terça-feira, 16 de junho de 2015

Jornalismo da Record revela escravidão doméstica e sexual de crianças negras e pobres

A reportagem da Record de segunda feira, 15, revelou ao país a monstruosa realidade a qual crianças negras e pobres da comunidade quilombola dos Kalunga, localizada no território de 3 municípios do Estado de Goiás (Cavalcante, Monte Alegre de Goiás e Teresina de Goiás), são submetidas há muitos anos. Empregadas no trabalho doméstico, exploradas no trabalho infantil e escravas sexuais dos patrões, homens brancos. Esta é a realidade vivida por muitas crianças e, ao que parece, desde sempre, ao lado do poder central do país.Meninas, de 9 a 14 anos de idade, exploradas de todas as formas por aqueles que deveriam protegê-las. Famílias abandonadas e coagidas, estruturas de Conselhos Tutelares e defensores de direitos humanos completamente degradados e frágeis. Descaso de governantes. Uma realidade ainda muito comum em especial nos rincões do nosso país, onde permanecemos no século 19.

“O velho coronelismo interiorano ainda rege nosso município”, diz uma das Conselheiras Tutelares da região. “Não temos formação, preparo e condições de intervir.” “A gente tem conhecimento de 57 denúncias, mas na verdade a prática da exploração de crianças negras vem de tanto tempo e de uma forma tão ‘normal’ para aquelas pessoas que o número de casos pode ser muito maior”, diz em vídeo Marcelo Magalhães, editor da reportagem. Para o repórter Lúcio Sturm, a história de Dalila foi a mais forte: “Ela foi escravizada numa casa, chegou a dormir numa casinha de cachorro. Durante 18 anos ela aguentou essa dor de uma criança abusada, explorada, sozinha em silêncio”, relata. E as palavras da própria ‘Dalila': “Ela só pegou a coberta, jogou pra mim e disse: vai dormir lá na casinha com ele [cachorro]” O apresentador do programa, Domingos Meirelles, em vídeo de bastidores reconhece: “Eu tenho 50 anos de profissão e não me lembro, ao longo da minha vida profissional, de ter visto uma história tão chocante quanto essa”.

 Um ódio, misturado a dúvidas e certezas me agonia o pensamento: como é possível, num país que não alcançou o nível básico de proteção e dignidade à vida de meninas, crianças de 8, 9, 11, 14 anos de idade, discutirmos a destruição da maior legislação de proteção, o ECA? Que espécie de país é esse que naturaliza, banaliza e estimula, por ações e omissões, o estupro coletivo de suas crianças? E que moral têm os senhores engravatados, alimentados por altos salários, corruptos, hereges legislativos que em nome de Deus, da moral, da família, ou mesmo, hipócritas, em nome da história da luta por direitos sociais, “vermelhos-comunais”, que gestam a burocracia, arrotam status, se engalfinham por holofotes e se justificam na burocracia do executivo, dos ministérios, secretarias e conselhos, como o que eu participo, por exemplo – o Conanda – ineficaz, moroso e vergonhoso que é. Que moral? Talvez a moral do escárnio. (Fonte: Carta Capital – Negro Belchior)

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