quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Primeira palavra – Não servirás aos ídolos que te escravizam, pois Eu sou o Único que te faz livre! (Ex.20,3-6)

“E o homem criou ‘o seu deus’, a imagem e semelhança dele o criou; de mil rostos e identidades o criou”. Parafraseando a criação do ser humano descrita no Gênesis fizemos uma proposital inversão que revela até que ponto chega a autossuficiência e a arrogância da criatura humana. O descendente do ‘homo sapiens’ continua se sentindo o centro e a medida do universo. Na sua ‘estúpida cegueira’ o homem moderno acredita ser ele próprio o único ser em condições de ocupar o lugar de um ‘Deus’ que permanece invisível e, aparentemente, sem rosto. A ‘criatura criada’ acha, afinal, que pode não somente moldar o seu Criador dando-lhe a identidade que melhor lhe convém, mas também se atreve a manipular e a ameaçar outros seres vivos. A primeira palavra que Moisés recebe no Sinai e revela ao seu povo é que o Deus que o motivou a se libertar da escravidão é um só. E somente Ele é fonte autêntica de inspiração para libertar mais criaturas. Se é verdade, segundo o IBGE, que aumentou no Brasil o número dos que não acreditam em ‘Deus’, é igualmente verdade que no nosso País o verdadeiro problema não é o ateísmo, e sim, a idolatria. A questão central é: em qual Deus, de fato, nós acreditamos, e queremos servir? Num deus prepotente e vingativo ou num Deus/Pai amoroso carregado de afeto e de compaixão? 
As pessoas que apelam para um ‘suposto deus’ para oprimir, defraudar, extorquir, mentir, desejar a morte de alguém, acumular riquezas e suprimir direitos não estão acreditando e adorando o mesmo Deus de Moisés e de Jesus. São autênticos adoradores de um ídolo fabricado por eles mesmos: o poder que destrói dignidades e vidas, como o Faraó fazia. O coração desses idólatras só se inflama de devoção quando vislumbram a possibilidade de prevalecer sobre todas as demais criaturas. Professam, hipocritamente, um só Deus, senhor e criador, mas profanam a Sua identidade ao se comportarem, eles mesmos, como senhores dos outros. Dobram seus joelhos e mentes nos templos de suas mesquinhas ambições que, fatalmente, anestesiam cada vez mais corpos e almas. O próprio Jesus, por exemplo, vendo o nível de dependência das pessoas ao ídolo chamado dinheiro, nos alerta: ‘não podeis servir a dois senhores, a Deus e ao dinheiro. (Mt. 6,24)  Amar e adorar ao Deus de Jesus significa libertar o nosso olhar e o nosso coração de tantas amarras que não nos deixam livres de amar e proteger a nós mesmos e ao nosso próximo. Só assim podemos enxergar e reverenciar na ‘imagem’ das criaturas libertadas e respeitadas, - o nosso próximo, - o verdadeiro rosto do único Pai/Mãe de todos. (O post será publicado na coluna do Jornal do Maranhão da Arquidiocese de São Luis no próximo mês)


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