o processo vai para o Supremo Tribunal Federal.

Será a segunda das 15 ações movidas contra Belo Monte que vai parar no STF, afirmou o procurador Felício Pontes Júnior, principal voz da oposição a Belo Monte. O Ibama e a Advocacia Geral da União têm argumentado que os índios foram, sim, ouvidos pela Funai durante o licenciamento da usina. Afirmam, ainda, que a ação do Ministério Público não tem razão de ser, já que não haverá obras nas duas terras indígenas. "Não vislumbro plausibilidade nas alegações dos réus", afirmou a desembargadora, dizendo que as populações das duas terras indígenas terão sua sobrevivência tradicional ameaçada do mesmo jeito, já que o rio que as margeia vai secar. "A regra geral no uso dos recursos naturais é a proteção do uso indígena", afirmou. A juíza defendeu que, "antes que a construção de hidrelétricas se torne corriqueira" na Amazônia, o Congresso formule um marco legal para a consulta aos índios, que não existe hoje no país. "A lógica indica que o Congresso Nacional só pode autorizar a obra depois de conhecer a realidade antropológica", afirmou Almeida. "Faltou informação científica."

Em seu voto, Selene Almeida afirmou ainda que ouvir os índios significa obter "a concorrência, a concordância", e que tanto os índios quanto as 400 famílias de ribeirinhos que serão removidas pela usina têm direito ao uso tradicional de suas terras. "Hoje a sociedade nacional só tem a oferecer aos índios doença, fome e desengano." (Fonte: Folha-UOL)

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Falando em corrupção...na FUNAI tem pra´vender!

O tema-problema do momento parece ser a corrupção. Praga universalizada. Plenamente globalizada. Profundamente enraizada nos tecidos sociais, e nos ‘genéticos’. De fato, se nascemos com um sentido de justiça, - embora rudimentar, - a corrupção parece ser o fruto amargo da sua imediata ‘mutação ética’. Operada por nós manipuladores humanos! Detenhamo-nos sobre alguns casos dessa ‘praga’ somente na questão indígena aqui no Maranhão.

Primeiro caso. O coordenador técnico da FUNAI de Zé Doca, vem sendo acusado pelo indígenas da região, Ka’apor e Awá-Guajá, de fornecer bebidas alcoólicas a mulheres e homens e se aproveitar sexualmente das mulheres uma vez embebedadas. Ele é acusado de vários abusos, e de ser o articulador entre os madeireiros da região no roubo de centenas de toras de madeira nobre provenientes da Terra Indígena Alto Turiaçu. O negócio rendeu até agora, para o funcionário, pelo menos cinco casas em Araguanã. Nada sofreu até momento por parte dos seus chefes corregedores a FUNAI. Nem sindicância. O jeito foi levar tudo isso à Procuradoria da República.

Segundo caso. A Vale assinou convênio alguns anos atrás com a FUNAI do Maranhão para utilizar sete milhões e meio de Reais ao longo de 10 anos para projetos agrícolas e de desenvolvimento nas terras indígenas do Caru, Awá-Guajá, Pindaré e Alto Turiaçu. Após dois anos, nem um centavo desse novo convênio foi aplicado nas aldeias dos Ka’apor da Alto Turiuaçu. Ninguém sabe dizer o porquê. Nem os chefes da FUNAI de Imperatriz quando questionados pelos Ka’apor. O que sabemos é que no passado recente houve desvios escandalosos do dinheiro disponibilizado pela Vale. Vários funcionários da FUNAI estavam envolvidos, além do próprio responsável da Vale que logo foi demitido. Ninguém foi obrigado a devolver a grana comida. Alguns desses funcionários continuam tomando de conta do dinheiro que a da Vale disponibiliza, supostamente destinado a amenizar os impactos da ferrovia nas aldeias! Cá entre nós: a Vale acha que já está cumprindo com a sua obrigação agora que está a duplicar a ferrovia?

