sábado, 28 de setembro de 2013

Fazer comunhão com os Lázaros deitados á porta da nossa vida e que o nosso egocentrismo não permite que os enxerguemos! (Lc. 16,19-31)

Parece ser mesmo verdade: só na hora do aperreio é que percebemos a presença forte de Deus e das pessoas que poderiam amenizar a nossa situação! Todo dia ‘enxergamos’ gente mergulhada em situações de desespero e de abandono, mas somos incapazes de ‘vê-las’. A nossa indiferença, o nosso egocentrismo, a nossa obtusidade em cuidar somente dos nossos interesses e das nossas amizades particulares não nos permite ver e tocar a miríade de pessoas que gravitam ao nosso redor. Compreender seus anseios, e se compadecer de tantas formas de dor e de descaso. Paradoxalmente, os olhos do ‘rico da parábola’ hodierna se abrem para enxergar a presença de Lázaro somente quando não há mais possibilidade de ‘retorno’. Mais que isso: somente quando ele mesmo faz a experiência da exclusão e da conseqüente negação ao banquete da vida, é que dá fé da ‘existência’ do ‘’excluído’ Lázaro. A parábola de Jesus não visa em primeiro lugar alertar genericamente os ricos para serem compassivos em vida, pois, de outra forma, haveria condenação para eles na outra, mas é um forte chamado para que todos nos eduquemos a perceber a presença de tantas pessoas que vivem deitadas à porta da nossa casa/existência, e somos incapazes de fazer comunhão com elas. 

Não é uma mera admissão da existência da luta de classes sociais em que os ricos, supostamente, seriam punidos por Deus pelo seu egoísmo e falta de equidade, e os pobres premiados, e sim um claro alerta e convite a não ignorarmos justamente aquelas pessoas que hoje nos permitem compreender o sentido das escrituras e da nossa vida. Rico, para Jesus, é todo aquele que se considera auto-suficiente e acha que não precisa dos outros, dos pobres, - pois, supostamente, estes ‘não teriam nada’ a lhe oferecer - e, portanto, poderiam ser por ele ignorados e descartados. Jesus nos convida a perceber que a existência dessas pessoas em nossa vida é a oportunidade que Deus nos dá para praticar a verdadeira compaixão e a verdadeira justiça. Descobrirmos o quanto somos injustos e desiguais. O quanto somos surdos ao que Moisés e os profetas nos falam cotidianamente. O quanto somos incapazes de garantir um mínimo de segurança aos filhos e filhas gerados por Deus. A compaixão de Deus passa, afinal, pela nossa capacidade ou incapacidade de nos compadecer de tantos Lázaros presentes em nossas vidas. E tomarmos consciência de que só através deles, e em comunhão com eles, podemos encontrar a verdadeira felicidade. O sentido mais profundo da nossa vida de permanentes itinerantes em busca de comunhão e de paz. 

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