sábado, 13 de outubro de 2012

Não tanto a vida eterna, mas o reino de Deus, agora! (Mc. 10,17-31)

Existem pessoas que passam ainda noites insones pensando sobre qual será o seu destino futuro, após a sua morte biológica. Pautam suas ações e atividades religiosas do dia a dia condicionados exclusivamente pela preocupação de perder definitivamente a vida eterna. De serem condenados ao fogo eterno ou serem salvos no paraíso dos justos. Frequentemente a preocupação se transforma em medo, em formas graves de paranóia. Sabemos que o medo distorce a realidade e paralisa as pessoas. Deixamos de ser livres, lúcidos, conscientes. Tornamo-nos isca fácil daqueles que prometem salvação rápida e definitiva. A salvação da alma, claro!O evangelho de hoje nos diz que a nossa preocupação, enquanto pessoas de fé, não deveria estar relacionada à possibilidade ou não de herdar a vida eterna. Isso será dom de Deus, e não conquista nossa! A verdadeira preocupação, no entanto, deveria ser aquela relacionada à nossa capacidade e possibilidade de entrar ou não na lógica do reino de Deus. Esta tem a ver com a nossa vida concreta, histórica, agora! Com a nossa capacidade de construir vida e felicidade para nós e para os humanos no dia a dia. Longe de toda visão intimista e espiritualista Jesus concentra a sua atividade e os seus esforços na possibilidade real de construir o reino de Deus no presente histórico. E é isso que ele diz ao jovem que estava preocupado unicamente em ‘herdar a vida eterna’ após a sua morte.
Na prática Jesus convida aquele jovem honesto e sincero a não se preocupar tanto com o seu destino após a sua morte, mas com aquilo que estava a ameaçar a sua felicidade e o futuro de tantas pessoas no seu dia a dia. Convida-o a não se preocupar unicamente com o cumprimento rigoroso das normas litúrgicas e dos mandamentos legais com o intuito de barganhar uma salvação espiritual futura, mas de assumir, de vez, a lógica e a prática do reino de Deus, agora. Isso era urgente e determinante para a sua vida presente e futura. Jesus convida o jovem, e todo seguidor dele, a dar esse passo, mesmo que tenha que fazer opções radicais e momentaneamente dolorosas. Será, contudo, a sua capacidade de estar ao lado dos pequeninos e dos desprovidos de tudo que ‘o jovem’ - que ‘somos nós’, - poderemos encontrar ‘abundância multiplicada’ de afeto, de acolhida, de amparo, de amizade. Mais uma vez o mestre nos alerta que é mediante a plena partilha e solidariedade com ‘os pobres’ e desamparados que poderemos construir um presente carregado de salvação concreta e completa. Só superando as nossas pulsões por estabilidade e segurança, por posse e consumo, que estaremos mais livres para nos doar, e mais abertos para receber e acolher. Afinal, a vida plena, abundante e generosa, - que poderá ser eterna, - começa a ser construída aqui e agora! 

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