sábado, 30 de junho de 2012

As feridas abertas de Nova Friburgo (RJ)


Peço desculpa aos meus fiéis leitores pela ausência comunicativa. Os compromissos relacionados aos deveres do ofício levaram-me para direções plurais. Numa só viagem acabei conhecendo realidades extremamente variadas. Da cúpula do Rio+20 e seus desdobramentos às feridas abertas de Nova Friburgo a duas horas e meia do Rio de Janeiro, na serra carioca. Falo em feridas abertas, pois continuam visíveis não somente os desmoronamentos ocorridos na tragédia de 11 de janeiro de 2011 que vitimaram mais de 900 pessoas, mas também as feridas abertas da memória e da dor nos que ficaram. Naquela noite, as incessantes chuvas produziram em diferentes partes da cidade o desmoronamento de varias encostas daquelas sugestivas montanhas numa sucessão dramaticamente sincronizada. Vi prédios que ainda hoje expõem as consequências do cruel esquartejamento a que foram submetidos. Há trabalhadores tentando recompor as camadas superficiais do solo com capim e tentando ocultar aquelas encostas feridas que carregaram corpos nunca achados, e esperanças jamais realizadas. Aparentemente, nos rostos das pessoas a tragédia parece ter sido emotivamente superada, - talvez apostando na continuidade da vida e do cotidiano feito de trabalho e teimosia, - mas é suficiente citar o trágico ocorrido para compreender que as marcas continuam cristalizadas na memória. Como se isso não bastasse nesses dias o Ministério Público Federal pediu a condenação do vice-prefeito afastado e do ex-procurador-geral do município de Nova Friburgo justamente por desvio de verbas que haviam sido encaminhadas pelo governo federal para socorrer as vítimas e para tentar recuperar o que foi destruído. Talvez essa ferida seja a mais dificil de cicatrizar. Afinal, são as mesmas pessoas que criminosamente permitiram ocupações desordenadas do solo - e indiretamente se tornaram responsáveis pela desgraça ocorrida, - e são os mesmos que, posteriormente, tentaram especular financeira e politicamente sobre as vidas que se foram e outras que ficaram por sua causa. Imperdoável!

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