quarta-feira, 22 de abril de 2015

Testemunho do líder Nenzinho Gavião “Eles pagam hotel chique para nos convencer a autorizar que destruam nosso território”

‘A Eletronorte me levou para discutir a construção de uma usina que vai afetar nosso território. Cheguei ontem de Belém. Lá a gente ficou hospedado no Hotel Sagres. Para mim, um hotel luxuoso. Estranhei de cara. Numa crise dessas que estamos hoje, para que ficar num hotel daqueles? E ninguém sabe quem pagou a viagem. Foi quando começou a reunião, às nove da manha, que fui me deparar com a realidade. Era uma reunião política reunindo vários deputados, vereadores aqui da região, prefeitos em torno de Marabá. Eles fizeram uma exposição do projeto da usina. Depois, cada um deputado, prefeito, presidente de associação, tiveram a palavra e todos eles apóiam a construção da hidrelétrica. Todos os que estão em volta querem esse falso progresso, essa ilusão da promessa de melhorar de vida que a Eletronorte faz. São todos os políticos que estão pautados em algum beneficio pessoal, uma saída financeira e emergencial para eles, o que está em jogo ali é política econômica, desenvolvimento. Vi que todos os políticos estão querendo ganhar, e há toda essa pressão contra as comunidades indígenas. Na reunião, a Eletronorte deixou claro que o único empecilho para  usina acontecer é que os índios ainda não concordaram. Na minha frente. Serviu para abrir os olhos que, politicamente, aqui na região, não temos parceiros. E a resistência tem que partir daqui de dentro do nosso povo. Nessa reunião pudemos externalizar a nossa insatisfação com esse projeto. O que vemos nesse projeto é uma consequência do próprio projeto da Vale: traz negatividade para as comunidades indígenas. O Palocci, da Eletronorte, fez uma proposta de 30 dias para a gente autorizar o estudo do componente indígena. Se após 30 dias a  gente não aceitar, eles dizem que não querem mais conversar. E se aceitarmos, vão fazer o estudo antes da concessão, e a empresa que fizer o estudo vai ganhar o consórcio, um contrato de 30 anos. Mas esses estudo deles é como receita de bolo, já vem pronto. Queremos parâmetros para as comunidades indígenas decidir se vai ser bom ou não. A Eletronorte faz o estudo biológico, da diversidade, mas não faz o social. O impacto não acontece só na biodiversidade, mas no social também. Será que um projeto de casa de farinha, criação de porco, vai suprir as necessidades indígenas? Para  mim existe coisas maiores’. (Fonte: Carta Capital)

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