quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

II ADVENTO - Rebaixar o dominador e elevar o esmagado endireitando os caminhos tortuosos (Lc.3, 1-6)

Eis aqui uma obra-prima de Lucas! E de quantos, como ele, sabem viver antenados com a realidade em que vivem!Uma descrição do contexto histórico em que Jesus cresceu e viveu de uma profundidade e de uma atualidade únicas. Inimitável. Como não mergulhar naquele mundo descrito por ele? Como deixar de contemplar, boquiabertos, personagens, lugares, relações e conteúdos que nos trazem tragicamente ao nosso hoje? Lucas, na realidade, não descreve simplesmente um determinado contexto social e histórico. Uma mera situação conjuntural. Ele quer nos oferecer a clave de leitura para sabermos contextualizar, compreender e interpretar acontecimentos, pessoas, interesses, objetivos, identidades de que fazemos parte. E os coloca numa inteligente correlação. É uma verdadeira aula de metodologia de análise. Instiga-nos a identificar quem detém, hoje, o verdadeiro poder e a hegemonia moral. E a descobrir no nosso hoje sobre quem ‘desce’ a palavra de Deus (v.2). Uma palavra profética que desvela e revela o ‘deserto’ em que se encontram os humanos. Aqueles que sofrem os desmandos dos que se consideram ‘guias e senhores do povo’. Uma palavra cortante que mora, logicamente, longe dos palácios e dos templos. Uma palavra despida da ‘suntuosidade e de bela aparência’ daqueles que a proclamam a partir dos púlpitos das catedrais e das sacadas dos palácios reais. Uma palavra que não conforma os submissos, e nem confirma os dominadores, mas anuncia mudanças totalizantes e radicais.

Palavra criativa de Deus que irá operar, enfim, a verdadeira justiça, aquela esperada pelos injustiçados.Quem está lá em cima, seguro de si, dominando inconteste, deverá ser rebaixado. E quem se encontra na fossa, esmagado e submisso, deverá ser elevado. Para que não haja nem dominação e nem submissão, mas equidade (v.5). Lucas, entretanto, deixa claro que cabe ao profeta, sobre o qual ‘desceu a palavra de Deus’, gritar e convocar para o grande mutirão em favor da ‘conversão’ de todos, e da mudança (v.3). E redescobrir nos caminhos do ‘deserto’, da aridez e da provação, a sua fonte inspiradora. E em sintonia com um passado feito de salvação conquistar, hoje, a ‘terra prometida. E se libertar dos novos tiranos e faraós escravocratas. Isto exige acolher e incorporar os valores do Reino que são diametralmente antagônicos aos de Tibério César, de Pôncio Pilatos, de Herodes, de Felipe, de Lisânias, de Anás e Caifás.  E aplainar e endireitar os caminhos tortuosos e escabrosos da iniqüidade e da desigualdade. E aqueles ‘corpos’ (v.6), - e não só almas, - que experimentam, hoje, as deformações e as mutilações produzidas pela ‘tortuosidade e escabrosidade’ humana poderão ver a salvação real. Aquela histórica, tangível. Só assim os filhos e filhas de Deus, e não de César, poderemos atualizar, parafrasear e reescrever nos gestos e nos textos o que Lucas nos transmitiu outrora: ’No ano 1 (um) do Reino de Deus, quando os seus filhos e filhas se tornaram servidores uns dos outros, e não mais existiam tiranos e dominadores corruptos, e sendo Jesus de Nazaré seu mestre e profeta inspirador,  a palavra de Deus ‘desceu’ sobre.........’ 

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