Terceiro caso. Nas últimas duas operações realizadas pela Polícia Federal em algumas terras indígenas foram apreendidas centenas e centenas de toras de madeira. Como de costume, determina-se que a os funcionários da FUNAI sejam os ‘fiéis depositários’, até que se resolvam as pendências legais sobre o destino da madera apreendida. Resultado descoberto recentemente: não há mais nenhuma tora nos pátios onde as toras haviam sido depositadas. Os funcionários da FUNAI nada sabem sobre o seu destino. Os 'fiéis desviadores' continuam em seus devidos lugares esperando outra oportunidade....

Quarto caso. Com a ‘reforma administrativa’ da FUNAI, todos os processos administrativos que estavam na sede de São Luis e que recebiam um primeiro e sumário julgamento foram enviados a Imperatriz. Aqui é que se resolvem, hoje em dia, todos os pepinos relacionados à questão indígena. Em São Luis há uma simples coordenação técnica. Onde existem muitos funcionários que ficaram sem ocupação. Que continuam sendo pagos com dinheiro público para não fazer nada. Ainda bem que houve reforma!

sábado, 15 de outubro de 2011

Para além da 'indignação' contra os 'césares' que dominam e escravizam! (Mt. 22, 15-21)



Hoje centenas de milhares de pessoas no mundo todo ocuparão ruas e praças para manifestar sua ‘indignação’ contra os abusos do sistema político-financeiro. E contra a crise social e econômica que os seus ‘césares’ vêm produzindo. Uma crise que vai além das perdas salariais e da falta de emprego formal. É uma crise que põe uma hipoteca sobre o futuro da humanidade. Crise ética, portanto. Crise de valores. Mas também crise organizacional, ou seja, incapacidade dos seres humanos de organizar de forma razoavelmente equânime a geração/produção e distribuição dos bens produzidos. Coisa que as abelhas, as formigas e tantos outros bichos sabem fazer com maestria. Nesses dias, num pequeno artigo da Folha de São Paulo, apareceu a informação segundo a qual alguns neuro-cientistas afirmavam que o ‘bebê’ (filhote de hominídeos!) já nasce com um ‘ sentido de justiça’, embora rudimentar. Este sentido de justiça estaria já presente nos seus genes. E não seria somente algo adquirido mediante os normais processos de aprendizagem. Poderoso! Isso diz muito sobre os poder diabólico dos humanos em manipular sua própria espécie para que ‘não desenvolva’ uma atitude que faz parte da sua estrutura genética! Diz muito também sobre a natureza da nossa própria missão como humanos nessa rápida passagem terrena! O que existe, então, nos humanos que faz com que percamos ou deixemos de desenvolver atitudes de justiça? Que outros processos, contra-valores são introduzidos para inibir, - quando não para apagar, - o ‘sentido de justiça’ que adquirimos ao nos formar como espécie humana?

Jesus certamente não possuía as informações que possuímos nós sobre a nossa própria estrutura genética. Nem precisava. Jesus como ser humano herdou e foi educado a possuir um forte sentido de justiça. Os seus educadores ajudaram-no a não se deixar manipular. Mas a conservar, e a fazer crescer nele mais ainda o sentimento da justiça. Mais: a praticar a justiça, evidenciando as suas negações no seu cotidiano e identificando aquelas ações que pudessem fortalecer a prática da justiça. Aprendeu a perceber os sinais de injustiça presentes no ser humano, e nas suas estruturas. Experimentou diante disso forte ‘indignação’. No trecho evangélico hodierno Mateus nos oferece um retrato sumário da ‘natureza ética’ de Jesus. O que o movia e o que o ‘indignava’. Tudo começa com uma pergunta capciosa. Aparentemente, de natureza jurídica. Pagar ou não o imposto a César. Na realidade o que está em jogo é o que Um (Deus) e outro (César) representam para uma sociedade (Israel). Uma nação que coloca – pelo menos formalmente - Deus acima de tudo, mas que tem que fazer as contas com ‘alguém que age como deus’! Com alguém que interfere diretamente, e de forma totalizante, na vida das pessoas. Quem manda na nossa consciência? Quem determina o valor, a natureza, e o sentido das nossas opções? O Deus da liberdade e da vida, ou o César da dominação, do totalitarismo, do egoísmo sem freios? O que está em jogo, portanto, é uma questão de ‘soberania ética’. Jesus ao aconselhar de devolver ao próprio César a moeda que o retrata coloca limites claros à sua (de César) atuação. É um forte chamado a não interferir na ‘soberania de Deus’. A César só cabe a ‘auto-contemplação’ narcisista do seu próprio rosto gravado numa moeda produzida por ele mesmo. A Deus, ao contrário, ao Legítimo Gestor do único e verdadeiro Reino cabia tudo. A esse Soberano precisava-se ‘devolver’ não moedas ‘que enferrujam e que os ladrões poderiam carregar’, e sim, a terra/território que Lhe pertencia. E que o César ocupava de forma ilegal. Ao verdadeiro Rei cabia só gratidão e livre submissão. Adoração autêntica e confiante. Reconhecimento que só Ele – fonte e consciência de toda justiça – pode nos libertar de tantas dependências que continuam a nos escravizar.

