sábado, 3 de janeiro de 2015

Não há astros vagantes, a estrela permanente que ilumina é o próprio Jesus (Mt.2,1-12)

Nós humanos descobrimos que existe no nosso íntimo uma permanente sede do novo, do desconhecido. Se de um lado diante do estranho podemos experimentar medo, do outro nos sentimos atraídos por ele. Temos raízes fincadas nas nossas tradições e crenças, e isso fortalece a nossa identidade, mas ao mesmo tempo possuímos uma abertura sem limites ao alheio, ao outro que não conhecemos. O nosso desejo de conhecer e de nos aproximar do mundo do outro e do desconhecido é, ás vezes, para dominá-lo e combatê-lo, mas também é para nos enriquecer humana e culturalmente. A ‘estória’ dos ‘reis magos’ revela a abertura dos seres humanos em se abrirem às experiências de fé de outros seres, concretamente, à mensagem e ao testemunho da ‘estrela’ Jesus de Nazaré. Eles entendem que essa aproximação não ameaça a sua identidade cultural ou religiosa, mas a enriquece. Que as diferenças, sejam elas quais forem, nos enriquecem. Jesus se torna aquele que não apaga as diferentes luzes que cada povo-cultura possui, mas aquele que com sua luz valoriza as numerosas e plurais luzes-experiências humanas e espirituais. Daí a necessidade, na atualidade, de resgatar não as historinhas que foram criadas ao longo dos séculos ao redor dos ‘reis magos’ - que nos têm levado bem longe do real conteúdo da festa hodierna, - mas o seu profundo significado teológico. 
A partir disso podemos compreender que o ‘desconhecido, o estranho, o outro que tem sotaque diferente e opções de vida diferente da nossa’ tem muitos valores a nos transmitir. Que ele não pode ser um campo aberto a ser ocupado, invadido e dominado, mas ao contrário, alguém a ser ‘venerado’ e com o qual conviver e construir juntos. Podemos compreender que todos os povos e seres humanos – não importa suas opções ideológicas, religiosas, sexuais, etc., têm sempre algo precioso a oferecer aos demais. Não são dons materiais, nem mercadorias a serem trocadas ou vendidas, mas valores éticos a serem, simplesmente, oferecidos. E por pura gratuidade, sem exigir reciprocidade. Assim foi com o próprio Jesus quando os ‘reis magos’ o revelaram ao mundo. A estrela de Belém, que é o próprio Jesus, ele mesmo se alimentou das ‘luzes-dons vindos do Oriente’. Jesus, já como adulto, percebeu que os assim chamados pagãos, os estranhos e desconhecidos, tinham muito a oferecer ao seu grupo. Eles deram manifestações de fé e de abertura que Jesus não havia encontrado na sua própria pátria.  Hoje somos convocados a olhar-contemplar o outro, o desconhecido, não como um inimigo - como Herodes via Jesus, - mas como um potencial adorador da vida, da acolhida, do serviço, da paz. Dons tão raros que só poucos os aceitam e os valorizam. Dons que desmascaram a intolerância religiosa e cultural que ainda domina muitos idólatras.

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