sábado, 24 de março de 2012

Morrer para que outros vivam! (Jo.12, 20-33)

Muitos de nós ouvimos falar ou testemunhamos circunstâncias em que pessoas conhecidas, amigos, militantes da justiça e da liberdade tiveram suas vidas ameaçadas, ‘mortes anunciadas’! E mesmo assim, atônitos, constatávamos que não arredavam. Deixavam de fugir e de se esconder. Mantinham, teimosamente, a mesma ousadia e persistência. Pareciam até desafiar, e provocar quase que ‘gratuitamente’ quantos já se sentiam ‘ameaçados’ por suas denúncias e coerências....Essas atitudes pareciam aos nossos olhos uma suprema e irresponsável manifestação de desprezo pela sua própria integridade física. Por sua própria vida física. O bem mais precioso que Deus nos deu. Muitas vezes nos sentimos questionados por causa disso. Mas nos livrávamos imediatamente de qualquer problema de consciência tachando-os de ‘insanos radicais’. Ou de pessoas que já vítimas de sua própria imagem estavam levando adiante uma ‘guerra somente pessoal’.


Há vários teólogos que afirmam Jesus, afinal, teve o típico comportamento de um ‘fanático religioso’. Ele achava que Deus o teria livrado, literalmente, da morte, na hora certa. Afirmam que o Mestre da Galiléia possuía elementos mais que suficientes para perceber que em Jerusalém teria sido preso, julgado e condenado à morte. E que, mesmo assim, por algum motivo, decidiu não fugir ou retroceder, mas quis olhar de cara sua própria morte. Talvez por perceber que a ‘sua guerra’ já estava perdida, e que não adiantava mais fugir. Já outros teólogos, mesmo aceitando parcialmente essa tese, sustentam que Jesus tenha chegado à convicção de que não havia mais outros sinais a oferecer a Israel a não ser sua própria morte. A morte encarada como imperativo ético seria o último e extremo sinal profético de Jesus de Nazaré. É como se Jesus tivesse chegado à conclusão de que todos aqueles gestos de acolhida, de compaixão, de fraternidade, de reconhecimento da dignidade dos pobres e dos pecadores que havia realizado fossem ineficazes e incompletos se não fossem selados pela sua própria morte. Esta teria tido o poder de ‘convencer-converter’ os relutantes israelitas. Morte, porém, que Jesus sabia ser operada pelas mãos daqueles que jamais tiveram compaixão. E que nunca souberam acolher e reconhecer a dignidade dos pobres e pequeninos de Israel.


O evangelho de hoje expõe de forma nítida o verdadeiro sentido que Jesus atribuiu à sua própria morte. E antecipa qual deverá ser também para aqueles que o querem ‘servir-seguir’. Não a morte voluntária e orgulhosamente aceita e exibida de um fanático religioso Galileu. Uma espécie de suicida fideista. Nem tampouco a morte de um fracassado e acuado pregador itinerante que não tinha mais nada a perder. Nem, enfim, a morte de um ‘cordeiro’ que se oferece em holocausto para a expiação dos pecados alheios. Jesus, ao contrário, sentiu ‘profunda angústia’ diante da perspectiva da morte violenta, pois amava a vida em todas as suas dimensões acima de tudo. Tinha consciência do que teria perdido: o seu organismo biológico! E, paradoxalmente, por causa desse amor à vida em plenitude, - sua e alheia, e não só a biológica, - Jesus leva às últimas conseqüências sua missão de profeta. Fugir naquele momento teria sido para Jesus uma desmoralização da sua pregação sobre o Reino da vida e da graça que havia anunciado e testemunhado com coerência e firmeza até então. Teria sido uma traição para com tantos homens e mulheres que haviam conhecido pela primeira vez, através dele, o que significava ser gente. Ser ‘filh@ de Deus. Ser perdoado. Ter esperança. SER CHAMADO PELO NOME!

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