Aos 'césares', a nossa indignação, o nosso repúdio, a nossa insurreição!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Do quinto evangelho: proclamação do Cristo do Corcovado



Naqueles dias, ao se completarem 80 anos de existência, o Cristo do Corcovado estremeceu e se reanimou. O que era cimento e pedra se fez carne e sangue. Estendendo os braços, como quem quer abraçar o mundo, abriu a boca, falou e disse:

Bem-aventurados sois todos vós, pobres, famintos, doentes e caídos em tantos caminhos sem um bom samaritano para vos socorrer. O Pai que é também Mãe de bondade vos tem em seu coração e vos promete que sereis os primeiros herdeiros do Reino de justiça e de paz. Ai de vós, donos do poder, que há quinhentos anos sugais o sangue dos trabalhadores, reduzindo-os a combustível barato para vossas máquinas de produzir riqueza iníqua. Não serei eu a vos julgar, mas as vitimas que fizestes atrás das quais eu mesmo me escondia e sofria.

Bem-aventurados sois vós, indígenas de tantas etnias, habitantes primeiros destas terras ridentes, vivendo na inocência da vida em comunhão com a natureza. Fostes quase exterminados. Mas agora estais ressuscitando com vossas religiões e culturas dando testemunho da presença do Espírito Criador que nunca vos abandonou. Ai daqueles que vos subjugaram, vos mataram pela espada e pela cruz, negaram-vos a humanidade, satanizaram vossos cultos, roubaram-vos as terras e ridicularizaram a sabedoria de vossos pajés.

Bem-aventurados e mais uma vez bem-aventurados sois vós, meus irmãos e irmãs negros, injustamente trazidos de Africa para serem vendidos com peças no mercado, feitos carvão para ser consumido nos engenhos, sempre acossados e morrendo antes do tempo.Ai daqueles que vos desumanizaram. A justiça clama aos céus até o dia do juízo final. Maldita a senzala, maldito o pelourinho, maldita a chibata, maldito o grilhão, maldito o navio-negreiro. Bendito o quilombo, advento de um mundo de libertos e de uma fraternidade sem distinções.

Bem-aventurados os que lutam por terra no campo e na cidade, terra para morar e para trabalhar e tirar do chão o alimento para si, para os outros e para as fomes do mundo inteiro. Maldito o latifúndio improdutivo que expulsa posseiros e que assassina quem ocupa para ter onde morar, trabalhar e ganhar o pão para seus filhos e filhas. Em verdade vos digo: chegará o dia em que sereis espoliados. E a pouca terra da campa será pesada sobre vossas sepulturas.

Bem-aventuradas sois vós, mulheres do povo, que resististes contra a opressão milenar, que conquistastes espaços de participação e de liberdade e que estais lutando por uma sociedade que não se define pelo gênero, sociedade na qual homens e mulheres, juntos, diferentes, recíprocos e iguais inaugurareis uma aliança perene de partilha, de amor e de corresponsabilidade.Benditos sois vós, milhões de menores carentes e largados nas ruas, vitimas de uma sociedade de exclusão e que perdeu a ternura pela vida inocente. Meu Pai, como uma grande Mãe, enxugará vossas lágrimas, vos apertará contra o seu peito porque sois seus filhos e filhas mais queridos.

