sexta-feira, 13 de outubro de 2017

OITAVA PALAVRA – ‘Não darás falso testemunho para prejudicar o seu próximo’

A oitava palavra soa como um grito proibitório dirigido a todas aquelas pessoas e instituições que utilizam qualquer tipo de meio para esconder ou manipular a verdade. Proíbe de forma direta e explícita a utilização de falsos testemunhos e depoimentos fantasiosos nos palácios de justiça e nos fóruns com o intuito de prejudicar alguém e, cinicamente, de ‘se beneficiar’. Indiretamente, a oitava palavra proíbe de lançar mão de qualquer forma de mentira e subterfúgio visando enlamear a honra e a dignidade de alguém e, assim, anulá-lo como cidadão. Para os antigos, - adeptos da tradição oral, - a palavra dada de forma pública se revestia de enorme valor. Valia o que se falava, pois não havia nem cartórios e nem escrita. Daí a importância de um cidadão não faltar com a palavra dada, não contar mentiras que podiam prejudicar o seu próximo. Nada de mais vergonhoso e covarde do que falar mentiras e alimentar fofocas nos bastidores ou no calar da noite. Tais atitudes negavam ao cidadão o direito de defesa e a possibilidade de repor a verdade. Hoje, somos convidados a encarar as muitas mentiras e manipulações que deturpam e ocultam a verdade, a única virtude que ‘nos torna livres’ como dizia Jesus de Nazaré (Jo.8,32). Falar a verdade e ser verdadeiros nos livra das nossas mesquinhas tentativas de ‘salvar a nossa pele e de tirar vantagens ilícitas’ a qualquer custo. Livra-nos dos sentimentos de impotência que experimentamos diante do monopólio dos vendedores de verdades fabricadas, - como faz a Globo, por exemplo. O intuito deles é defender os privilégios de alguns e detonar os seus rivais em nome de uma suposta liberdade de expressão! No contexto específico das dez palavras significa não somente não prestar falsos testemunhos, mas também não calar-se perante os abusos do judiciário. 
A oitava palavra proíbe que um cidadão recorra a meios adulatórios e ilícitos para agradar ou, pior, comprar uma sentença ou um depoimento que lhe seja favorável. É, enfim, não compactuar com a cultura da esperteza, e de tirar vantagem em tudo, pisando em todos. Vejamos como continuam atuais os alertas do autor do Êxodo no cap. 23, 1-2!  “Não levantarás um boato falso; não darás tua mão ao perverso para levantar um falso testemunho. 2. Não seguirás o mau exemplo da multidão. Não deporás num processo, metendo-te do lado da maioria de maneira a perverter a justiça. E continua nos versículos 6-8 ‘Não atentarás contra o direito do pobre em sua causa. 7.Abstém-te de toda palavra mentirosa. Não matarás o inocente e o justo, porque não absolverei o culpado. 8.Não aceitarás presentes, porque os presentes cegam aqueles que veem claro, e perdem as causas justas." Hoje, assistimos no nosso País, a uma vergonhosa espetacularização de variados depoimentos nas casas de justiça onde juízes, réus, advogados e mídia disputam não a verdade dos fatos, e nem as supostas provas cabais, mas a sua versão mais conveniente. Nesse jogo do vale-tudo podem ser dados depoimentos sem que haja a obrigação de falar a verdade. Negocia-se a fabricação de acusações e ‘delações premiadas’ para destruir este ou aquele acusado incômodo ou adversário político. Já para os invisíveis da sociedade nem sequer defensor público existe! Muitos cidadãos continuam sendo condenados sem provas, sem poder apresentar testemunhas de defesa, e sem chance de recorrer a outras instâncias. Muitos inocentes apodrecem em delegacias e penitenciárias de ‘segurança máxima’. Dados atualizados demonstram que no Brasil de cada 100 detentos, quando devidamente julgados, 25% são absolvidos por falta de provas ou por terem sido presos injustamente! Quem se levanta para denunciar os abusos dos que se sentem donos da verdade?  Infelizmente a ocultação da verdade nos espaços formais da justiça reflete o que se dá no cotidiano das nossas relações interpessoais e sociais. Lemos centenas de informações, mas não conseguimos discernir o verdadeiro do falso. Ouvimos boatos que lançam suspeições gravíssimas sobre este ou aquele cidadão, mas não conseguimos interromper a sua divulgação. A sua origem é desconhecida ou, talvez, é por demais conhecida, e por isso mesmo, poderosa e influente.  Chegou a hora de libertarmos a verdade cativa e ocultada!(o blogueiro escreve todos os meses no O Jornal do Maranhão da Arquidiocese de São Luis)

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