terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Sudão do Sul - Missionário Comboniano derscreve o drama de um povo à beira de uma guerra civil. Paz para o Sudão do Sul!

Caros amigos e amigas, paz. 
Estou certo de que vocês tem acompanhado pelos meios de comunicação os eventos que vem acontecendo no Sudão do Sul desde domingo dia 15 de dezembro. Os confrontos começaram em Juba e infelizmente chegaram perto da nossa missão de Leer. É uma crise política e militar com um forte grau de tribalismo. Não se poder dizer que é uma guerra civil, mas dada a velocidade e o teor dos conflitos, se não houver diálogo e saída diplomática, estamos caminhando para isso. O conflito teve início em Juba entre a guarda presidencial e forças armadas ligadas ao ex-vice presidente. Era um conflito de natureza política, mas aos poucos foi ganhando contornos de conflitos tribais. O povo na missão de Leer está muito triste com as mortes em Juba porque perderam muitos parentes mortos a sangue frio ou no fogo cruzado. Estão também apreensivos sobre o que poderá acontecer a manhã. Em nível estadual, a situação não está boa. Os barcos que navegam o Rio Nilo indo pra Juba são ancorados em Adok a 24 km da missão de Leer. Os passageiros ficam sem opção e obrigados a ficar em Leer. Muitos ficam sem dinheiro, comida e abrigo. As notícias de hoje é que a situação está ‘calma’ depois das três noites de confrontos. As tropas do exército se dividiram e os militares tomaram o governo do nosso estado. Todos os prefeitos, exceto o nosso foram depostos. Há informações de que o governo teria dado três dias de prazo para o comandante da tropa reverter a situação. Do contrário, haverá um ataque com artilharia pesada para retomar o governo do estado. O povo está com muito medo e começa a fugir de Bentiu. Na base da ONU estão 7000 pessoas que procuram proteção. As ONGs evacuaram hoje. O pessoal da ONU vai partir amanhã. Ficarão os militares da ONU para proteger os civis. 
Um ataque das tropas do governo poderá acontecer nos próximos dois dias. Como sempre são os civis quem mais sofrem. Se houver ataque acreditamos que nossa missão não será afetada diretamente. A cobertura de rede de celular tem falhado em todo o estado. Isso se deve ao congestionamento de chamadas. O hospital dos Médicos Sem Fronteiras continua funcionado normalmente e assim continuará para situações de emergência em caso de maiores conflitos na capital. Na missão estamos isolados no sentido que barcos não vão nem chegam pelo Rio Nilo, a estrada que liga a Juba foi cortada pelas chuvas e sem acesso, não há transporte para Bentiu devido aos conflitos por lá. Voos para Bentiu foram cancelados. Os aviões da ONU voam em caráter de emergência para evacuação. Mas não chegamos a esse ponto. No mercado de Leer tem muita comida. Caso haja um conflito longo no estado não haverá escassez de alimentos. Mantemos as celebrações de natal, exceto as mais distantes por motivos de segurança. Posso dizer que estamos bem, mas peço por favor que continuem rezando por nós e pelos povos do Sudão do Sul e seus líderes. A Igreja cumpre seu papel de mediadora da paz e reconciliação, levando conforto aos aflitos, acolhendo refugiados e deslocados, dando apoio nas horas difíceis. Jesus vai chegar neste natal. Que ele traga mais uma vez o dom da paz e reconciliação para nós. 

Pe. Raimundo Rocha, mccj - Leer, Sudão do Sul, África

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