Felizes os pastores que servem, humildemente, o povo no meio do povo, com o povo e para o povo. Ai daqueles que trajam vestes vistosas, se envaidecem nas televisões, usam símbolos sagrados de poder, exaltam o Pai Nosso e esquecem o Pão Nosso. Quantos não usam o cajado contra as ovelhas ao invés de contra os lobos. Não os reconheço e não testemunharei em favor deles quando aparecerem diante do meu Pai.

Bem-aventuradas as comunidades eclesiais de base, os movimentos sociais por terra, por teto, por educação, por saúde e por segurança. Felizes deles que, sem precisar falar de mim, assumem a mesma causa pela qual vivi, fui perseguido e executado na cruz. Mas ressurgi para continuar a insurreição contra um mundo que dá mais valor aos bens materiais que à vida, que privilegia a acumulação privada à participação solidária e que prefere dar os alimentos aos cães que aos famintos. Bem-aventurados os que sonham com um mundo novo possível e necessário no qual todos possam caber, a natureza incluída. Felizes são aqueles que amam a Mãe Terra como sua própria mãe, respeitam seus ritmos, dão-lhe paz para que possa refazer seus nutrientes e continuar a produzir tudo o que precisamos para viver.

Bem-aventurados os que não desistem,mas resistem e insistem que o mundo pode ser diferente e será, mundo onde a poesia anda junto com o trabalho, a musica se junta às máquinas e todos se reconhecerão como irmãos e irmãs, habitando a única Casa Comum que temos, este belo e irradiante pequeno planeta Terra.

Em verdade, em verdade vos digo: felizes sois vós porque sois todos filhos e filhas da alegria pois estais na palma da mão de Deus. Amém”. (Leonardo Boff)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Todos são convidados a construir a nova humanidade, mas é preciso 'vestir a camisa' da Realeza de Deus! (Mt. 22, 1-14)


Todos nós, cotidianamente, consciente ou inconscientemente, fazemos análise da realidade em que vivemos. Detectamos sinais. Assistimos a acontecimentos. E deles participamos. Ouvimos comentários. Classificamos e avaliamos Reagimos e agimos. Colocamos em relação causas e efeitos. Tomamos posição. Decidimos. Claro, alguém faz tudo isso de forma ‘supostamente científica’. Profunda e ampla. Outros, de forma mais superficial. Talvez por possuir menos elementos que outros para fazer a mesma coisa. O fato é que cada ser humano analisa e reage perante uma determinada realidade. Próxima ou distante que seja. Cada um de nós avalia e alimenta sonhos e expectativas. E trabalha para moldar uma realidade que venha de encontro ao que ele sonha ou espera. A parábola proposta por Mateus joga uma luz ampla sobre como Jesus analisou a história/realidade de Israel, e como ele reagiu. Como avaliou, e o que sonhou para Israel. No intuito de construir uma ‘nova realidade’ para o seu povo.

Pela parábola podemos entrever que para Jesus determinados setores da classe dirigente do povo de Israel – a casta sacerdotal, principalmente, - atribuíram à nação uma ‘eleição exclusiva’ por parte de Deus. Israel se considerou, de forma arrogante e etnocêntrica, o povo eleito de Deus. O seu preferido. Aquele que devia ser luz das demais nações. Israel achava que ao dar sinais e frutos de justiça, equidade, e coesão interna, todos os demais povos, vizinhos e distantes, o imitariam. E poderiam aderir ao seu modo de ser e crer. O seu próprio Deus, Javé, se encarregaria de preparar sobre o ‘seu santo monte’, - em Israel, claro, - um grande banquete. Um banquete utópico. Simbólico, mas real e histórico. Nele, nenhum povo seria excluído. Todos poderiam comer e beber do bom e do melhor. Mais: o deus de Israel enxugaria as lágrimas de toda vítima da guerra e da violência. E poria fim ao luto dos desesperados. Tudo isso originou uma espécie de ‘complexo de superioridade’ perante os demais povos. A classe dirigente de Israel achou que bastava isso para ter Deus do seu lado. Mesmo sem praticar a justiça e a equidade que ele mesmo havia determinado para si como condição essencial para obter salvação e benevolência divina. Um deus, enfim, criado a sua própria imagem e semelhança, funcional aos seus interesses de casta. Um deus que continuasse a protegê-lo e a confirmá-lo na sua equivocada autoconsciência. Jesus, na parábola, analisa e condena esse ‘delírio coletivo’ em que Israel havia entrado. E reage.

