sábado, 1 de junho de 2013

Jesus constrói a nova família planetária através de 'estranhos estrangeiros' que se tornam 'próximos' através da compaixão (Lc. 7,1-10)

Parece haver uma tendência inata de ‘estranhamento’ nas pessoas quando colocadas diante do desconhecido. De tudo o que foge do seu mundo concreto, supostamente conhecido, e da sua convivência diária. Há uma clara tendência nas pessoas que pertencem a uma mesma cultura em olhar e julgar as demais que pertencem a outra cultura a partir de seus próprios padrões comportamentais. Naturalmente analisamos e julgamos os ‘estranhos’ a partir de modelos culturais nos quais fomos formados e socializados. Nada tão grave, diria a antropologia social, desde que os nossos sentimentos de ‘estranhamento’ com relação ao outro não se transformem, por exemplo, em xenofobia, no medo doentio para com o ‘estrangeiro’. Ou seja, quando ‘o outro, o estrangeiro’ aquele que não conhecemos e que não pertence ao nosso grupo social é visto e tratado como um potencial inimigo. Um alguém que pode nos ameaçar só pelo fato de ser ‘culturalmente diferente’. A partir dessas constatações podemos compreender o porquê, por exemplo, da necessidade social e religiosa em Israel, de amar o seu ‘próximo’, o que está perto, que se conhece. De ser solidário com os seus membros de família e de pertença étnica. Daí a necessidade de cuidar, primeiramente, das ‘ovelhas perdidas da casa de Israel’ e de ‘não tirar o pão aos filhos para entregá-los aos cachorros, aos estrangeiros’. Esta sempre tem sido a prática social e cultural não só de Israel, - que se achava o ‘povo eleito’, - mas da grande maioria dos povos e etnias que se consideram ‘gente verdadeira’, em contraposição aos ‘estranhos estrangeiros’ que não o seriam.
No evangelho de hoje, Jesus, o cidadão israelita que, como os seus patrícios também ele olhava para os ‘estrangeiros’ com ‘estranhamento’, descobre num estrangeiro aqueles valores que não imaginava encontrar. O interessante é que Jesus em lugar de encontrar uma desculpa ou pretexto para tentar justificar para si e diminuir a surpreendente manifestação de fé do estrangeiro, com toda humildade e realismo, a reconhece e a louva. É como se os olhos do cidadão ‘nacionalista e antropocêntrico’ Jesus de Nazaré se abrissem de repente para admitir publicamente que fé e valores humanos não são patrimônio de um grupo, de uma etnia, de uma instituição, mas dons espalhados do Pai. São experiências como essas que ajudam as pessoas a mudar de mentalidade, e a superar preconceitos viscerais para com os ‘estranhos’. ‘Estranhos’ que, agora, podem ser os nossos próprios irmãos de sangue. São experiências como essas que produzem uma nova metodologia evangelizadora no próprio Jesus e na própria igreja, onde o ‘próximo’ já não é somente o familiar do mesmo sangue, nem o membro da nossa comunidade eclesial, mas o ‘estrangeiro estranho’ que socorre a vítima à beira do caminho. Onde tocamos com mão a ‘fé infinita’ presente não somente num membro da nossa mesma igreja ou religião, mas de um ‘centurião romano’, invasor, pagão, que não frequenta igreja e nem sinagoga. Um ‘estranho’, porém, que se tornou ‘próximo’, porque capaz de sentir compaixão por um seu escravo que para os seus patrícios e membros de comunidade ‘não tinha valor algum’. Foi dessa forma que Jesus foi mostrando como se constrói a nova família onde pai, mãe, irmãos, co-nacionais, colegas, sócios, etc. são ‘aqueles que escutam a palavra e a põem em prática’. Só isso faz a diferença!

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