sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Geradores e organizadores da esperança fragilizada (Lc.1,26-38)

Quem de nós nunca fez uma experiência de ‘iluminação’? Uma percepção reveladora. Um sentir profundo. Uma voz anônima que ecoava imperceptível, repetitiva e insistente na nossa ‘alma-consciência. E que nos ‘intimava’ a assumir uma determinada atitude. A fazermos uma escolha que julgávamos uma loucura. A decidirmos um caminho que nos parecia insensato. E tivemos que nos tornar ‘escravos’ daquela voz. Sob pena de não dormir à noite. De ficarmos mal o tempo inteiro. De nos sentir traidores se não déssemos ouvidos àquela voz que já se havia transformado num grito. Enfim, obedecer àquela voz, a ‘nós mesmos’, para nos sentir livres.

O evangelho desse domingo narra como se deu essa experiência luminosa em Miriam-Maria, mãe de Yeshuá-Jesus de Nazaré. Miriam compreende qual deve ser o seu papel como cidadã de Israel. Não um chamado a ser mera geradora biológica de vida. Mas a ser aliada num ‘indefinido’ plano de ‘salvação nacional’! Compreendeu-o não através de sinais prodigiosos. Nem por meio de revelações extra-sensoriais. Mas como fruto maduro da sua capacidade de ler ‘os sinais’ históricos, sociais, políticos e religiosos da sociedade em que vivia. Miriam, uma anônima aldeã da Galiléia, se junta conscientemente á história de rebeldia, de insurreição daquele povo. Um povo de ‘indignados’. De irreverentes. E desobedientes às leis do templo, e aos impostos romanos. Miriam não quis, e nem podia silenciar aquela voz interior insistente. Ela teve que dizer ‘sim’ à sua consciência. Que a ‘intimava’ a fazer brotar, crescer e educar uma vida nova no ‘deserto humano’ que havia se tornado Israel. Jesus é concebido em Miriam como esperança para um povo, antes mesmo que como filho biológico. Miriam já vê Yeshuá como ameaça para alguns e oportunidade única para outros. Talvez, muitos.

Tanto é verdade isso que Miriam sente-se chamada a educar o seu filho para ele se contrapor aos ‘reinantes’ contemporâneos. Que haviam produzido só esterilidade e infecundidade. Esse ‘filho do povo’ governaria o seu povo de forma totalmente nova. Antagônica ao próprio reinado de Davi. De quem ocuparia o lugar. E, naturalmente, ao modo de governar de César Augusto. Ele, Yeshuá, ocuparia, a seu modo, o lugar usurpado indigna e ilegalmente por esses ‘governantes’! Mostraria como é possível fazer brotar fertilidade lá onde parece haver esterilidade. Vida múltipla lá onde parece existir só a mono-cultura do deserto. Da mesma forma que Deus faz brotar vida e esperança dos úteros-entranhas aparentemente estéreis de 'muita Isabel'!
Para que ninguém silencie a voz que intima a gerar novas formas de convivências humanas, de governabilidade, de organização da esperança fragilizada!

Um comentário:

Glacy disse...

Muito rica essa força que você encontra em Maria, todos buscamos algo novo e vibrante na vida, mas poucos são os que dizem sim quando são chamados a viver uma nova consciência...