Para Jesus os dirigentes de Israel nunca quiseram aceitar de aderir ao projeto/banquete de comunhão, equidade, justiça e fraternidade oferecido pelo mesmo deus que eles invocavam. E do qual se sentiam os escolhidos. Eles, que são os mesmos vinhateiros da parábola de domingo passado, perderam a sua chance histórica. O convite, agora, para participar e construir um novo banquete/aliança/comunhão estava sendo dirigido àquelas pessoas e setores da sociedade de Israel que os ‘arrogantes eleitos’ haviam excluído e condenado. Na avaliação de Jesus, de fato, só quem está sentindo na pele o que significa exclusão, abandono e discriminação é que pode e deve reagir. E construir um banquete alternativo, sem a presença dos seus algozes. Nele não haverá mais grupos privilegiados, seletos, supostamente preparados, qualificados e ‘escolhidos a dedo’ para realizar o sonho de Deus. Agora, todos, bons e maus, israelitas ou não, - recolhidos de todas as esquinas da humanidade, - são os verdadeiros convidados a preparar e a participar do novo banquete. O passado já foi. Inicia-se, agora, uma nova dinâmica e uma ‘nova prática administrativa’. Jesus, porém, nos alerta: não é suficiente ‘entrar e fazer parte do banquete’. É preciso ‘vestir a camisa’! Assumir a sua lógica, as suas condições e dinâmicas. Arcar com as responsabilidades, expor-se e arregaçar as mangas, pois ‘promover comunhão, aliança, fraternidade’ exige tudo isso! Já temos muitos ‘penetras’, passivos, medrosos e acomodados. Que ‘comem e bebem’ a própria e a alheia destruição/condenação.

PS - o autor adverte: qualquer semelhança com a realidade atual é mera coincidência!

Steve Jobs nu....perante a morte/vida!

‘Lembrar que eu estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a fazer grandes escolhas na vida’ Essas são as palavras que Steve Jobs pronunciou no dia 12 de junho de 2005 em um famoso discurso aos formandos de Stanford. Reler esse discurso no dia em que Steve Jobs deixou esta terra é, talvez, uma boa forma para honrá-lo. E Steve tem razão. As suas palavras ecoam as de Inácio de Loyola, o fundador dos jesuítas, que considera que uma forma de fazer uma boa escolha na vida consiste em fazer "como se eu estivesse à beira da morte; e assim, regulando-me por ela, tomarei com determinação a minha decisão" (Exercícios Espirituais, 186). A morte não é, no caso de Inácio e de Steve, um espantalho, mas sim a constatação de que os temores, os embaraços e as futilidades desaparecem perante o pensamento da morte, e só resta o que realmente conta, aquilo que para nós é realmente importante.
E Steve diz isso de uma maneira fantástica, com uma pequena frase do nada: "Você já está nu". Exato. Lemos no Livro de Jó: "Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei para o seio da terra" (1, 21). O pensamento de estarmos nu e sermos mortais nos leva a viver intensamente. Steve diz: "Você tem que encontrar o que você ama". Só quem sabe que a própria vida é nua e sempre será não perderá tempo para fingir de se cobrir, de ser jovem eternamente, de pensar que se é o dono do mundo, mas saberá que a vida tem em si uma fome profunda. (Tirado do IHU e adapatado)

