sábado, 1 de setembro de 2012

Lei para servir e amar muito mais!


Somos filhos gerados na cultura da lei. Subjugados pela lei, aquela com ‘l’ minúsculo. Aquela produzida por ‘humanos’ unicamente  interessados em salvaguardar os seus privilégios. Não a lei que manifesta e protege valores que dão sentido à co-existência humana, e sim a lei de uma elite, - sacerdotal ou civil, - que alinha e escraviza outros humanos.  Que controla consciências, nega liberdades e co-responsabilidades. Não a lei que educa à vida em comum, mas normas e preceitos proibitivos mistificados, com aparência divina, e que visam a preservar o poderio de quem os gerou. As leis que nós conhecemos e que não conhecemos, uma vez formalizadas, parecem assumir, simbólica e efetivamente, um caráter absoluto. Quase divino e dogmático. Tornam-se normas incontestáveis. Só devem ser aceitas e obedecidas. Poucas pessoas se perguntam a quais interesses ‘essas’ leis e normas atendem. Quais pessoas, grupos ou instituições estão por trás delas. O que elas escondem por trás de sua suposta universalidade e justeza. É a essas e a outras perguntas que no evangelho de hoje Jesus quer responder. Jesus faz isso através de várias etapas. Ele deixa claro, inicialmente, de quais normas e preceitos ele está falando. Jesus se refere justamente às normas produzidas por ‘homens’. Ou seja, pessoas que pertencem a um grupo religioso e político bem específico (fariseus). Pessoas de parte, com interesses e propósitos bem definidos. Com isso Jesus desmascara o seu caráter supostamente divino e absoluto.
Jesus deixa a entender que são leis, normas, preceitos que nada têm a ver com a ‘vontade’ de Deus. Portanto, podem ser contestadas, desobedecidas e mudadas. Num segundo momento, Jesus afirma que as normas e proibições, além de não manifestar a vontade de Deus, elas têm um caráter ‘alienante’. Em lugar de favorecer o crescimento humano apontando a verdadeira essencialidade da vida, essas ‘normas humanas’, de parte, escondem-na. São leis desviantes. Expõem, erroneamente, o periférico, o externo e o secundário e o manipulam de tal forma que parece ser algo central e essencial. Uma brutal distorção de valores. Jesus, enfim, reafirma de forma enfática o que pode efetivamente ‘contaminar’ o ser humano. Ou seja, ofuscar-lhe a capacidade de identificar o que realmente conta na vida e o que é marginal. Para Jesus não é tanto o cumprimento formal ou não de um preceito, de uma proibição, ou de uma tradição ‘de homens’ que o torna ‘puro’ ou ‘impuro’. Ou seja, que o faz apto ou não para a vida social, religiosa, humana. Ao contrário, tudo depende do que sai do interior do coração humano. Da sua plena capacidade de decidir e de sentir. De se situar perante si próprio e perante os outros. Tudo depende da sua decisão e capacidade de amar ou odiar, de se doar ou de se fechar, de servir ou de dominar, de viver de forma sóbria ou de acumular e invejar quem possui mais do que ele. A obediência á lei, a uma norma faz sentido somente se ela capacita o homem a amar mais, a servir mais, a acolher mais, a respeitar mais, longe de qualquer formalismo. Longe de qualquer legalismo hipócrita. 

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