sábado, 15 de outubro de 2011

Para além da 'indignação' contra os 'césares' que dominam e escravizam! (Mt. 22, 15-21)



Hoje centenas de milhares de pessoas no mundo todo ocuparão ruas e praças para manifestar sua ‘indignação’ contra os abusos do sistema político-financeiro. E contra a crise social e econômica que os seus ‘césares’ vêm produzindo. Uma crise que vai além das perdas salariais e da falta de emprego formal. É uma crise que põe uma hipoteca sobre o futuro da humanidade. Crise ética, portanto. Crise de valores. Mas também crise organizacional, ou seja, incapacidade dos seres humanos de organizar de forma razoavelmente equânime a geração/produção e distribuição dos bens produzidos. Coisa que as abelhas, as formigas e tantos outros bichos sabem fazer com maestria. Nesses dias, num pequeno artigo da Folha de São Paulo, apareceu a informação segundo a qual alguns neuro-cientistas afirmavam que o ‘bebê’ (filhote de hominídeos!) já nasce com um ‘ sentido de justiça’, embora rudimentar. Este sentido de justiça estaria já presente nos seus genes. E não seria somente algo adquirido mediante os normais processos de aprendizagem. Poderoso! Isso diz muito sobre os poder diabólico dos humanos em manipular sua própria espécie para que ‘não desenvolva’ uma atitude que faz parte da sua estrutura genética! Diz muito também sobre a natureza da nossa própria missão como humanos nessa rápida passagem terrena! O que existe, então, nos humanos que faz com que percamos ou deixemos de desenvolver atitudes de justiça? Que outros processos, contra-valores são introduzidos para inibir, - quando não para apagar, - o ‘sentido de justiça’ que adquirimos ao nos formar como espécie humana?

Jesus certamente não possuía as informações que possuímos nós sobre a nossa própria estrutura genética. Nem precisava. Jesus como ser humano herdou e foi educado a possuir um forte sentido de justiça. Os seus educadores ajudaram-no a não se deixar manipular. Mas a conservar, e a fazer crescer nele mais ainda o sentimento da justiça. Mais: a praticar a justiça, evidenciando as suas negações no seu cotidiano e identificando aquelas ações que pudessem fortalecer a prática da justiça. Aprendeu a perceber os sinais de injustiça presentes no ser humano, e nas suas estruturas. Experimentou diante disso forte ‘indignação’. No trecho evangélico hodierno Mateus nos oferece um retrato sumário da ‘natureza ética’ de Jesus. O que o movia e o que o ‘indignava’. Tudo começa com uma pergunta capciosa. Aparentemente, de natureza jurídica. Pagar ou não o imposto a César. Na realidade o que está em jogo é o que Um (Deus) e outro (César) representam para uma sociedade (Israel). Uma nação que coloca – pelo menos formalmente - Deus acima de tudo, mas que tem que fazer as contas com ‘alguém que age como deus’! Com alguém que interfere diretamente, e de forma totalizante, na vida das pessoas. Quem manda na nossa consciência? Quem determina o valor, a natureza, e o sentido das nossas opções? O Deus da liberdade e da vida, ou o César da dominação, do totalitarismo, do egoísmo sem freios? O que está em jogo, portanto, é uma questão de ‘soberania ética’. Jesus ao aconselhar de devolver ao próprio César a moeda que o retrata coloca limites claros à sua (de César) atuação. É um forte chamado a não interferir na ‘soberania de Deus’. A César só cabe a ‘auto-contemplação’ narcisista do seu próprio rosto gravado numa moeda produzida por ele mesmo. A Deus, ao contrário, ao Legítimo Gestor do único e verdadeiro Reino cabia tudo. A esse Soberano precisava-se ‘devolver’ não moedas ‘que enferrujam e que os ladrões poderiam carregar’, e sim, a terra/território que Lhe pertencia. E que o César ocupava de forma ilegal. Ao verdadeiro Rei cabia só gratidão e livre submissão. Adoração autêntica e confiante. Reconhecimento que só Ele – fonte e consciência de toda justiça – pode nos libertar de tantas dependências que continuam a nos escravizar.

Aos 'césares', a nossa indignação, o nosso repúdio, a nossa insurreição!

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