FAR WEST à maranhense II -

Uma marcha de trabalhadores rurais e quilombolas, no dia 5 de outubro, anteontem, pela manhã, terminou em tumulto. O ex-senador e atual secretário estadual de Programas Especiais, João Alberto de Souza (PMDB), discutiu com quilombolas ao chegar de carro ao Palácio dos Leões, destino final da caminhada. Um dos líderes da marcha, Almirandi Costa, de São Vicente Ferrer, esclareceu ao secretário que o protesto era contra a violência no campo, em especial contra o assassinato do lavrador Valdenílson Borges, 24 anos, no domingo (2) pela manhã, no povoado Rosário, em Serrano do Maranhão. Almirandi disse a João Alberto que esse e outros crimes no campo eram culpa da 'irresponsabilidade do governo estadual', que não proporcionava segurança aos lavradores ameaçados de morte no Maranhão. João Alberto retrucou, irritado: 'Irresponsável é você' (referindo-se a Almirandi). O líder rural, então, pegou um microfone e pediu para que João Alberto repetisse 'pra todo mundo ouvir' quem o político achava 'irresponsável', ocasião em que o tumulto começou. Os policiais militares – fardados e à paisana – que fazem a segurança do Palácio dos Leões partiram para cima dos manifestantes. O protesto prosseguiu, com os lavradores cantando e pedindo 'Justiça no campo'. A viúva do camponês assassinado, Ana Maria dos Reis Abreu, 25 anos, e a irmã da vítima, Jodeílde Borges, 38, que participaram da marcha também estão sendo ameaçadas de morte. Segundo elas, o assassino de Valdenílson Borges, identificado como Edvaldo Silva – que está foragido – é filho de um homem conhecido como 'Dudu Fogão', que há vários anos ameaça as famílias de lavradores do povoado Serrano, com a intenção de tomar suas terras. (Fonte: JP)

Presidente do INCRA promete mais uma vez - Na terça-feira, os quilombolas, sem-terras e índios que ocupavam a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), no Anil, São Luís, deixaram o local. Os ocupantes obtiveram do governo federal o compromisso de que, nos dias 19 e 20 de novembro, o presidente nacional do Incra, Celso Lacerda, vem ao Maranhão para definir formas para agilizar as principais reivindicações do movimento: titulação de terras e proteção aos lavradores ameaçados de morte. Acresentamos: investigação e punição para os mandantes e assassinos dos lavradores mortos até agora!

Em São Luis, III Marcha contra a corrupção – Representantes de vários municípios maranhenses vítimas de corrupção institucional estarão participando da III marcha contra a corrupção. Apresentarão vários casos vinculados aos recursos federais, tais como Fundeb, Sus, Ação Social, Alimentação Escolar, etc. Além disso, outros casos relacionados a convênios e programas do governo federal (Incra, minha casa minha vida, estradas vicinais, e outros) Haverá espaço para que os representantes dos municípios apresentem os dossiês dos casos fiscalizados e com provas da corrupção e, ao mesmo tempo, os requerimentos de investigação de outros. Estamos assistindo a mobilizações globais. Gente que não se conforma com formas absurdas de negligência institucional, desvio de dinheiro público, favorecimentos ilícitos, corrupção ativa e passiva. Verdadeiras fábricas de miséria, violência e falência. Mais do que justo espernear, gritar, reivindicar. E exigir punição e ressarcimento, logo. Criando, simultaneamente mecanismos institucionais mais adequados que inibam e evitem definitivamente que a bandalheira continue! Acorda, Maranhão!

Eram policiais os que ameaçavam em Carro Quebrado! - Agentes da CPT de Coroatá informaram que os seis homens que invadiram a área de plantio da Comunidade Carro Quebrado , município de Miranda do Norte no dia 26 de setembro passado, são policiais ou ex-policiais. Estavam a serviço, segundo foi relatado, do latifundiário local Raimundo Carneiro. Como haviam prometido os 'homens da lei' volaram para fazer o despejo, no dia 5, mas foram surpeendidos por outros 'colegas' de farda. Estãoespondendo a inquérito. Precisa comentar?



segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Far west à maranhense: pistoleiros invadem e ameaçam lavradores em Miranda do Norte



