terça-feira, 14 de novembro de 2017

PARA QUEM NÃO BATEM AS PANELAS?

Em seu livro A Elite do Atraso (Casa da Palavra, Rio de Janeiro, 2017) Jessé de Souza pergunta por que as panelas não estão sendo batidas contra a corrupção institucionalizada de  Michel Temer, que além de comprar deputados e senadores perdoou dívidas fiscais bilionários de bancos e empresas de comunicação.A resposta que ele deu no livro para o silêncio das panelas - a corrupção estrutural representada por Michel Temer está no DNA do mercado que capturou o Estado e a corrupção governamental é um problema menor que foi transformado em arma política contra esquerda - é plausível. Todavia, ela não explica o silêncio das panelas dos desempregados e trabalhadores que perderam direitos sociais, trabalhistas e políticos em decorrência do golpe de 2016. Jessé de Souza credita este silêncio das panelas vazias à naturalização da exclusão social construída durante o período escravocrata, transmitida pela educação familiar e consolidada pela violência policial nos dias de hoje. Esta também é uma explicação plausível, mas há outra explicação que pode ser dada. Os brasileiros são cordiais, mas não da maneira que foi imaginada por Sérgio Buarque de Holanda (tese, aliás, criticada de forma adequada por Jessé de Souza). Eles são cordiais porque gostam de sofrer. E este gosto pelo sofrimento foi incutido nos brasileiros pelo catolicismo.
Todavia, na fase atual as lideranças católicas condenam o golpe e a martirização dos brasileiros. Quem sustenta o golpe são justamente as lideranças evangélicas que pregam uma doutrina da graça, do sucesso econômico e da ostentação material. Os católicos tem condições de mobilizar muito mais gente do que os líderes evangélicos que apoiaram o golpe. Se forem para as ruas eles facilmente irão derrotar o novo regime e revogar todas as maldades neoliberais aprovadas por Michel Temer. Eles conseguiriam até mesmo o impensável: meter a ferros os principais líderes do golpismo e do entreguismo dentro e fora do Judiciário. A politização dos católicos desembocou no golpe de 1964.  A politização dos evangélicos resultou no golpe de 2016. Neste momento a radicalização destes dois grupos religiosos tem tudo para produzir uma guerra civil diferente de todas aquelas que ocorreram em nosso país no século XX.  Caso isto realmente ocorra ricos e pobres finalmente terão a oportunidade histórica de se juntar para bater panelas vazias. (Fonte: Fabio de Oliveira Ribeiro)

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