segunda-feira, 4 de abril de 2016

O xadrez do momento atual - análise de conjuntura - Por Luis Nassif

Desde o início havia a intenção de apanhar Lula e inviabilizar o PT. Mas o Alto Comando montou uma estratégia habilidosa de ir comendo pelas bordas, apanhando os peixes grandes corruptores para, através de sua delação, atingir o objetivo finalístico: Lula e o PT. No início, poucos perceberam a estratégia. E era relativamente fácil rebater os alertas: bastava taxá-los de “petistas” para o argumento ser desqualificado. Eles esperavam na unanimidade da população anestesiada com os artigos da mídia familiar, mas não deu. À medida em que a operação foi afunilando, a estratégia foi ficando cada vez mais exposta. O discurso tornava-se restrito. Quando se constatou a ameaça às instituições, a defesa da democracia tornou-se uma bandeira maior. E o que se observou foi o nascimento de uma solidariedade nacional que promete ser tão bonita quanto a campanha pelas diretas. 
Os grupos de opinião - Assimilar todas as informações foi um processo coletivo lento. Mas houve agentes facilitadores, como o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima e suas constantes entrevistas partidarizadas. O edifício do impeachment ficou, então, suspenso em bases extremamente frágeis:
1.    Uma operação policial cada vez mais ostensivamente seletiva.
2.    Uma conspiração conduzida pelo batalhão dos 'homens probos', Michel Temer, Eduardo Cunha, Aécio Neves, José Serra e Gilmar Mendes.
3.    Comando golpista difuso, com cada qual querendo tirar sua casquinha da fragilidade política do governo. E, aí, expôs-se de vez à opinião pública mais especializada, o meio jurídico, acadêmico, nas próprias redações. O nível de informação nacional estava no ponto certo quando o Ministro Teori Zavascki furou o balão, pela primeira vez enquadrando Sérgio Moro. O edifício começou a vir abaixo. Agora, tem-se o seguinte quadro:

Supremo Tribunal Federal -No julgamento da liminar da AGU (Advocacia Geral da União), embora não fosse julgamento de mérito, houve unanimidade na condenação dos esbirros da Lava Jato. No final de semana, o enorme dossiê preparado pelos advogados de Paulo Okamoto – mostrando arbitrariedades de Sérgio Moro desde o início da operação – traz as primeiras ameaças concretas de anulação da operação. Aliás, nas próprias admoestações à Lava Jato, Teori alertou para os riscos dos abusos abrirem espaço para a anulação. De qualquer modo, o STF precisa devolver à presidente Dilma as prerrogativas açambarcadas por Gilmar Mendes, quando impediu a posse de Lula. E Gilmar não permite dúvidas: sempre será contra o governo e a favor dos seus, em qualquer hipótese.
PGR e Lava Jato - Janot já definiu o alvo – Lula – e o trabalho da Lava Jato é juntar o máximo possível de evidências para instruir uma futura denúncia. A Operação Carbono é uma continuação da saga do tríplex, do sítio de Atibaia. Como observou o insuspeito Jânio de Freitas em sua coluna de hoje na Folha (http://migre.me/tq7zg), graças à palestra do procurador Carlos Fernando na Amcham, a convicção de que a Lava Jato se tornou uma operação político-judiciário “deixou de ser coisa de petista”. A Lava Jato não abriu mão de seus objetivos políticos:
1.    O envio de denúncias contra cinco políticos do PP, no momento em que o governo Dilma tenta remontar sua base de apoio com o partido, preservando as lideranças da oposição.
2.    A caçada implacável a qualquer negócio envolvendo os filhos de Lula, tratando de jogar qualquer informação nos jornais, em uma evidente ofensiva persecutória.
3.    Ressuscitando o caso Celso Daniel – o prefeito de Santo André morto em um assalto e Silvio Pereira, o ex-dirigente do PT que recebia propinas de empreiteiras, episódio exaustivamente explorado no julgamento do “mensalão”.
 
Hoje a Folha traz a tonitruante denúncia de que a Andrade Gutierrez pagou uma podóloga para tratar de seus executivos e permitiu que ela tratasse também dos pés de Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, ao custo de R$ 250,00 (http://migre.me/tq8FM). É uma denúncia detalhadíssima, que resultou em uma sindicância que apurou que, além da podóloga, foram encontradas “castanhas, nozes, frutas cristalizadas, chocolates suíços e frutas exóticas" (coisas de loucos!).Os casos Celso Daniel e o da podóloga comprovam que a Lava Jato gastou seu estoque de fogos de artifício.
 
Mídia- Há um clima de desconforto generalizado nas redações com o anti-jornalismo praticado pela mídia. Observa-se isso nas matérias e entrevistas, cada vez mais questionando a Lava Jato por seu aspecto seletivo. Hoje, a UOL (Folha de São Paulo)trouxe uma matéria jornalística de peso denunciando as arbitrariedades de Moro. Mais do que um acerto comercial, reflete os conflitos internos que estão dominando o ambiente das redações. Estadão e Folha desembarcaram do impeachment, o Estadão abrindo espaço para um inacreditável artigo propondo o estado de sítio e a intervenção militar (http://migre.me/tqquf) e a Folha com um editorial amalucado, no qual reconhece a falta de razões jurídicas para o impeachment, mas exige a renúncia da Dilma. Em que mundo vive esse pessoal? Recuaram para 1992.

Conclusões finais - Conforme previmos dias atrás, a constatação de que o impeachment de Eduardo Cunha-Michel Temer é golpe virou o jogo na opinião pública esclarecida. As tendências que se delineiam daqui para frente:
1.    Esvaziamento gradativo do impeachment com Michel Temer.
2.    Atuação proativa do Supremo coibindo definitivamente os exageros da Lava Jato.
3.    Tentativa de levar o impeachment para o campo do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ampliando ainda mais o coro do “não-vai-ter-golpeee”.
4.    Impossibilidade de o governo Dilma tocar o barco político sem um grande acordo político.É esse o impasse: não tiram Dilma, mas Dilma não governa sozinha. A refundação do governo não poderá se dar exclusivamente na redefinição dos cargos da fisiologia para partidos menores. Terá que chegar aos centros de poder efetivo, para permitir ao país superar a borrasca que vem pela frente

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