Em 30 de setembro de 2011, as 48 famílias camponesas da comunidade Carro Quebrado, município de Miranda do Norte – Ma, relataram que nos dia 26.09.2011 e 27.09.2011, 6 (seis) homens ingressaram na área de plantio da comunidade Carro Quebrado, para executar um trabalho de roço, acompanhados por 4 homens armados com pistolas, sendo que estes davam cobertura aos invasores, a mando do latifundiário Raimundo Carneiro. No dia 28.09.2011, as famílias de Carro Quebrado impediram que os invasores continuassem a realizar qualquer tipo de trabalho na área de posse das famílias. Os camponeses exigiram a presença do fazendeiro Raimundo Carneiro na localidade, contudo, compareceu o gerente de uma das fazendas do mandante, por nome de Abraão, que afirmou às famílias que era advogado, e que iria negociar com as famílias, sendo que estas não aceitaram. Por volta de 15h30min h. do mesmo dia, o latifundiário Raimundo Carneiro chegou à comunidade, acompanhado por 8 homens fortemente armados com armas do tipo Pistola ponto 40, Pistola 765, todas automáticas. O latifundiário Raimundo Carneiro ameaçou as 48 famílias, afirmando que expulsaria as famílias, alegando que necessitava da terra, visto que os camponeses não pagavam renda ao latifundiário. O latifundiário Raimundo Carneiro afirmou que poderia ceder uma pequena parcela da terra para as famílias. Afirmou ainda que se as famílias não aceitassem a pequena parcela de terra, "quem iria resolver o problema era o gerente Abraão e o que ele fizesse estava feito." Nesse momento um jagunço falou que no dia seguinte os invasores dariam continuidade no trabalho de roço e que "para resolver o problema, bastava matar uns quatro que tudo seria resolvido." Ao se retirarem do local, o latifundiário Raimundo e seu bando armado avisaram que o prazo do acordo findaria em 04.10.2011(terça-feira próxima) e nesse mesmo dia, o latifundiário Raimundo afirmou que todos deverão ter saído da sua terra. No retorno ao município de Miranda do Norte, anunciaram no Comercial São João, nas imediações do povoado, que com a morte de alguns, tudo seria resolvido, segundo o gerente Abraão. As famílias estão apreensivas, temendo por atos de violências contra a sua integridade. O morador mais antigo da localidade tem mais de 80 anos, e o povoado tem registro de aproximadamente 120 anos. Fazem apelo para que a Ouvidoria Agrária Nacional requeira, urgentemente, reforço policial na área em questão, oficiando-se aos órgão de segurança, em especial, ao Comando Militar Agrário e à Delegacia de Crimes Agrários,visto que o território de Carro Quebrado poderá ser invadido na próxima terça-feira. (Fonte: CPT/MA)

sábado, 1 de outubro de 2011

Mais um assassinato de Guarani-Kaiwá no MS, e outro sofre atentado. Silêncio do Governo Federal é escandaloso!




Mais um assassinato de um jovem Guarani-Kaiwá deverá pesar na consciência do governo federal, se é que ainda existe essa dimensão na gestão pública dos bens e dos recursos humanos. Teodoro Ricardi, 25 anos, foi a última das 38 vítimas fatais de indígenas somente neste ano. 71%, ou seja, 27 deles ocorreram no MS. Já em 2010, corresponderam a 53% dos assassinatos ocorridos no mesmo Estado. Dois dias após a execução de Teodoro, outro indígena da mesma etnia, Isabelino Gonçalves, sofreu uma tentativa de assassinato durante uma emboscada de pistoleiros, - conforme relata o CIMI. O Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, parece mais receptivo em rever os limites das terras já demarcadas do que demarcar as que precisam dessa medida. A inoperância federal na demarcação das terras já identificadas, e a total ausência de decisões para garantir a incolumidade física e territorial do povo Guarani-Kaiwá está criando um clima de desespero em outros povos indígenas que haviam alimentado esperanças com os ‘governos populares’ petistas. Se é bem verdade que o governo Evo Morales fez num só dia o que o governo Dilma fez em nove meses, não se pode negar aos dois que essas omissões e cumplicidades oficiais os igualam a muitos dos seus antecessores militares ou não, que passaram à história como etnocidas!


