quarta-feira, 19 de junho de 2013

Fomos às ruas por dignidade. Por respeito.

'Participei ontem dos maiores protestos que já vi agitarem o país. Ou, ao menos, que eu tenha tido o imenso prazer de participar. Paramos o país de norte a sul. Éramos 100 mil no Rio, mais de 100 mil em São Paulo (o movimento que começou no Largo da Batata se dividiu em vários "menores", um deles ocupou toda a Brigadeiro Luis Antônio da JK até a Paulista, só ali éramos mais do que os 60 mil totais divulgados pela mídia), mais de 20 mil em Belém, milhares em Brasília...Mas por quê? 
A revolta não nasceu por causa de 20 centavos, 10 centavos, nem 30 centavos. Ela tão somente ESTOUROU depois dos aumentos simultâneos em todo o país. Enquanto o PT prega que o país está indo às mil maravilhas, o povo nas ruas mostrou que esta imagem não é real. Não estamos sorridentes com a Copa, não estamos felizes com a educação, com a cultura, com a saúde...Protestos contra o aumento se juntaram a protestos contra os gastos absurdos da Copa, com a insatisfação com a cidade, com a exclusão social, com as tentativas de golpe contra o judiciário patrocinadas pelo PT e aliados, como no caso da PEC37, contra a violência policial, contra a educação e saúde precárias...

Enfim, o povo foi às ruas contra o atual modelo de país que temos, excludente, desigual, com bilhões fluindo para a FIFA e para obras faraônicas e virtualmente inúteis, em protestos reprimidos com extrema violência e brutalidade, enquanto somos bombardeados por propagandas estatais de que "está tudo bem", "está tudo lindo". Não está. Indígenas são massacrados e desrespeitados em suas terras, na verdade muitos sequer tem terras. LGBTs são assassinados nas ruas por simplesmente serem quem são, a periferia grita contra o genocídio que sofre, e toda a população se revolta contra a submissão a uma política de iguais, sem opções, em que PSDB e PT se revezam em acusações, mas são apenas faces da mesma moeda: Corruptos, privatistas, entreguistas, preocupados em enriquecer aos seus e não em transformar o país. Não há imagem mais emblemática que o povo ocupando o Congresso. Pacífico, apenas demonstrando sua força e que quem deve ter medo é o poder, são os governos, e não o povo. O governo nos serve, deve nos servir e deve nos temer. Estamos diante de uma onde sem precedentes de conservadorismo, de medievalismo religioso, de tentativas de destruir o judiciário ao invés de reformá-lo e torná-lo mais democrático. O povo estourou contra um congresso e legislativos corruptos, desconectados da realidade do povo. Enquanto pegamos ônibus, metrôs e trens lotados, políticos impõem suas pautas pessoais usando carros de luxo pagos com nosso dinheiro e vivem em mansões inalcançáveis para a ampla maioria da população. Lutamos e fomos às ruas por dignidade. Por respeito'.
(O comentário é de Raphael Tsavkko Garcia, jornalista, blogueiro e ativista social em artigo no seu blog, 18-06-2013).

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