A gestão da vinha/humanidade será entregue a uma nova geração. A atual só produziu falência! (Mt.21.33-43)





Vivemos uma época excepcional. Há uma convergência de descobertas, acontecimentos, transformações e crises como nunca houve na história da humanidade. Invenções e descobertas em todos os campos, de forma simultânea e universal, e num curtíssimo espaço de tempo. Relacionado a isso, todavia, manifestam-se crises de igual envergadura, amplas e universais. O diferencial, porém, nesse momento, é que essas crises não têm um caráter passageiro. Parecem salientar uma crise de fundo, de caráter permanente. É como se uma civilização inteira, - não um modelo civilizatório, - esteja decretando o seu próprio e definitivo esgotamento. Por causa das suas contradições e devaneios que já não consegue e não quer controlar. A crise econômico-financeira atual não é a típica crise de um recente modelo capitalista em que se alternavam explosões de produção e consumo a retrações e estagnações. A atual crise revela o delírio destrutivo deflagrado pela própria humanidade, em particular por grupos econômicos e instituições preocupadas com a superprodução. E com a cumplicidade dolosa de uma sociedade sempre mais ‘individualizada’, e indiferente ao seu semelhante. Basta dizer que somente a riqueza acumulada pelas 250 ‘pessoas’ mais ricas do planeta poderia resolver de vez os problemas educacionais, alimentares e de saúde de um bilhão de pobres e miseráveis desse planeta. Isto diz muito sobre o alto nível de loucura a que chegamos. Às conquistas tecnológicas não têm correspondido avanços na efetivação dos direitos tais como a equidade, o respeito pelo habitat das espécies, o acesso universal à justiça, a universalização do saber, etc. O desconcertante, contudo, é que ‘ninguém’ vai pedir prestação de conta de tal situação, pois cada nação, cada grande empresa sente-se dona do seu próprio nariz. Autônoma e auto-suficiente para agir como melhor lhe apetece. Não possuímos, nessa vinha esfacelada, formas organizacionais ou instituições de caráter universal que exijam quais frutos esses ‘vinhateiros’ deveriam produzir....



A parábola de Jesus narrada por Mateus parece se inserir nesse contexto, embora nasça num âmbito específico. Tem como pano de fundo o presente histórico conflituoso e contraditório da sociedade israelita daquela época. Mas o evangelista trabalha o texto de forma tal que se torna extensivo e aplicável à ‘vinha humana’ como um todo. Não estranhamos a irresponsabilidade dos vinhateiros. Nós os vemos todos os dias no nosso meio. Prepotentes, arrogantes, achando que eles podem tudo sobre todos. Tampouco estranhamos a sua ambição e sede de poder e de acumular tudo o que pertence ao ‘dono/criador’. Nem ficamos surpreendidos com as ações homicidas deles. Afinal, ainda hoje se matam os ‘profetas da desgraça e da resistência’. Os que denunciam os desmatamentos, o aquecimento global, o trabalho escravo, a super-exploração de homens, mulheres e crianças. Aqueles que não se conformam e insurgem contra a produção de tantas formas destrutivas e autodestrutivas.



É a conclusão da parábola que nos deixa ou deveria nos deixar chocados. Essa incapacidade de ‘produzir frutos’ de justiça, de fraternidade, de equidade e de respeito será punida com a transferência da coordenação de gerir os bens da vida, - a vinha da humanidade, - para um ‘outro povo’ que saiba fazer isso. A atual geração se demonstrou incapaz de gerir com equilíbrio e sabedoria a vinha/humanidade. Produziu falência. Vem tentando se apropriar de todos os bens que pertencem ao único Criador e verdadeiro gestor. Entretanto, em que pese tudo isso, dentro dela está surgindo uma nova geração. Um novo povo. Talvez mais livre, mais humano, menos ambicioso, mais sóbrio. Será esse povo/geração que passará a gerir a vinha/humanidade. Corrigindo distorções, derrubando delírios, extirpando manias de grandeza, e eliminando de vez a insensatez de quantos continuam a se achar donos da verdade. E de um mundo que já não mais lhes pertence!